RIO — O Complexo Industrial e Portuário de Suape aprovou a manifestação de interesse para o primeiro projeto de produção de hidrogênio verde e azul, apresentado pela Qair. Com isso, será aberto o prazo para concorrência pela área até 27 de setembro.
O arrendamento será feito por 25 anos, renovável por igual período, para produção de hidrogênio verde, azul com captura de carbono e amônia. A operação comercial da primeira fase está prevista para o quarto ano de desenvolvimento.
O edital está disponível no site do porto (anúncio público 2/2022).
O projeto foi antecipado pela agência epbr em março.
“A chegada de uma planta desse porte, além reforçar nosso compromisso com a sustentabilidade, mostra que o porto tem muito potencial para se tornar um dos mais importantes atracadouros do continente e do mundo”, afirma o diretor-presidente de Suape, Roberto Gusmão.
Interesse por hidrogênio no Porto de Suape
Essa primeira chamada é para uma área de cerca de 70 hectares fora do porto organizado.
A Qair indicou o interesse em uma segunda área, de cerca de 50 hectares, dentro do polígono de Suape, que pode ser aberta para concorrência em 2023. Duas novas chamadas estão previstas para o início e segundo semestre do ano que vem.
Além da Qair, a brasileira Casa dos Ventos apresentou um projeto ainda não publicado. E a Fortescue Future Industries (FFI), subsidiária da mineradora Fortescue Metals Group, está finalizando o atendimento a exigências para empresas estrangeiras.
A CTG Brasil, braço da China Three Gorges Corporation, também espera começar a produzir hidrogênio verde, em escala comercial, em Suape, em cerca de quatro anos.
A companhia, em parceria com o governo pernambucano e o Senai, lançou em julho o TechHub Hidrogênio Verde, para desenvolvimento de seis projetos focados na produção, transporte, armazenamento e gestão de H2V.
Projeto da Qair na 1º chamada de Suape
No escopo dessa primeira chamada, são previstas unidades de eletrólise com 1 GW de capacidade, segundo Suape, além de plantas de hidrogênio verde e azul, amônia e captura de carbono.
Todo o projeto desenhado pela Qair prevê uma ampliação para mais de 2 GW de capacidade de eletrólise, em 16 módulos de 140 MW.
A implantação será feita em fases, com início da operação no quarto ano de desenvolvimento. No cronograma original, em 2025.
A empresa prevê a instalação de um complexo para produção de hidrogênio verde, produzido a partir de eletrólise com energia de fonte renovável, que inclui uma usina de dessalinização para aproveitamento da água do mar.
A energia será gerada em parques eólicos e solares fotovoltaicos próprios. Atualmente, a companhia desenvolve parques eólicos, inclusive integrados com solar, no Ceará e Rio Grande do Norte, totalizando mais de 420 MW de capacidade.
Para o futuro, licencia o parque eólico offshore Dragão do Mar (1,2 GW) na costa do Ceará, onde também estuda a implantação de uma unidade produtora de hidrogênio verde, no Porto do Pecém.
Além do hidrogênio verde, a Qair prevê a construção no Suape de duas unidades de hidrogênio azul, a partir da reforma de gás natural com captura de carbono, com pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês).
Além do acesso à malha integrada de transporte de gás natural, operada no Nordeste pela TAG, Suape pretende atrair um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL). Oncorp, Compass e New Fortress Energy (NEF) se interessaram pelo projeto.
A partir do suprimento de hidrogênio de baixo carbono, o plano da Qair é investir na conversão para amônia líquida, uma forma de embarcar o hidrogênio para o mercado externo, alvo de diversos polos em desenvolvimento no Brasil.
Distribuidoras de gás se aproximam de produtores de hidrogênio
As distribuidoras estaduais de gás do Ceará (Cegás), e de Pernambuco (Copergás) já estão de olho no desenvolvimento da indústria de hidrogênio de baixo carbono nos estados. Ambas companhias estudam parcerias com empresas que já demonstraram interesse na produção de hidrogênio verde e azul nos portos do Pecém (CE) e no Suape (PE).
A estratégia da Qair, por exemplo, é fornecer hidrogênio verde para injeção nas redes da Cegás e Copergás, e ao mesmo tempo ser compradora de gás natural dessas companhias para produção de hidrogênio azul.
“Ambas as plantas, de Suape e Pecém, deverão ter unidades industriais de produção de hidrogênio azul, mas o fornecedor ainda não foi decidido. Isso só deve acontecer em 2024, mas a Copergás, logicamente, é um provável fornecedor forte, como a Cegás em Pecém”, disse o diretor de operações da Qair no Brasil, Gustavo Silva, à agência epbr, em abril.
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Atualmente, a companhia francesa está desenvolvendo um projeto piloto, ao lado de Suape e da Copergás, para produção de hidrogênio verde. A ideia é que o produto seja injetado na rede.
Objetivo é identificar consumidores e se o melhor modelo é trabalhar com a mistura de hidrogênio com gás natural na rede existente ou investir em dutos dedicados.
Já no Ceará, a Qair possui um memorando de entendimento que prevê mais de R$ 32 bilhões na instalação do parque eólico offshore Dragão do Mar, em licenciamento no Ibama.
O empreendimento será associado a uma planta de produção de hidrogênio verde no Pecém, que usará energia do complexo eólico.