Gás Natural

ATGás processa diretor da ANP, contra acordo pelo gasoduto Subida da Serra

Associação entra com mandado de segurança contra Fernando Moura, para interromper negociação com Arsesp pela reclassificação do duto

ATGás processa diretor da ANP, Fernando Moura [na foto], contra acordo pelo gasoduto Subida da Serra, da Comgás (Foto: Pedro França/Agência Senado)
Na ação aberta na Justiça Federal, a ATGás argumenta que Fernando Moura [na foto] contraria decisões da agência e posições da área técnica de forma "monocrática e desmotivada" (Foto: Pedro França/Agência Senado)

RIO — A Associação dos Transportadores de Gás (ATGás) entrou com um mandado de segurança contra o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Fernando Moura. O objetivo é interromper a negociação pela reclassificação do gasoduto Subida da Serra, da Comgás — controlada pela Compass.

Moura é responsável pela área de gás natural da agência. Após assumir o cargo, em junho, o diretor formalizou uma proposta de acordo com a Agência Reguladora de Serviços Públicos de São Paulo (Arsesp), sobre a classificação do gasoduto.

Relembre: Em 2021, antes da nomeação de Fernando Moura, a diretoria da ANP decidiu que o projeto Subida da Serra deveria ser classificado como de transporte, em conflito com o entendimento da Arsesp — que incorporou o gasoduto à base de ativos da distribuidora Comgás, em São Paulo.

A Constituição dá poderes aos estados para regular sobre a distribuição, enquanto a União regula o transporte.

A ATGás pede há quase dois anos que a ANP tome medidas para impedir as obras do gasoduto. A agência, porém, nunca atendeu ao pleito.

O Subida da Serra é um gasoduto que compõe o projeto Reforço Metropolitano. Passou a fazer parte da concessão da Comgás em 2021, quando o governo paulista e a distribuidora celebraram um acordo para renovação antecipada da concessão, de 2029 até 2049.

Em jogo, está a disputa pela titularidade e sob quais regras de uso o gasoduto vai operar. Existe um projeto de transporte, da NTS, com o mesmo objetivo de interligar a Região Metropolitana de São Paulo à Baixada Santista.

Atuação “monocrática” no Subida da Serra, diz ATGás

Na ação aberta na Justiça Federal, a ATGás argumenta que Fernando Moura contraria decisões da agência e posições da área técnica de forma “monocrática e desmotivada”.

“(…) não há dúvidas de que o gasoduto Subida da Serra será sempre um duto de transporte. Essa classificação decorre de lei, pacificada no setor e, por isso, foi a decisão da diretoria colegiada no caso concreto”, diz a ação.

Argumenta também que não caberia a um diretor abrir uma negociação que contraria uma decisão anterior do colegiado.

No momento, ainda não existe por parte da ANP uma proposta final de acordo. Moura afirma que a intenção é publicar uma minuta dos termos finais para consulta pública.

Internamente, falta unanimidade na diretoria da ANP em relação à mudança de posição, segundo apurou a epbr.

Quando decidiu por classificar o Subida da Serra como um gasoduto de transporte, o colegiado da ANP era formado pelo atual diretor-geral, Henrique Saboia, e a atual diretora Symone Araújo, além de Dirceu Amorelli, Raphael Moura e José Cesário Cecchi — que já não fazem mais parte do quadro de diretores.

Cecchi, o relator da matéria, aliás, deixou a diretoria da agência em outubro de 2021 e atua hoje como consultor. Presta serviços para a NTS.

Fernando Moura, Daniel Maia e Claudio Jorge da Silva — colegas de Saboia e Araújo, no colegiado — foram nomeados apenas este ano.

O diretor Fernando Moura, a Arsesp e a Compass preferiram não se manifestar até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.

Arsesp considera decisão da ANP ilegal

Críticos ao projeto temem a formação de uma “ilha do gás”. Essa posição já foi manifestada por órgãos do governo federal, além dos agentes contrários ao projeto da Comgás.

O Ministério da Economia chegou a se manifestar contra o Subida da Serra, na revisão do contrato da distribuidora da Compass.

“O gasoduto em questão tem capacidade para movimentar 16 milhões m³/dia de gás natural, que é o equivalente a aproximadamente 34,5% da produção nacional do gás natural disponibilizada ao mercado”, diz a ATGás na ação.

“Dessa forma, expressivo volume de gás natural ficará restrito à rede de distribuição da Comgás, impactando o principal objetivo do Novo Mercado de Gás, que é a ampliação da oferta por meio da expansão da rede de transporte e do fortalecimento do mercado organizado de gás natural”, argumenta.

Ano passado, a Arsesp afirmou à ANP que alterar a classificação do gasoduto Subida da Serra seria uma afronta à Constituição, ao pacto federativo e à segurança jurídica.

Classificou a decisão da diretoria da agência nacional de “viciada” e “sem chance para o contraditório”.

Cita que a decisão da ANP atende ao interesse das transportadoras TAG, NTS e TBG.

“Entende-se a preocupação externada na denúncia formatada pela entidade que representa as 3 (três) grandes transportadoras que detêm o monopólio do transporte de gás, não querendo perder seu maior cliente”, disse na época.

A disputa divide o mercado de gás natural.

Consumidores representados Abrace (grandes consumidores de energia), além de outras entidades industriais e o próprio governo federal têm atuado desde a renovação de contratos da Comgás para evitar a construção do Subida da Serra enquanto instalação de distribuição.

A Abrace afirma estar de acordo com o posicionamento da ATGás, mas esclareceu que o ingresso em qualquer medida judicial depende de decisão do conselho da entidade.

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