Gás Natural

Uma nova chance para o gasoduto Meio-Norte

Vêm aí os gasodutos da lei de privatização da Eletrobras

Uma nova chance para o gasoduto Meio-Norte. Na imagem, dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)
Dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Leilão das térmicas da Lei da Eletrobras ressuscita gasoduto Meio-Norte. Em outra frente, projeto quer levar gás de Pecém ao Maranhão por barcaças. Eneva mira expansão do complexo Azulão no leilão de setembro.

Os planos da 3R para o gás de Peroá. A disputa entre Petrobras e PetroReconcavo em contrato de swap. Bolívia mira novos clientes no Brasil. Privatização da ESGás em debate. E Aneel revoga usinas da Karpowership.

O primeiro leilão das termelétricas compulsórias previstas na lei de privatização da Eletrobras traz uma nova oportunidade para tirar o gasoduto Meio-Norte do papel. De quebra, pode viabilizar também o início das operações da Gaspisa, a distribuidora de gás canalizado do Piauí.

— Tudo dependerá do sucesso ou não da UTE Nossa Senhora da Vitória (165 MW), que reúne, num só projeto, a Shell (fornecedora do gás) e a Termogás, do empresário Carlos Suarez, no lado da infraestrutura.

— O gasoduto Meio-Norte, de 948 km de extensão, liga Pecém (CE) a São Luís (MA), cortando Teresina (PI). É um projeto antigo da Termogás que permitirá conectar Maranhão e Piauí à malha nacional. O empreendimento recebeu autorização da ANP em 2006, mas nunca conseguiu se viabilizar financeiramente.

— Agora, ganha uma nova chance por meio da UTE Nossa Senhora da Vitória, um projeto da Ponte Nova Energia — mesma empresa que desenhou Portocém (1,6 GW), em Pecém, negociado pela Ceiba Energy no leilão de dezembro de 2021.

— O terminal de gás natural liquefeito (GNL) de Portocém, aliás, é a fonte de suprimento da usina de Teresina. A Shell, fornecedora de gás da térmica cearense, tem um termo de compromisso assinado para abastecimento também da UTE Nossa Senhora da Vitória.

— Se a usina for bem-sucedida no leilão de setembro, a multinacional entregará, por 15 anos, cerca de 715 mil m3/dia à termelétrica do Piauí — que funcionaria como cliente âncora para o gasoduto Meio-Norte, cujo projeto original tem capacidade para 5 milhões de m3/dia, ou seja, sete vezes mais que a demanda da UTE Nossa Senhora da Vitória.

— A UTE também pode marcar a estreia das operações da Gaspisa, distribuidora controlada pelo Estado do Piauí e que como sócia… a Termogás

GÁS DA SHELL POR CABOTAGEM

Em outra frente, sem considerar a construção do Meio-Norte, a Ponte Nova tenta viabilizar um segundo projeto no leilão de setembro: a UTE São Judas Tadeu (300 MW), em Bacabeira (MA). A usina foi concebida para ser abastecida por GNL da Shell, oriundo do terminal de Pecém (CE). A ideia é que o gás seja transportado por 800 km, do Ceará até o Porto de Mearim (MA), por meio de barcaças operadas pela CDGN.

— A Shell tem um termo de compromisso assinado para fornecimento de 1,325 milhão de m3/dia. Do porto maranhense, o gás será enviado até a usina por um gasoduto de 10 km.

ENEVA MIRA EXPANSÃO DE AZULÃO

Com reservas de gás nacional, no Amazonas, a empresa é uma das favoritas do leilão. A companhia já sinalizou o interesse de negociar os projetos Azulão 2 (295 MW) e Azulão 3 (320 MW) — que permitiriam aumentar a capacidade do complexo termelétrico local para 1 GW.

— A empresa fez descobertas recentes nas proximidades da concessão de Azulão, dentre as quais Anebá, a 50 km de distância da planta de liquefação do complexo. O plano é começar reinjetando o gás local, para acelerar a produção de óleo. Mas no futuro a ideia é conectar Anebá e Azulão e produzir, assim, até 3 milhões de m3/dia com os novos recursos.

— Além do Amazonas, a Eneva mira oportunidades de novas térmicas no Maranhão. O plano estratégico da companhia para 2030, inclusive, cita os leilões das térmicas da lei de privatização da Eletrobras como uma oportunidade para novos projetos em São Luís.

— A Eneva tem planos de investir R$ 1 bilhão no projeto de um terminal de GNL no Maranhão, de 21 milhões de m3/dia; e R$ 2 bilhões num gasoduto de 300 km de extensão para conectar a futura planta de regaseificação de São Luís ao complexo Parnaíba.

Procuradas, Shell e Eneva preferiram não comentar sobre os projetos citados nesta edição

EMPRESAS PEDEM REVISÃO DE REGRAS

Ao todo, foram cadastrados 37 projetos, totalizando cerca de 12 GW. A licitação de setembro se dedicará a contratar 1 GW na região Norte, para início de suprimento em 31 de dezembro de 2026; e 300 MW no Maranhão e 700 MW no Piauí, para 31 de dezembro de 2027.

— As regras da licitação dão preferência à contratação de termelétricas que consumam gás nacional. Empreendimentos a base de GNL terão, ainda, um desafio extra: conseguir se viabilizar diante do cenário de alta dos preços internacionais da commodity.

— Algumas empresas pediram à Aneel a revisão do preço de referência da licitação — definido como o preço-teto para a geração a gás do Leilão A-6, de 2019, atualizado.

— Durante consulta pública sobre as regras do leilão, a EDP, por exemplo, defendeu a revisão desse ponto como “indispensável”, ao citar os reflexos da Guerra da Ucrânia e da retomada do crescimento econômico global sobre os preços do gás. A Evolution Power Partners (EPP) acrescentou que, ao focar em projetos localizados em regiões não atendidas por gás, o leilão demanda custos de infraestrutura maiores.

— Entidades ligadas aos consumidores, como o Idec e a Abrace, por sua vez, contestam a necessidade de realização do leilão.

Acompanhe a nossa cobertura sobre os avanços do Novo Mercado de Gás: eixos.com.br/gas

O GÁS NA SEMANA

Os planos da 3R para o gás de Peroá

Ao assumir a operação do ativo, na Bacia do Espírito Santo, a empresa incorpora cerca de 455 mil m³/dia de gás ao seu portfólio. Mas os volumes já têm destino: a Petrobras, antiga dona do polo. O acordo prevê cláusulas de saída que permitem à 3R buscar novas formas de monetização. O preço negociado com a Petrobras, contudo, é visto internamente como satisfatório pela petroleira independente. Para o futuro, uma das alternativas em estudo é destinar o gás para a geração termelétrica.

Dores do crescimento

Petrobras notificou a PetroReconcavo sobre divergências em relação aos créditos obtidos dos líquidos de gás natural (LGN ou condensado) — previstos no contrato de swap para a venda do gás produzido nos Polos Remanso e Miranga e processado na Unidade de Tratamento de Catu (BA). A PetroReconcavo reconheceu um impacto de R$ 53 milhões nas receitas do 2º trimestre, relativo à disputa.

Bolívia mira novos clientes no Brasil

A YPFB e a Petrobras assinaram um novo aditivo contratual que livra a boliviana das multas pela redução do envio de gás ao mercado brasileiro em 2022. Na prática, o acordo dá uma segurança maior para que os bolivianos continuem a vender gás à Argentina durante o inverno e busquem novos clientes no Brasil, dispostos a pagar mais que a Petrobras pelo insumo importado. Tradener e CDGN já têm contratos com YPFB e buscam clientes para o gás da Bolívia na modalidade interruptível.

Privatização da ESGás em debate

Está marcada para 24 de agosto a audiência pública para liquidação da distribuidora capixaba. O governo de Renato Casagrande (PSB) e a Vibra (ex-BR Distribuidora) querem vender, em conjunto, a totalidade das ações da ESGás.

É mais um movimento dentro do novo desenho do mercado de distribuição — que passa por transformações após a saída da Petrobras do setor. Em um ano, a Compass adquiriu o controle da Sulgás (RS), privatizada pelo governo de Eduardo Leite (PSDB);  e da Gaspetro, da Petrobras. AL, BA, CE, PB e o DF, por sua vez, exerceram o direito de preferência por ações detidas pela Gaspetro em suas respectivas concessionárias estaduais, enquanto a Termogás comprou uma fatia da CEBGás.

Aneel revoga térmicas da Karpowership

A diretoria colegiada da agência negou os apelos da KPS. Revogou as autorizações para as quatro térmicas flutuantes a gás da Baía de Sepetiba (RJ), contratadas no leilão da crise energética de 2021. As unidades deveriam ter entrado em operação no dia 1º de maio de 2022, com margem até agosto.