Diálogos da Transição

Pacote para clima passa no Senado dos EUA; e UE fecha acordo para corte no consumo de gás

Projeto de lei destina US$ 430 bi para cortar emissões de CO2, reduzir custos de medicamentos e aumentar impostos corporativos

Pacote para clima passa no Senado dos EUA. Na imagem, O presidente Joe Biden testa o carro elétrico Hummer EV durante visita à fábrica de montagem de veículos elétricos zero emissões da General Motors Factory, em Detroit (Foto: Adam Schultz/White House)
Inflation Reduction Act destina bilhões para alavancar indústria doméstica de baixa emissão (Foto: Adam Schultz/White House)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição está de volta, de 29/8 a 2/9
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O Senado dos Estados Unidos aprovou neste fim de semana o projeto de lei que destina algumas centenas de bilhões de dólares para transição energética e combate à mudança do clima.

Ao todo, o Inflation Reduction Act prevê a aplicação de US$ 430 bilhões em iniciativas para cortar emissões de carbono, reduzir custos de medicamentos para idosos e aumentar impostos corporativos.

A votação no Senado foi acirrada: 51 a 50, com o voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris. Agora o projeto vai para a Câmara dos Deputados, de maioria Democrata, onde deve ser aprovado na sexta e seguir para sanção de Joe Biden. Reuters

“O maior investimento de todos os tempos no combate à crise climática”, classificou Biden.

Segundo o executivo, a nova legislação aborda a crise climática e fortalece a segurança energética, já que um dos objetivos é criar empregos na fabricação de painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos nos Estados Unidos – fazendo frente à concorrência chinesa.

“Finalmente, paga por tudo isso estabelecendo um imposto corporativo mínimo para que nossas corporações mais ricas comecem a pagar sua parte justa. Não aumenta os impostos sobre aqueles que ganham menos de US$ 400 mil por ano”, disse em comunicado.

As propostas para energia e clima, em resumo:

  • Diminuir os custos de energia por meio de políticas de contenção dos preços de combustíveis e eletricidade, ajudando os consumidores a adquirir tecnologias que reduzem as emissões e têm maior eficiência;

  • Aumentar a segurança energética com políticas de apoio à confiabilidade energética e produção mais limpa, com investimentos na fabricação de energia limpa para diminuir a dependência da China, garantindo que a transição crie milhões de empregos e seja alimentada por tecnologias domésticas;

  • Investir na descarbonização de todos os setores da economia por meio de apoio federal direcionado a soluções climáticas inovadoras;

  • Concentrar investimentos em comunidades desfavorecidas para garantir que elas compartilhem os benefícios da transição para uma economia limpa;

  • Apoiar comunidades rurais resilientes, investindo em agricultores e proprietários de florestas para fazer parte de soluções climáticas e garantindo que as comunidades rurais possam se adaptar melhor a um clima em rápida mudança.

A indústria fóssil também entrou no pacote

Estão previstas expansões de créditos para captura e armazenamento de carbono de grandes usinas, o que permitiria às instalações de combustíveis fósseis continuarem funcionando desde que capturem 75% ou mais de sua produção de carbono.

E ainda:

  • Taxar as emissões de metano da indústria de petróleo e gás, juntamente com mais de US$ 1,5 bilhão em incentivos para que os produtores instalem novas tecnologias que ajudem a reduzir essas emissões.

  • A continuidade dos leilões de petróleo offshore e onshore nos próximos anos

  • Extensão permanente do imposto sobre o consumo de carvão para financiar um fundo de auxílio aos mineiros com doenças pulmonares.

Para aprofundar: O que diz o projeto de lei para transição nos EUA

Crise do gás na Europa

Na sexta (5/8) o Conselho da União Europeia formalizou seu plano para reduzir voluntariamente o consumo de gás em 15% até 31 de março de 2023.

Inicialmente, o plano será voluntário, mas o texto prevê que o Conselho da UE possa lançar um “alerta” de segurança na estocagem, o que tornaria obrigatória a redução da demanda. Apenas Hungria e Polônia votaram contra o acordo.

O texto ainda abre espaço para a meta de redução no consumo de gás passar de 15% para 7% caso o país cumpra alguns requisitos técnicos que demonstrem sua dependência energética em relação a essa commodity. Ansa

É uma resposta à crise de abastecimento causada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia e que deve aumentar o consumo de carvão – combustível mais poluente para geração de energia.

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) estima um aumento de 7% no consumo de carvão pela Europa em 2022 – após um salto de 14% no ano passado.

Isso porque vários países da UE estão estendendo a vida útil das usinas de carvão programadas para fechamento, reabrindo usinas fechadas ou aumentando os limites de suas horas de operação para reduzir o consumo de gás. O bloco representa cerca de 5% do consumo global de carvão.

Transição ameaçada

Uma análise do Boston Consulting Group alerta que o fornecimento de energia seguro, com custo acessível e o mínimo impacto ambiental está se tornando mais difícil para empresas e governos, com riscos de atrasar os esforços de transição.

Entre os desafios elencados pela consultoria está o fornecimento de energia, até aqui insuficiente.

“Os investimentos para aumentar a produção de petróleo e gás têm sido muito baixos nos últimos anos, mesmo que o pico de demanda esteja próximo. A crescente importância da segurança energética e a necessidade de reforçar as cadeias de abastecimento exigem um nível de investimento em energia não visto desde 2007”, dizem os analistas.

Eles destacam que as novas tecnologias também não receberam financiamento suficiente e precisam crescer substancialmente para manter de pé a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até 2100.

“Cerca de US$ 800 milhões foram gastos nessas [novas] tecnologias nos primeiros quatro meses de 2022; nos últimos quatro anos, foram gastos aproximadamente US$ 400 milhões. Embora este seja um nível impressionante de crescimento, ainda está muito aquém do investimento anual total de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões necessários para financiar a transição energética”.

Países ricos precisam investir mais em captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio e armazenamento de energia, completa a análise.

Além do carvão, a energia nuclear também está de volta

“Mesmo antes da guerra na Ucrânia, a energia nuclear estava passando por um renascimento, principalmente no mundo em desenvolvimento”, comenta o BCG.

A energia nuclear ganhou o status de limpa na taxonomia verde da União Europeia e o Reino Unido a incluiu em sua recém lançada Estratégia de Segurança Energética. Também terá créditos no Inflation Reduction Act dos EUA.

“Dado o crescente interesse em uma carga de base de baixo carbono que não esteja vinculada ao fornecimento de hidrocarbonetos, as tecnologias nucleares, especialmente as novas, como pequenos reatores modulares, provavelmente assumirão uma participação maior na matriz energética”.

R$ 31 milhões para eficiência

A Energisa está selecionando projetos para economia de energia em nove estados brasileiros. Estão disponíveis R$ 31 milhões que poderão ser direcionados às infraestruturas de iluminação pública, organizações sociais, empresas e órgãos do poder público.

Podem participar os clientes das distribuidoras do grupo nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Paraná, Sergipe, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Acre e Rondônia. As regras serão apresentadas em uma live no dia 10 de agosto, pela plataforma Teams, às 10h30.

Para a agenda

9/8 — As iniciativas do setor bancário nas áreas de cidadania financeira, agenda climática, diversidade, equidade e governança serão temas-chave do Febraban Tech 2022, de 9 a 11 de agosto na Bienal de São Paulo, no Parque do Ibirapuera. As inscrições para o encontro estão abertas no site do evento. Na página, é possível conferir a programação completa e a lista de todos os palestrantes confirmados.

10/8 — O primeiro Encontro Latinoamericano pelo Ar Limpo ocorre entre os dias 10 e 12 de agosto, em Bogotá, na Colômbia, com organizações de diversos países do continente. O primeiro dia de discussões é aberto ao público e contará com transmissão online nos canais das organizações participantes. Inscrições podem ser feitas no link.

16/8 — O Platts Rio Energy Forum reunirá especialistas para discutir “Transição energética, incerteza geopolítica e os impactos no mercado de energia do Brasil”, no Belmond Copacabana Palace, das 8h30 às 18h30. Inscrições e informações no link.

23/8 — Autoridades, especialistas e players do mercado de energias limpas e renováveis se reúnem para debater as oportunidades e desafios do setor no The smarter E South America, evento latino-americano de inovação voltado à nova realidade energética, que ocorre entre os dias 23 e 25 de agosto no Expo Center Norte, em São Paulo. Informações podem ser consultadas através do site www.ThesmarterE.com.br.

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