RECIFE — As empresas Swift e Seara, que fazem parte do grupo JBS no Brasil, anunciaram que irão adquirir parte da energia produzida pela usina fotovoltaica (UFV) Âmbar Saltinho, no interior de São Paulo, inaugurada no dia 14 de julho. O empreendimento pertence à Âmbar Energia, empresa de soluções em energia do grupo J&F.
De acordo com a JBS, a energia fornecida pelas usinas suprirá as demandas dos clientes, entre eles a Swift e produtores integrados da Seara. Com a implementação, o sistema deve evitar a emissão de 12,193 toneladas de CO₂ na atmosfera.
O consumo de energia renovável pelas operações das duas marcas faz parte dos planos da JBS de se tornar neutra em emissões em 2040. Dentro desta estratégia, a Swift tem como meta fazer com que 100% de suas lojas sejam abastecidas por fonte renovável até 2025.
“Em linha com a estratégia Net Zero 2040 da JBS, a Swift tem implementado uma série de iniciativas na área de sustentabilidade, como vans com painéis solares (que vendem produtos da marca em condomínios) e sistemas fotovoltaicos nos telhados de nossas lojas”, afirma o CFO e responsável pelos programas de Sustentabilidade da Swift, Raphael Jacob.
Atualmente, 65 lojas da Swift já são atendidas por energia solar.
Já no caso da Seara, a compra de energia da UFV Saltinho tem como objetivo reduzir as suas emissões escopo 3 (indiretas), por meio do fornecimento de energia limpa e renovável para os seus integrados.
A energia produzida pela usina será consumida pelos integrados da marca na região das cidades de Amparo e Nuporanga, também no interior de São Paulo. A expectativa é de que a iniciativa reduza em 20% a conta de luz das instalações.
Com um investimento de R$ 23 milhões, a UFV Saltinho é composta por quatro usinas com 9.408 placas fotovoltaicas, com potência de 5.174 kWp e tornou-se a primeira usina inaugurada pela Âmbar. A empresa também passou a investir na construção de micro usinas em propriedades dos próprios clientes, entre eles os telhados das lojas Swift.
Desmatamento na carne
Com metas de emissões líquidas zero e programas para controle de sua cadeia de fornecedores, a empresa brasileira de alimentos tem pela frente o desafio de desvincular sua produção do desmatamento ilegal.
Relatório divulgado pela Global Witness no dia 23 de junho afirma que, em 2020, a JBS comprou gado de 144 fazendas no estado do Pará, que continham uma área equivalente a mais de 10 mil campos de futebol de desmatamento ilegal na Amazônia.
A reportagem Cash Cow também menciona a relação entre a grilagem de terras, trabalho escravo e lavagem de gado nas fazendas de um dos fornecedores da JBS no estado do Pará, a família Seronni.
Ainda segundo o documento, o italiano Gruppo Mastrotto comprou couro do curtume da JBS no estado do Pará, também ligado ao desmatamento ilegal, trabalho escravo, grilagem de terras e lavagem de gado. A empresa italiana vende couro para fabricantes de automóveis como o Grupo Volkswagen e Toyota e para a produtora de móveis Ikea.
“A Amazônia é a maior floresta tropical remanescente de clima crítico do mundo, mas está sendo devastada a taxas alarmantes, possibilitada por agronegócios destruidores de florestas como a JBS, sustentada pelas empresas e bancos que fazem negócios com eles. Enquanto eles obtêm grandes lucros, as comunidades locais sofrem e os pulmões do planeta continuam sendo dizimados”, afirmou Chris Moye, chefe interino de investigações florestais da Global Witness.
Em nota, a JBS comunicou que tem uma política de tolerância zero para desmatamento ilegal, grilagem de terras, trabalho escravo ou desrespeito aos direitos humanos associados às cadeias de fornecimento da companhia, em respeito à Política de Compra Responsável de Matéria-Prima da empresa e ao Protocolo de Monitoramento do Ministério Público Federal.
No comunicado, a empresa ainda afirma que sempre que práticas ilegais são observadas, ou trazidas ao seu conhecimento, a companhia bloqueia os envolvidos e que, atualmente, 15 mil produtores estão bloqueados por desrespeitarem os critérios socioambientais da empresa.
“No que se refere aos 144 fornecedores da JBS citados no levantamento, a Companhia analisou todas as compras realizadas e comprovou que estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos. No caso do Sr. Seronni, o próprio e seus familiares foram bloqueados assim que as denúncias de práticas ilegais foram informadas à JBS. Além disso, com base na Lei de Acesso à Informação, requisitamos acesso às GTAs relacionadas a esses produtores, o que nos daria visibilidade completa sobre as transações realizadas. Porém, ainda não tivemos retorno, apesar de o prazo legal já ter expirado”, finaliza a nota.
Promessas com baixa integridade
Um levantamento do NewClimate Institute descobriu que as promessas climáticas de 25 das maiores empresas do mundo vão reduzir, em média, apenas 40% de suas emissões, e não 100%, como sugerido pelos compromissos “zero líquido” e “neutro de carbono” até 2050.
O Monitor de Responsabilidade Climática Corporativa avalia 25 grandes empresas — operando em diferentes setores e países — para determinar a transparência e integridade de seus principais compromissos climáticos.
Apenas o compromisso zero líquido de uma empresa foi avaliado com “integridade razoável”; três com “moderado”, dez com “baixo” e os 12 restantes foram classificados com integridade “muito baixa”.
“À medida que aumenta a pressão sobre as empresas para agir sobre as mudanças climáticas, suas manchetes ambiciosas muitas vezes carecem de substância real, o que pode enganar tanto os consumidores quanto os reguladores”, comenta Thomas Day, do NewClimate Institute, um dos autores do estudo.
Segundo o especialista, mesmo as empresas que estão indo relativamente bem exageram suas ações.
Na classificação, a Maersk é a única com integridade razoável, seguida pela Apple, Sony e Vodafone com integridade moderada.
Já as principais promessas da Amazon, Deutsche Telekom, Enel, GlaxoSmithKline, Google, Hitachi, IKEA, Vale, Volkswagen e Walmart têm baixa integridade.
As da Accenture, BMW Group, Carrefour, CVS Health, Deutsche Post DHL, E.ON SE, JBS, Nestlé, Novartis, Saint-Gobain e Unilever têm integridade muito baixa.
“Muitas promessas são prejudicadas por planos contenciosos para reduzir emissões em outros lugares, informações críticas ocultas e truques contábeis”, explica o documento.