Diálogos da Transição

Quase um Rio de Janeiro a menos: o saldo do desmatamento em três anos

Em 2021, houve aumento de 20% na perda de cobertura vegetal em todos os biomas em relação ao ano anterior

Desmatamento no Brasil: Em 2021, houve aumento de 20% na perda de cobertura vegetal em todos os biomas em relação ao ano anterior. Na imagem, Jair Bolsonaro em cerimônia de entrega de Títulos de Propriedade Rural no Pará (Foto: Isac Nóbrega/PR)
Jair Bolsonaro em cerimônia de entrega de Títulos de Propriedade Rural no Pará, estado com maior área desmatada em 2021 (Foto: Isac Nóbrega/PR)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em agosto.
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Desde o início da gestão Bolsonaro, em 2019, até o final do ano passado, o Brasil perdeu 42.517 km² em vegetação nativa, ou quase um estado do Rio de Janeiro (que tem 43.696 km²), mostra o mais recente Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), do MapBiomas.

Somente no ano passado, houve um aumento de 20% em relação a 2020 na perda de cobertura vegetal em todos os biomas, com 16.557 km² de desmatamento.

Também aumentou a velocidade de destruição no país. Com uma média diária de 191 novos eventos, a área de desmatamento foi de 189 hectares por hora, ou “um Maracanã a cada dois minutos”, calcula a organização.

Somente na Amazônia foram 111,6 hectares desmatados por hora ou 1,9 hectare por minuto, o que equivale a cerca de 18 árvores por segundo.

O estudo, que refinou e validou 69.796 alertas de desmatamento em 2021 em todo o território nacional, avaliou individualmente cada evento de desmatamento cruzando com dados de áreas protegidas, autorizações e cadastro ambiental rural (CAR) e encontrou indícios de irregularidades em mais de 98% dos casos.

Apenas em 1,34% dos alertas (que correspondem a 0,87% do total desmatado) não foram encontrados indícios ou evidências de irregularidades.

O percentual de irregularidade está em linha com os 99% detectados nos relatórios de 2019 e 2020, destaca o Mapbiomas. Veja o relatório (.pdf)

“Para resolver o problema da ilegalidade é necessário atacar a impunidade — o risco de ser penalizado e responsabilizado pela destruição ilegal da vegetação nativa precisa ser real e devidamente percebido pelos infratores ambientais”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

“Para isso, é preciso atuar em três frentes, assegurando que: todo desmatamento seja detectado e reportado; todo desmatamento ilegal receba ação de responsabilização e punição dos infratores; o infrator não se beneficie da área desmatada ilegalmente e receba algum tipo de penalização (restrições de crédito, pendência do CAR, impedimento de regularização fundiária, exclusão de cadeias produtivas)”.

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O desmatamento em 2021:

  • Amazônia concentrou 59% da área desmatada em 2021 e 66,8% dos alertas de desmatamento: Foram mais de 977 mil hectares de vegetação nativa destruídos no ano passado – um crescimento de quase 15% em relação aos 851 mil hectares desmatados em 2020 que, por sua vez, já haviam representado um aumento de 10% em relação aos 771 mil hectares de desmate em 2019.

  • Amazônia e Cerrado representaram 89,2% da área desmatada detectada em 2021. Quando somada a Caatinga, os três biomas responderam por 96,2% das perdas.

  • Cinco estados responderam por 67% da área desmatada: De cada quatro hectares desmatados no Brasil em 2021, um foi no Pará, onde o desmate alcançou 402.492 ha (24,3% do total). O Amazonas, que era o quarto no ranking em 2020, apareceu agora em segundo lugar, com 194.485 ha (11,8% do total). Mato Grosso em terceiro, com perda de 189.880 ha (11,5%), seguido do Maranhão (10,1%) e Bahia (9,2%).

  • Treze estados superaram a marca de 1.000 alertas de desmatamento em 2021; em 2020, foram 11 estados, e em 2019, 10 estados. Houve crescimento da área desmatada em 20 estados, ficando estável em dois (TO e RR) e caindo em apenas cinco (AL, SC, ES, RJ e AP).

  • Quase um quarto (23,6%) do desmate no Brasil fica no Matopiba: a região, que também ficou conhecida como “nova fronteira agrícola do Brasil”, registrou um aumento de 14% da área desmatada em relação a 2020.

  • Desmatamento é maior em áreas privadas: 69,5% de toda a área desmatada em 2021 estavam em propriedades privadas, incluindo 14,1% em assentamentos rurais. Outros 10,6% recaíram sobre glebas públicas, sendo 9,3% em terras públicas não destinadas. O desmatamento em áreas protegidas respondeu por 5,3% do total, sendo 1,7% nas Terras Indígenas e 3,6% nas Unidades de Conservação.

  • Embargo para a soja

    Um dos principais produtos agrícolas do Brasil, a soja caminha para receber o mesmo tratamento do óleo de palma na União Europeia.

    Na semana passada, o comitê de indústria do Parlamento Europeu votou para restringir o óleo de soja como matéria-prima para a produção de biocombustíveis, devido a preocupações com o impacto ambiental do cultivo de soja em países fora da Europa.

    Atualmente, cerca de 73% da soja utilizada na produção de biodiesel do bloco é importada da América do Sul, de acordo com dados do Transport & Environment (T&E).

    Os legisladores também querem antecipar o início da data de eliminação dos óleos de palma e soja – atualmente fixada em 2030 – para aplicar assim que a diretiva entrar em vigor, possivelmente a partir do próximo ano.

    “Nós excluímos a soja porque temos nossas dúvidas sobre as condições sustentáveis ​​em que países do terceiro mundo a entregam para a Europa”, disse Markus Pieper, deputado alemão de centro-direita que conduziu a legislação proposta no Parlamento.

    A posição do comitê ainda precisa ser aprovada pelo plenário do Parlamento Europeu em votação prevista para setembro. Euractiv

    Nessa mesma atualização de diretiva, os eurodeputados também apoiaram o aumento da parcela de biocombustíveis avançados e biometano no setor de transporte para pelo menos 0,5% até 2025 e 2,2% até 2030.

    Além de uma meta intermediária de aumento na parcela de combustíveis renováveis ​​de origem não biológica, como o hidrogênio, para pelo menos 2,6%, e a introdução de um mecanismo de crédito para incentivar a oferta de eletricidade renovável nos postos públicos de carregamento de veículos elétricos.

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