RIO — A Petrobras abriu nesta terça-feira (19/7) uma consulta formal ao mercado, para avaliar o interesse de empresas em adquirir terrenos de propriedade da companhia em Itaboraí (RJ) — onde se encontram os esqueletos do projeto inacabado do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
A estatal possui 2,1 km² disponíveis para potencial negociação, de uma área total terraplanada com cerca de 3 km². A partir das manifestações de interesse, a Petrobras vai avaliar os modelos de maior potencial para a oferta dos terrenos disponíveis.
Atualmente, a empresa está construindo na região o Polo GasLub – que receberá o Projeto Integrado Rota 3. O empreendimento envolve um gasoduto e infraestrutura de processamento com capacidade para 21 milhões de m³/dia de gás natural do pré-sal da Bacia de Santos.
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A Petrobras também avalia a construção de uma termelétrica na região e a integração dos ativos do Polo GasLub à refinaria Reduc, em Duque de Caxias (RJ), para a produção de óleos lubrificantes básicos e combustíveis.
Ao fim, o Polo GasLub será algo bem diferente de tudo o que se planejou durante o período de bonança da estatal para o Comperj — um dos maiores símbolos de desperdício de recursos e corrupção da história da estatal.
De complexo petroquímico ao polo de gás
Inicialmente concebido como um complexo petroquímico, o empreendimento se tornou, posteriormente, num projeto de refino.
O plano era construir dois trens de 165 mil barris/dia cada, mas o projeto foi abandonado.
A pá de cal veio em 2019, quando a estatal encerrou as negociações com a chinesa CNPC para retomada das obras da refinaria do complexo.
O tamanho do desperdício do Comperj é superlativo: a refinaria foi abandonada com mais de 80% das obras executadas e já tendo absorvido investimentos de mais de US$ 13 bilhões. Dinheiro irrecuperável.
O Comperj acumula um histórico de erros de projeto, sobrecustos e corrupção e esteve nos holofotes das investigações da Lava Jato. Os desvios nas obras de terraplanagem do empreendimento foram, inclusive, a base da primeira condenação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
A construção da refinaria do Comperj foi interrompida em 2015, em meio aos desdobramentos da Lava Jato. Sem dinheiro em caixa para tocar o empreendimento, num momento em que as empreiteiras brasileiras entraram em crise, a Petrobras decidiu então que só retomaria as obras da refinaria se conseguisse uma sócia.
Foi nesse contexto, na gestão Pedro Parente, que a companhia iniciou as conversas com a CNPC. A estatal chegou a calcular em US$ 2,3 bilhões o custo para concluir a refinaria. Ao fim, encerrou as negociações com a chinesa por inviabilidade econômica.