Diálogos da Transição

Crédito de carbono da Caatinga, marco para CCUS e subsídio para hidrogênio na UE

Iniciativas de descarbonização vão de mercados de carbono a novos combustíveis

Crédito de carbono da Caatinga, marco para CCUS e subsídio para hidrogênio na UE. Na imagem, Caatinga (Foto: Grabriel Carvalho/Setur-BA)
(Foto: Grabriel Carvalho/Setur-BA)

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Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em agosto.
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Produtores rurais do cânion do São Francisco acabam de formar a primeira cooperativa de créditos de carbono da Caatinga. O grupo está reunindo lideranças que atuam na divisa dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco em uma associação para levantar o estoque de carbono das áreas preservadas e construir um modelo de gestão dos créditos.

A base é a economia regenerativa — criar cadeias produtivas que recomponham o ambiente natural enquanto promovem um sistema de proteção não só para o bioma, mas para as pessoas que dependem dele.

A ação faz parte do Laboratório de Economia Regenerativa do São Francisco, resultado do trabalho do Centro Brasil no Clima (CBC) em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS).

“Estamos trabalhando no Nordeste, especialmente na Caatinga, porque entendemos que há uma grande e rápida degradação, além da pobreza. Com os problemas de desertificação e com o aquecimento global isso vai piorar”, comenta Sérgio Xavier, representante do CBC e ex-secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, no governo de Eduardo Campos.

A consultoria McKinsey estima que a demanda no mercado voluntário de carbono pode multiplicar 15 vezes até 2030 e 100 vezes até 2050, um mercado que pode valer US$ 50 bilhões até 2030 e injetar recursos em países que abrigam grandes áreas de vegetação nativa.

O Brasil, por exemplo, guarda 20% do potencial global de geração de créditos a partir de soluções baseadas na natureza. A questão é que a maior parte dos projetos se concentra na Amazônia.

Haroldo de Almeida, ambientalista e presidente da cooperativa, conta que a estratégia é unir as áreas preservadas pelos produtores locais para facilitar o processo de comercialização dos créditos.

“A maioria das pessoas que estão participando, inclusive, possuem menos de dez hectares de vegetação nativa. Essas pessoas vão receber — de forma proporcional ao que estão ofertando — e também recebem assessoria técnica orientando em diversos aspectos”, completa.

Ao todo, são cerca de cem pessoas envolvidas. Leia na reportagem de Ana Guerra

É um mercado — seja voluntário, ou regulado — que tem atraído as atenções de gigantes em vários setores. Uma das grandes players globais em tecnologias para captura, armazenagem e uso de carbono (CCUS, na sigla em inglês), a norueguesa Aker Solutions defende a criação de políticas públicas que incentivem a atividade no Brasil, tão logo seja regulamentado o mercado de carbono do país.

Em entrevista ao jornalista Gabriel Chiappini, a vice-presidente global de subsea da Aker Solutions, Maria Peralta, afirma que o Brasil tem que achar qual é o modelo que mais se adequa à realidade.

“Eventualmente um país tão grande como esse pode ser até que tenha modelos diferentes, dependendo do estado”, comenta.

O ponto de partida para o mercado regulado de carbono no Brasil já foi dado com o decreto presidencial, publicado em maio. De acordo com o documento, os diferentes setores da economia, como energia, transporte e indústria, deverão apresentar propostas para redução de emissões de gases de efeito estufa em seus respectivos segmentos.

Ontem (14/7), o Brasil também assinou um acordo bilateral com o Japão para fomentar o mercado de crédito de carbono com o exterior. Leia a entrevista completa na epbr

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Hidrogênio na UE

Outra grande aposta para descarbonizar a economia, o hidrogênio ganhou hoje 5,4 bilhões de euros em subsídios da União Europeia.  

Quinze dos 27 estados-membros apoiarão financeiramente pesquisa, inovação e a primeira implantação industrial de uma cadeia de valor para o hidrogênio limpo.

O projeto IPCEI Hy2Tech foi elaborado em conjunto por Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Polónia, Portugal, Eslováquia e Espanha — e a expectativa é atrair mais 8,8 bilhões de euros em investimentos privados.

Ao todo, são 41 projetos e 35 empresas com atividades em pelo menos um desses países, incluindo oito pequenas e médias empresas (PME) e startups envolvidas. Os prazos dos projetos variam.

Segundo o comissário para o mercado interno, Thierry Breton, o que está em jogo é a  “posição da Europa como região líder na transformação industrial do hidrogênio”.

“Ele permite a transição limpa de indústrias de uso intensivo de energia e aumenta nossa independência dos combustíveis fósseis. Com este IPCEI, vemos a produção de hidrogênio da UE se movendo ‘do laboratório para a fábrica’; e nossa indústria transformando o domínio tecnológico em liderança comercial”.

O IPCEI cobrirá geração de hidrogênio, células a combustível, armazenamento, transporte e distribuição, e aplicações de usuários finais, particularmente no setor de mobilidade.

Brasil também está atraindo projetos

A Enel Green Power assinou hoje um memorando de entendimento com o governo do Ceará para desenvolvimento de um projeto de hidrogênio verde (H2V) no estado.

A Enel pretende instalar, a curto prazo, o projeto Green Hydrogen Fortaleza, com capacidade de até 400 MW de eletrolisadores numa primeira fase, informou o governo cearense.

“Nossa intenção é desenvolver um projeto em Quixeré e integrar o Hub de Hidrogênio Verde no Ceará, gerando desenvolvimento e avançando no projeto de descarbonização da nossa matriz energética”, afirmou a presidente da distribuidora Enel Ceará, Márcia Sandra Vieira, em nota.

Se confirmada a viabilidade do empreendimento, a planta de hidrogênio verde da Enel vai operar a partir do processo de eletrólise de água, utilizando energia 100% renovável. A opção pelo modelo on-grid (energia renovável disponibilizada pela rede) ou off-grid (energia renovável disponibilizada diretamente por uma planta de geração eólica ou solar) dependerá das condições técnicas e comerciais do projeto.

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