RIO — Uma das grandes players globais em tecnologias para captura, armazenagem e uso de carbono (CCUS, na sigla em inglês), a norueguesa Aker Solutions defende a criação de políticas públicas que incentivem a atividade no Brasil, tão logo seja regulamentado o mercado de carbono do país.
O ponto de partida para o mercado de carbono no Brasil já foi dado com o decreto presidencial, publicado em maio. De acordo com o documento, os diferentes setores da economia, como energia, transporte e indústria, deverão apresentar propostas para redução de emissões de gases de efeito estufa em seus respectivos segmentos.
Ontem (14/7), o Brasil também assinou um acordo bilateral com o Japão para fomentar o mercado de crédito de carbono com o exterior.
“O Brasil tem que achar qual é o modelo que mais se adequa à realidade. Eventualmente um país tão grande como esse pode ser até que tenha modelos diferentes, dependendo do estado”, afirmou a vice-presidente executiva da Aker Solutions, Maria Peralta, em entrevista à agência epbr.
As lições da Noruega na política de incentivo ao CCUS
O passo seguinte para o desenvolvimento do CCUS no país, segundo a executiva, seria a criação de políticas voltadas para estimular as empresas a adotarem tecnologias do tipo.
“Uma vez colocado em prática [o mercado de carbono], acho que tem que ter também os incentivos. Tem que ter, com certeza, incentivos governamentais para que isso [CCUS] evolua de uma forma mais ativa”, defendeu Maria Peralta.
Apesar de não especificar quais os tipos de incentivo seriam mais apropriados ao Brasil, a executiva citou o exemplo da União Europeia, onde as empresas compram licenças de autorização por cada tonelada de CO2 emitida.
“Em vários outros países a regulamentação é mais exigente que no Brasil, no sentido positivo, no sentido de que predetermina que, se a empresa não fizer [captura ou compensação de emissões de carbono], ela vai sofrer algumas limitações”, disse Peralta.
CCUS no Senado: No Brasil, o Projeto de Lei 1425/2022, do senador Jean Paul Prates (PT/RN), tenta regulamentar parte da cadeia de CCUS, com foco no armazenamento. O PL “disciplina a exploração da atividade de armazenamento permanente de dióxido de carbono de interesse público, em reservatórios geológicos ou temporários, e seu posterior reaproveitamento”, e define, entre outras coisas, que as atividades de armazenamento permanente serão exercidas mediante termo de outorga do Poder Executivo, para exploração de reservatórios geológicos em blocos.
Na Noruega, um dos maiores produtores de petróleo e gás da Europa, ainda existe uma taxação a cada tonelada de carbono emitida. Por lá, a grande aposta para a indústria vem sendo justamente o CCUS.
A Aker, inclusive, está desenvolvendo o projeto de CCUS Northern Lights, em conjunto com a Equinor, Shell e TotalEnergies. A iniciativa prevê a construção de uma infraestrutura de transporte de CO₂ dos locais de captura — em polos industriais — até seu armazenamento permanente, feito em um reservatório a 2.600 metros abaixo do leito marinho.
O Northern Lights brasileiro
Maria Peralta vê semelhanças entre Brasil e Noruega, uma vez que ambos os países têm grande expertise na exploração e produção offshore. E acredita que um projeto como o Northern Lights possa ser replicado por aqui, inicialmente por meio da Petrobras.
“A Petrobras esteve visitando recentemente a planta da Northern Lights e eles têm, sim, por objetivo, fazer algo similar”, disse.
Para Volmir Korzeniewski, country manager da Aker Solutions no Brasil, as empresas privadas já estão preparadas para oferecer as tecnologias para destinação do carbono. Falta um empurrão para que as companhias invistam.
“A indústria privada, as empresas estão prontas para fornecer soluções em um cenário onde haja políticas públicas adequadas para o mercado de carbono e captura, armazenamento, transporte de carbono no Brasil”, disse à agência epbr.
“Tem muito para ser feito, para que o mercado de carbono se torne realidade. E isso será com certeza algo que irá fomentar projetos similares ao Northern no Brasil”, completou.
Ganho de escala
Outro ponto importante que pode ser estimulado com a regulamentação da atividade é o aumento de escala — e consequente redução de preços das tecnologias de CCUS, ainda muito elevados.
“A vantagem da criação de um mercado regulado é que começa a ter uma realmente um volume que absorve todos os investimentos necessários na fase inicial de desenvolvimento de tecnologia, permitindo então que os preços comecem a reduzir. Percebemos isso nitidamente com energias renováveis, por exemplo”, explica Korzeniewski.
O executivo também destacou que as empresas de óleo e gás precisarão desenvolver uma dupla resiliência nos próximos anos, em meio à queda da demanda pelos combustíveis fósseis e o avanço das metas de redução das emissões de gases do efeito estufa.
“Temos ouvido muito das operadoras, TotalEnergies, Shell, Equinor, Petrobras, a questão da resiliência dupla dos projetos (…) Ou seja, um barril de petróleo com preço muito menor, que é a tendência, e também uma demanda muito mais forte por um nível de emissão de CO2 menor”, destaca Korzeniewski.
O potencial brasileiro no hidrogênio azul e verde
Na amortização desses investimentos, o hidrogênio azul pode surgir como mais uma possibilidade de receita da indústria de óleo e gás, acredita o executivo.
O hidrogênio azul é feito a partir de reforma do gás natural, porém com captura e armazenagem do carbono emitido.
“O Brasil é um país estratégico e com um grande potencial para o hidrogênio azul, que está associado à captura do carbono. Estamos falando de duas tecnologias que se complementam”, acredita Korzeniewski.
Ele também destaca o potencial do Brasil na produção de hidrogênio verde.
E citou que outro braço do grupo, a Aker Clean Hydrogen – juntamente com a Statkraft e a alemã Sowitec – anunciou um acordo de cooperação para desenvolvimento conjunto de um projeto híbrido de larga escala que combina geração de energia renovável e produção de hidrogênio e amônia verdes, na Bahia.
Previsto para entrar em operação em 2027, o projeto visa a atender à indústria brasileira de fertilizantes. A ideia é que a amônia cinza, de origem fóssil, seja substituída pelo produto verde.
“Seja hidrogênio verde, hidrogênio azul, o Brasil tem um grande potencial para o desenvolvimento de tecnologia e a implementação de projetos para geração de produção desses hidrogênios. Temos visto um movimento muito grande no país nesse sentido. Mas novamente políticas públicas, regulamentação são extremamente importantes”, pontuou Korzeniewski.