RIO — Com uma carteira de 1,7 GW de geração eólica onshore e solar no Brasil, incluídos projetos em operação, em construção ou autorizados, a francesa EDF Renewables, braço da EDF, mira agora projetos híbridos que combinem eólicas offshore e hidrogênio verde (H2V) no país.
“Nos interessa muito e queremos nosso portfólio com projetos híbridos (…) A eólica offshore e o hidrogênio verde estão plenamente na nossa estratégia no Brasil”, afirmou o gerente de negócios emergentes da companhia, Sylvain Jouhanneau, à agência epbr.
Globalmente, o grupo EDF espera alcançar 3 GW em capacidade de eletrólise até 2030, incluindo a produção de hidrogênio verde (oriundo de energias renováveis) e hidrogênio rosa (por meio de energia nuclear).
Por aqui, Jouhanneau conta que a ideia é “começar com um projeto de tamanho razoável, menos de 10 MW” de hidrogênio verde – e, em paralelo, preparar o futuro para megaprojetos no offshore. A companhia, no entanto, ainda não tem uma data definida para começar os investimentos.
Na Inglaterra, a empresa já possui um piloto com a Hynamics – braço da EDF para investimentos em hidrogênio – para fornecimento de H2V a uma siderúrgica na zona industrial de Tesside.
O projeto utilizará a eletricidade de um parque eólico offshore e de uma planta solar, que a EDF Renewables UK pretende construir perto da siderúrgica.
Brasil pode produzir hidrogênio competitivo
Segundo o executivo, o Brasil tem uma grande oportunidade de se tornar líder mundial em hidrogênio renovável. Para isso, Jouhanneau ressalta que o país tem “que tomar decisões hoje e ter uma boa visão para facilitar a extensão do offshore e depois abrir as portas hidrogênio renovável”.
Ele acredita em dois mercados para o hidrogênio no país: a indústria pesada e a mobilidade (marítima e de caminhões).
Olhando para a exportação, Jouhanneau avalia que, além das eólicas offshore, um mix de solar e eólicas onshore — renováveis já maduras e competitivas no país — poderia baratear os custos do hidrogênio verde brasileiro. A eletricidade representa cerca de 80% do custo de produção do H2V.
“Isso facilitaria o oferecimento de soluções para otimizar essas fontes e abastecer os eletrolisadores de maneira competitiva, já que a eletricidade representa um custo muito alto (…) O hidrogênio verde do Brasil poderia ter um preço muito competitivo para exportação, para Europa, Estados Unidos, África e até Ásia”.
EDF aposta em parceria com a indústria de óleo e gás
A companhia espera anunciar em breve projetos de eólicas offshore no Brasil. A expectativa é iniciar as operações dos empreendimentos, contudo, daqui a dez anos.
Jouhanneau explica que o primeiro passo da EDF foi realizar estudos em toda a costa brasileira, para avaliar os potenciais lugares para instalação dos parques eólicos. Agora, é hora de buscar parcerias para tocar os projetos.
“Estamos conversando com diferentes atores para encontrar competências complementares”, conta o executivo.
Segundo ele, o mais provável é que as parcerias sejam com companhias que já atuam no setor de óleo e gás offshore, a exemplo dos projetos de eólicas em alto mar em New Jersey, Estados Unidos. Por lá, a companhia se uniu à Shell.
“A experiência do óleo e gás offshore no Brasil é um ponto muito forte (…) Parece, sim, uma estratégia boa combinar essas competências”, avalia.
Os projetos de eólicas offshore da EDF Renewables pelo mundo somam:
- mais de 1 GW em operação;
- 2 GW em construção e pré-construção;
- 4 GW em desenvolvimento
A empresa também aguarda a definição de um marco regulatório para geração de energia offshore no Brasil, prometido para o fim deste ano.
“O principal ponto é trazer essa segurança, regras claras e justas. É importante que o processo de cessão de uso da área marítima seja algo justo e não uma especulação financeira”, defende.
Cobrimos por aqui:
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Na América Latina, a companhia já possui empreendimentos do tipo na Colômbia, Chile e Peru.
“Há uma complementaridade entre esses países, que têm pontos diferentes. Vamos investir aproveitando a força do Chile , Brasil e Colômbia e diversificar a criação de valor”, diz.
Governo francês quer nacionalizar EDF
Na última quarta-feira (6/7), a França anunciou que irá nacionalizar completamente a EDF. O estado francês já possuía 84% das ações da empresa e agora pretende “controlar 100% do capital”, de acordo com a primeira-ministra do país, Elisabeth Borne.
O anúncio vem em um momento de enorme crise energética no país. Na semana passada, os CEOs da Engie, EDF e TotalEnergies chegaram a assinar um artigo conclamando a população francesa a reduzir o consumo de eletricidade, gás e derivados de petróleo.
“Apelamos à sensibilização e à ação coletiva e individual para que cada um de nós – cada consumidor, cada empresa – mude o seu comportamento e limite imediatamente o seu consumo de energia, eletricidade, gás e produtos petrolíferos”, escreveram Catherine MacGregor (Engie), Jean-Bernard Lévy (EDF), Patrick Pouyanné (TotalEnergies), no Le Journal du Dimanche.
O governo francês também vem trabalhando em planos de contingência para possíveis cortes no fornecimento de gás russo – que representa cerca de 17% de seu consumo de gás.