Diálogos da Transição

Europa avança com "carimbo verde" para gás e nuclear; críticos acusam greenwashing

Parlamento Europeu decide que investimentos em plantas de gás natural e energia nuclear podem ser classificados como verdes, nas regras de taxonomia da UE

Europa avança com "carimbo verde" para gás e nuclear; críticos acusam greenwashing. Na imagem, gasodutos Nord Stream, da russa Gazprom (Foto: Gazprom/Divulgação)
Malha de gasodutos Nord Stream, da russa Gazprom (Foto: Gazprom/Divulgação)

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Editada por Gabriel Chiappini
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em julho.
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O Parlamento Europeu decidiu nesta quarta (6/7) que investimentos em plantas de gás natural e energia nuclear podem ser classificados como verdes, nas regras de taxonomia da União Europeia (UE).

A proposta havia sido apresentada pela Comissão Europeia em fevereiro, quando a Europa já sofria os impactos da alta nos preços de energia — antes mesmo da invasão russa à Ucrânia.

As taxonomias são regras para carimbar os negócios. Possibilita aos investidores aportar recursos em projetos chancelados, no caso, como de transição para uma economia de baixo carbono.

A pressão por segurança energética prevaleceu: era necessária uma maioria absoluta de 353 eurodeputados para que o parlamento do bloco vetasse a proposta; apenas 278 votos foram favoráveis à derrubada.

“Isso abre caminho para a autossuficiência energética, que é absolutamente crucial para o futuro”, publicou o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, que acaba de assumir a presidência rotativa da UE.

A decisão dialoga com a preocupação dos países do G7, que na semana passada defenderam um aumento na produção de gás, particularmente para o abastecimento por GNL, e a energia nuclear.

A votação do Parlamento Europeu era tida como o último obstáculo para a proposta entrar em vigor a partir de 1 de janeiro de 2023.

  • A nova taxonomia prevê que as usinas nucleares sejam consideradas verdes se conseguissem descartar com segurança os resíduos radioativos;
  • Apesar de não emitir CO₂, a energia nuclear produz resíduos radioativos, que não possuem uma solução totalmente segura para destinação final.
  • Já no caso das plantas de gás, poderiam ser consideradas verdes se, até 2035, migrarem suas atividades para gases de baixo carbono ou renováveis, como biomassa ou hidrogênio verde.

A França é a maior defensora das nucleares, que respondem por 70% da geração elétrica do país. Por lá, a fonte tornou-se um elemento-chave para a transição energética.

  • Em fevereiro, Emmanuel Macron anunciou a construção de seis novos reatores e a possibilidade de acrescentar mais oito a essa conta.

Estratégia também foi recomendada, na semana passada, pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês)

“No contexto atual de crise energética global, preços vertiginosos de combustíveis fósseis, desafios de segurança energética e compromissos climáticos ambiciosos, acredito que a energia nuclear tem uma oportunidade única de encenar um retorno”, disse Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

Já a Polônia entende que os países menos ricos da UE necessitam investimentos privados em gás e energia nuclear para que possam abandonar o carvão.

A Alemanha era favorável apenas à inclusão do gás. País conclui a desativação de todas suas usinas nucleares. Steffen Hebestreit, porta-voz do chanceler alemão Olaf Scholz, disse que a Alemanha “mantém sua posição e considera a energia nuclear insustentável”.

  • Aliás… Berlim prepara pacote de 9 bilhões de euros para evitar a falência da empresa alemã Uniper — maior importadora de gás russo no país.
  • O governo teme que a quebra da empresa provoque um efeito dominó no mercado de gás alemão, que desde junho vem sofrendo com a diminuição do fornecimento de gás da gigante russa Gazprom, por meio do gasoduto Nord Stream 1. Rfi

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“Institucionalização do greenwashing”

Foi como classificou Paul Tang, legislador holandês da UE, que acusou o plano de ser influenciado pelo “lobby da Gazprom e da Rosneft”, ambas empresas estatais russas de energia. DW

“Está completamente claro que tanto a energia nuclear quanto o gás fóssil não têm nada a ver com sustentabilidade”, disse Leonore Gewessler, ministra da Energia da Áustria. O Globo

Entre os principais países contrários à Taxonomia estão Dinamarca, Holanda, Áustria e Luxemburgo, que ameaçam judicializar o caso. Críticos ainda avaliam que a proposta joga com as “vontades de Putin“.

Alguns investidores também consideram a medida um retrocesso. À Bloomberg, representantes de grandes fundos de investimentos se mostraram decepcionados.

“Para os investidores institucionais, a inclusão do gás natural envia mensagens contraditórias, além de enfraquecer o sinal para canalizar capital para investimentos que restringem o aumento da temperatura global a 1,5 grau”, disse Stephanie Pfeifer.

  • A executiva lidera o Institutional Investors Group on Climate Change, do qual faz parte a Black Rock— gestora alvo de acusações de “jogo duplo” no ESG –, entre outros grandes fundos, que possuem mais de US$ 50 trilhões em ativos sob gestão.

Para Stephan Kippe, representante do Commerzbank AG — segundo maior banco comercial da Alemanha–, a decisão “não torna a luta contra o greenwashing mais fácil” e impossibilita “fornecer uma estrutura rígida para investimentos ESG”.

E caso tenha perdido…

A Geo Biogás & Tech anunciou uma joint venture com o Grupo Crivellaro, uma das maiores empresas nacionais na área de gerenciamento de resíduos industriais. As empresas investirão R$ 70 milhões em uma nova planta para produção de biogás e biometano a partir do tratamento de resíduos orgânicos das indústrias paulistas de alimentos e de bens de consumo.

Governo federal facilita exportação de lítio Decreto publicado nesta quarta-feira (6/7), reduz as amarras para a exportação de lítio e seus derivados.

O lítio é um item essencial para a fabricação de baterias de veículos elétricos — e também para sistemas de geração solar. Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o objetivo é posicionar o Brasil de forma competitiva no mercado global e atrair investimentos para pesquisa e produção mineral.

E o relator do marco para geração de energia offshore, senador Carlos Portinho (PL/RJ), acredita que será possível aprovar o projeto na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado de forma terminativa (sem necessidade de passar pelo plenário) antes mesmo do recesso parlamentar.

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