Energia

É a energia, estúpido!

Alto custo da energia nunca ganhou espaço tão relevante como agora

Alto custo da energia nunca ganhou espaço tão relevante. Na imagem: foto parcial de uma conta de energia (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Estudo da Abrace revela que drama do alto custo da energia impacta severamente não só as famílias, sobretudo as mais pobres, mas também trava a competitividade da indústria nacional (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Quando o economista e estrategista James Carville cravou a frase “é a economia, estúpido!”, o mundo se deu conta de que as pessoas se movem em suas decisões políticas com base na percepção de como caminha a economia. Parece óbvio, mas não é. Ou pelo menos não era até a frase viralizar (termo que nem existia à época).

Vivemos hoje no Brasil um momento interessante e repleto de desafios econômicos que estão impactando as decisões políticas das pessoas “comuns”, dos tomadores de decisão e dos candidatos ao pleito eleitoral que se aproxima.

Energia barata e conta cara

O alto custo da energia nunca ganhou espaço tão relevante como agora.  Já faz parte dos discursos no ambiente de poder e da indignação das pessoas, cansadas de pagar tanto por um insumo que foi vendido no Brasil como barato e renovável.

Na realidade, viramos o país da energia barata e da conta cara.

Recentemente, a Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) divulgou um minucioso estudo que atesta o que já estava no nosso discurso e ganhou boa repercussão após a divulgação dos números: energia é muito mais do que a conta de luz.

Ela está em tudo o que os brasileiros consomem e, hoje, representa um quarto do orçamento familiar, se considerarmos o peso da energia no pão nosso de cada dia, no cimento, na cerveja, no material escolar, enfim, tudo que consumimos tem o custo da energia elétrica embutido.

Hoje, metade desse custo sequer deveria estar na conta. São diversos penduricalhos que poderiam estar no orçamento da União, mas que para atender interesses específicos foram colocados na energia.

Competitividade da indústria nacional

O estudo revela que o drama do alto custo da energia impacta severamente não só as famílias, principalmente as de mais baixa renda, mas também trava a competitividade da indústria nacional. Aliás, parte da crise industrial vivida nos últimos anos foi sim causada pelo aumento exponencial do custo da energia. Sem previsibilidade e com cada vez mais encargos na conta, a indústria perdeu dinamismo e acabou contribuindo negativamente com o resultado ruim do PIB.

Um aspecto do estudo da Abrace que chama atenção é o fato de que a indústria teve uma evolução bastante desfavorável do custo unitário com energia elétrica.

Entre 2000 e 2021, o índice do custo unitário em reais passou de 100 para quase 1.100, indicando um aumento de quase 1.084% em 21 anos. O custo unitário do gás natural da indústria Brasileira registra uma variação acumulada de 1.894%, em 21 anos. Esse dado, por si, já deveria saltar aos olhos dos tomadores de decisões.

A reversão do processo de encarecimento da energia e do gás natural beneficia diretamente a economia e tem o poder de restabelecer bases sólidas para o investimento industrial, com efeitos sobre a geração de renda e emprego.

O crescimento do PIB, por exemplo, saltaria de 1,7% para 3,8% ao ano nos próximos dez anos. A população ocupada cresceria num ritmo mais acelerado, o que significaria a abertura de 7 milhões de postos de trabalho a mais que o projetado no cenário de referência (IBGE).

Desenvolvimento econômico e humano

Uma política que permita preços da energia elétrica e do gás natural para níveis competitivos deve ser entendida como uma política de crescimento econômico, mas sobretudo como uma política de desenvolvimento humano. O avanço das condições materiais da sociedade brasileira, alcançado com o crescimento econômico mais rápido, inclui o aumento da expectativa de vida da população e da escolaridade média das novas gerações.

E tudo isso tem impacto sobre o desenvolvimento humano, tomando por referência o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Programa das Nações Unidas. Nosso estudo permitiu projetar os efeitos do crescimento econômico mais intenso sobre o posicionamento do Brasil no ranking internacional de desenvolvimento humano.

Em 2000, o IDH do Brasil era de 0,685, e o país ocupava a 75ª posição do ranking. Passadas duas décadas, o Brasil caiu 9 posições. O país poderia progredir mais rapidamente na classificação de desenvolvimento humano alcançando índices próximos ao de países como México e Ucrânia.

Esse é um avanço que não pode ser ignorado às custas de aumentar o atraso do Brasil em relação ao desenvolvimento econômico e humano de outros países.

Já passou da hora de entendermos que nossa vantagem competitiva para geração de energia barata, sustentável e segura é fator que pode mudar nossa posição no cenário internacional. Somos a maior potência energética do planeta e energia deveria ser a base para nos agigantarmos na economia, no desenvolvimento humano e no meio ambiente.

Quando energia entrar de vez no debate público, com a sociedade e os três poderes, a realidade econômica do Brasil vai mudar de patamar e seremos o país da conta barata e sustentável e da indústria competitiva.