Diálogos da Transição

O preço da energia, a inflação dos alimentos e a fome

Alta nas tarifas acende alerta para escassez de energia nos países ricos, e para aumento da fome entre os mais pobres

Alta da energia, a inflação dos alimentos e a fome. Na imagem, criança em situação de miséria e fome (Foto: Billy Cedeno/Pixabay)
"Para uma família média em um país de baixa renda, os gastos com alimentação podem levar até 44% por cento da cesta de consumo”, disse o FMI em nota técnica (Foto: Billy Cedeno/Pixabay)

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Diálogos da Transição

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Editada por Gabriel Chiappini
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em julho.
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O impacto da alta nos preços da energia e dos alimentos ao redor do mundo vem acendendo alertas das autoridades, não só por uma possível escassez de energia nos países ricos, como também pela insegurança alimentar entre os mais pobres.

O cenário já vinha crítico por conta da pandemia de covid-19, e se agravou com a invasão da Rússia à Ucrânia, conturbando ainda mais a cadeia global de suprimentos de alimentos e combustíveis.

O assunto foi uma das principais preocupações dos líderes do G7 — grupo das democracias mais ricas do planeta –, que se reuniram na Alemanha, nesta semana.

“Continuaremos nossos intensos esforços para mitigar os impactos sociais do aumento dos preços da energia e dos alimentos, que foram exacerbados como resultado da guerra de escolha não provocada e injustificável na Ucrânia, prestando especial atenção às famílias afetadas”, diz o comunicado assinado por Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Alemanha.

A inflação é generalizada em todo o globo e corrói a renda dos mais vulneráveis. Segundo o Banco Mundial, ela já afeta 94% dos países de baixa renda, mais de 80% dos de renda média-baixa e média-alta. Cerca de 70% dos países de alta renda apresentam uma inflação dos preços dos alimentos acima de 5% — muitos com inflação de dois dígitos.

“A guerra agora acelerou uma crise alimentar global. Na maioria dos países, a inflação dos preços dos alimentos excede a inflação geral”, afirmou o presidente do Banco Mundial, David Malpass.

A instituição acredita que o atual cenário deve se manter e “empurrar milhões de pessoas a mais para uma insegurança alimentar aguda”.

A preocupação foi compartilhada pelo chanceler alemão, Olfaf Sholz. “A guerra russa tem consequências para o mundo inteiro. Muitos países temem uma crise de fome, muitos temem um aumento maciço dos preços da energia”, disse na reunião do G7.

E o preço da energia? 

  • A agricultura e a indústria alimentícia utilizam a energia para diversos fins. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), a energia representa de 40% a 50% dos custos variáveis totais de cultivo em economias avançadas, como os Estados Unidos.
  • O uso direto de energia inclui eletricidade para irrigação, consumo de combustível para máquinas agrícolas e energia necessária em vários estágios de processamento de alimentos, embalagem, transporte e distribuição.
  • No Brasil, a situação é intensificada, uma vez que o transporte de alimentos está concentrado no modal rodoviário, que se vê obrigado a repassar as sucessivas altas no diesel ao preço do frete.
  • O custo de produção de fertilizantes também está intimamente ligado aos preços da energia, principalmente no caso dos nitrogenados. O gás natural geralmente responde por 70% a 80% dos custos operacionais de produção de amônia e ureia.
  • Nos últimos meses, as fábricas de fertilizantes nitrogenados anunciaram fechamentos temporários, citando os custos crescentes do gás natural como a causa.

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Fundo Monetário Internacional (FMI), recomendou que respostas aos altos preços de alimentos e energia devem se concentrar nos mais vulneráveis.

“Os alimentos ocupam uma parcela consideravelmente maior da cesta de consumo das famílias de baixa renda do que nas famílias de alta renda. Para uma família média em um país de baixa renda, os gastos com alimentação podem levar até 44% por cento da cesta de consumo”, disse o FMI em nota técnica.

Entre outras ações, o FMI defendeu:

  • Aumento dos investimentos na produção de energias renováveis ​​e reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis, no longo prazo.
  • Aumento dos mercados de gás natural liquefeito e a expansão da produção de óleo e gás de xisto, no curto prazo.

Leia na epbr: Como a baixa eficiência energética afeta as contas das famílias

Por aqui, o governo adota medidas emergenciais às vésperas das eleições presidenciais. O pacote motivado pelos preços dos combustíveis ultrapassa os R$ 70 bilhões, sendo R$ 26 bilhões para zerar a fila dos que ficaram de fora do Auxílio Emergencial e elevar os pagamentos para R$ 600, por cinco ou seis meses.

“Há apenas poucas semanas o Senado descobriu que as famílias passam fome”, escreveu no Twitter, José Serra (PSDB/SP), único senador a votar contra a PEC.

Apenas na “PEC das bondades”, aprovada pelo Senado, são R$ 41,2 bilhões:

  • R$ 26,0 bi para a expansão do Auxílio Brasil 
  • R$ 5,4 bi para a criação de um auxílio aos caminhoneiros 
  • R$ 3,8 bi para reduzir a carga tributária do etanol
  • R$ 2,5 bi para gratuidade de transporte coletivo para idosos
  • R$ 2,0 bi para criação de um auxílio a taxistas (pagamentos em dinheiro)
  • R$ 1,0 bi para a ampliação do vale-gás de cozinha (dinheiro também)
  • e R$ 0,5 bi para o orçamento de um programa de acesso à alimentação

33 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente no Brasil. Os números, divulgados em junho, são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

É o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020. De acordo com o último IPCA, a inflação sobre alimentos é de 13,8% no acumulado de 12 meses, 20,5% em transporte, puxada pelas sucessivas altas do diesel, e 9,6% em habitação, em parte devido à energia elétrica.

E os brasileiros deixam de comprar comida para pagar conta de luz.  22% deixaram de comprar alimentos básicos para manter a energia em dia. Destes, 28% são nordestinos.

  • Somente a partir de 16 de abril, passou a valer a bandeira verde, em que não há cobrança adicional na conta de luz. Desde setembro de 2021, estava em vigor a bandeira Escassez Hídrica, com acréscimo de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos.
  • Uma pesquisa do Dieese, encomendada pelo Procon, mostrou que o valor médio da cesta básica superou o salário-mínimo em São Paulo, no mês de maio. O valor da cesta chegou a R$ 1.226, um avanço de 1,36%, em relação a abril. G1
  • Em maio, a inflação acumulada de 12 meses da cesta básica até rondava os 27%, segundo a Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Folha

Uma mensagem do Programa PotencializEE:

Veja como o PotencializEE vai ajudar mais de 5.000 indústrias brasileiras a realizarem mais de mil diagnósticos energéticos e apoiar na implementação de 425 projetos, até 2024. Saiba mais