RECIFE — Um projeto piloto de captura de carbono dióxido de carbono (CO₂) em Santa Catarina recebeu aportes adicionais para desenvolvimento de materiais sintéticos a partir de cinzas de carvão.
A iniciativa tenta encontrar soluções para descarbonizar a geração de energia elétrica a carvão no estado, principal polo carbonífero do país.
O projeto é desenvolvido pela Associação Beneficente da Indústria de Carvão de Santa Catarina (SATC), com apoio da Eneva, empresa de energia e gás natural que também atua com o combustível em usinas termelétricas.
O setor carbonífero de Santa Catarina pretende viabilizar, na próxima década, a primeira tecnologia nacional de captura de carbono, como parte dos compromissos de zerar emissões do gás de efeito estufa até 2050.
O estado já havia recebido R$ 11 milhões paras as primeira fases do projeto e conta agora com outros R$ 12 milhões que serão aplicados em duas frentes: a produção de zeólitas sintéticas – mineral utilizado para controle de resíduos industriais –, com R$ 5,3 milhões para estudos de desenvolvimento a partir das cinzas do carvão.
E outros R$ 7 milhões para a ampliação da captura de CO₂, além de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) na planta, que integram o restante do orçamento.
De acordo com a SATC, a equipe foi capaz de obter índices de capturas de dióxido de carbono entre 30% e 50%, alcances ainda considerados abaixo do necessário (95%) para tornar a tecnologia viável.
“Ainda temos um bom caminho a percorrer, porém estamos trabalhando para fazer plantas com captura de CO₂ com tecnologia que possa ser replicável no país como parte do compromisso da nossa cadeia em descarbonizar as operações até 2050, ou seja, dentro do prazo estipulado pelos acordos internacionais”, afirma o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Zancan.
Plano de transição e subsídios para o carvão
Em janeiro deste ano, Zancan adiantou à agência epbr que os próximos passos para a estruturação da transição energética para o carvão passa por marcos regulatórios estaduais que, dentre outras ações, permitam a criação de fundos para incentivar novas tecnologias de captura de carbono — mirando em uma descarbonização de fósseis para acompanhar os novos acordos climáticos internacionais.
A ideia é que haja articulações com os estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, onde há maior concentração de jazidas carboníferas no Brasil, para que seja possível criar políticas de modernização do setor e, simultaneamente, evitar impacto negativo no mercado de trabalho na cadeia produtiva.
No início de 2022, o projeto da Satc também passou a atuar em uma nova frente através de uma parceria firmada com o Instituto de Energia e Ambiente (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).
As instituições anunciaram a ampliação do escopo a partir de um acordo de cooperação técnica, assinado no ano passado, para incluir estudos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para estocagem de carbono, o que será parte complementar ao projeto de captura de emissões de carbono.
Lei ampliou benefícios para o carvão em Santa Catarina
O objetivo da parceria é preparar tecnicamente o setor carbonífero para a aplicação de tecnologias de captura e armazenamento como parte do compromisso de promover o abatimento das emissões líquidas de CO₂ das termelétricas a carvão do estado, conforme definido na lei 14.229/22, que criou o Programa de Transição Energética Justa do setor.
O projeto também estende subsídios, como parte de uma política de apoio ao setor carbonífero de Santa Catarina, sob críticas do setor de energia e consumidores.
O acordo de cooperação entre o IEA da USP e a Satc foi formalizado no ano passado e tem duração até 2026. De início, seria abordada apenas a captura das moléculas de carbono. Porém, com o novo acordo, as instituições passam a buscar também a armazenagem, focando na construção de uma infraestrutura completa de manejo do carbono.
O armazenamento de CO₂ é uma das etapas da cadeia de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês). O CCS é um conjunto de tecnologias que permitem capturar o CO₂ de fontes estacionárias como usinas termoelétricas e plantas industriais de difícil descarbonização, entre outras.