Diálogos da Transição

Armazenamento de carbono e hidrogênio verde na agenda das petroleiras

A ExxonMobil e outros três produtores de petróleo do Mar do Norte anunciaram esta semana uma cooperação para captura e armazenamento de carbono

Armazenamento de carbono e hidrogênio verde na agenda das petroleiras. Na imagem, modelo de sistema submarino no Mar do Norte – reservatórios são alvo de projeto de captura de carbono (Foto: Neptune Energy)
Modelo de sistema submarino no Mar do Norte – reservatórios são alvo de projeto de captura de carbono (Foto: Neptune Energy)

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Editada por Nayara Machado
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A ExxonMobil e outros três produtores de petróleo do Mar do Norte anunciaram esta semana uma cooperação para captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) offshore em larga escala no projeto L10.

As petroleiras planejam compartilhar a infraestrutura existente e ter um projeto pronto até o final do ano para armazenar até cinco milhões de toneladas de gases de efeito estufa em campos na costa holandesa.

Segundo, Lex de Groot, diretor administrativo da Neptune Energy na Holanda, uma das petroleiras envolvidas no projeto, a parceria deve viabilizar uma das maiores instalações de CCS no Mar do Norte.

“A reutilização de nossa infraestrutura existente significa que, juntos, podemos ajudar a alcançar as metas climáticas, mas também garantir que essa parte da transição energética se torne mais limpa, barata e rápida”.

Entre as empresas – e o setor de óleo e gás – há um consenso de que o armazenamento de CO₂ é fundamental para atingir as metas climáticas.

Mas o processo ainda é muito caro e vai demandar investimentos trilionários em infraestrutura.

Um estudo da Carbon Management Research Initiative, da Universidade de Columbia, por exemplo, indica que a maioria das rotas de CCS tem um custo estimado de produção 2,5 a 7,5 vezes maior do que o preço de venda do produto.

Os detalhes financeiros do L10 ainda não foram divulgados, mas, segundo as companhias, esta etapa do projeto de captura e armazenamento de carbono tem o potencial de armazenar 4-5 milhões de toneladas de CO2 anualmente para clientes industriais em campos de gás esgotados em torno das áreas operadas pela Neptune.

“Representa o primeiro estágio no desenvolvimento potencial da maior área L10 como um reservatório de armazenamento de CO₂ de grande volume”, diz o comunicado.

O governo holandês também está apostando na tecnologia. No início do mês, a Fugro publicou quatro recomendações para viabilizar o uso simultâneo de áreas do Mar do Norte no desenvolvimento de parques eólicos offshore e soluções de CCS.

Com grandes projetos já em andamento, a região deve desempenhar um papel chave no fornecimento de energia de baixo carbono à Europa.

Hidrogênio à vista. Outra aposta do setor é no hidrogênio verde. Nas últimas semanas, a britânica bp e a francesa TotalEnergies anunciaram investimentos em grandes projetos de produção do novo combustível.

Na semana passada, a bp concordou em adquirir participação acionária de 40,5% e tornar-se operadora do Asian Renewable Energy Hub (AREH). Segundo o grupo, a AREH tem potencial para ser um dos maiores hubs de energia renovável e hidrogênio verde do mundo.

Localizada na Austrália, o AREH pretende fornecer energia renovável a clientes da maior região de mineração, além de produzir hidrogênio e amônia verde, tanto para o mercado doméstico australiano, quanto para exportação.

O projeto combina geração eólica e solar onshore para uma capacidade total estimada em até 26 gigawatts (GW) – o equivalente a produzir mais de 90 terawatts-hora por ano.

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Já a TotalEnergies vai adquirir participação de 25% na Adani New Industries, uma plataforma para a produção e comercialização de hidrogênio verde na Índia.

A ANIL terá como meta produção de um milhão de toneladas de hidrogênio verde por ano até 2030, sustentada por cerca de 30 gigawatts (GW) de nova capacidade de geração de energia renovável, como seu primeiro marco.

Para controlar os custos de produção de hidrogênio verde, a ANIL será integrada ao longo da cadeia de valor, desde a fabricação de equipamentos necessários para gerar energia renovável e produzir hidrogênio, até a produção do próprio combustível e sua transformação em derivados, incluindo fertilizantes nitrogenados e metanol, tanto para o mercado interno quanto para exportação.

Para começar, a ANIL pretende desenvolver um projeto para produzir 1,3 milhão de toneladas de uréia para o mercado interno indiano, e substituir as atuais importações.

Também prevê cerca de US$ 5 bilhões em um eletrolisador de 2 GW alimentado por energia renovável de um parque solar e eólico de 4 GW.

Segundo Patrick Pouyanné, CEO da TotalEnergies, a companhia quer descarbonizar o hidrogênio usado em suas refinarias europeias até 2030. A aposta é que o mercado de hidrogênio “vai decolar até o final desta década”, diz Pouyanné.

Será uma corrida por investimentos. Pesquisa do Goldman Sachs aponta que, para alcançar as metas de emissões líquidas zero até 2050, o mundo precisará investir US$ 5 trilhões até lá na cadeia de fornecimento direto de hidrogênio limpo.

Os cálculos consideram produção, armazenamento, distribuição, transmissão e comércio global e cobrem apenas o capex (os aportes de capital). Uma parte importante desses investimentos será em eletrolisadores para hidrogênio verde e CCUS – olha a captura de carbono de novo – para hidrogênio azul.

E por falar em eletrolisadores, a Siemens Energy e a Air Liquide anunciaram ontem (23/6) a criação de uma joint venture para produção de eletrolisadores para hidrogênio verde em escala industrial na Europa. A produção deve começar no segundo semestre de 2023 e aumentar para uma capacidade de produção anual de três gigawatts até 2025.

Cobrimos por aqui:

No Brasil, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a provou ontem (23/6) o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) e sua respectiva governança.

Originalmente, a proposta com as diretrizes do programa havia sido apresentada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) há quase um ano, em agosto de 2021.

A partir de agora, será instituído um comitê para gerenciar o programa e dar as diretrizes estratégicas que serão implementadas a partir da organização de câmaras temáticas.

Para aprofundar

Oferta, demanda e posição do petróleo brasileiro em tempos de transição energética: em artigo, Fernanda Delgado explica que um futuro descarbonizado não é um futuro sem hidrocarbonetos.

“O setor de óleo e gás será essencial para viabilizar a transição energética, garantindo a segurança do abastecimento bem como a expertise e os recursos para investimento em tecnologias direcionadas ao processo de descarbonização”.

Hidrogênio verde pode ser alternativa ao diesel: O presidente da White Martins América Latina, Gilney Bastos, acredita que o hidrogênio verde pode competir com o diesel em veículos pesados no Brasil, principalmente em um cenário de sucessivas altas no valor do combustível fóssil, como vem ocorrendo.

“As distâncias rodoviárias que se praticam aqui são prato cheio para investirmos em novas tecnologias de carga pesada”, afirma o presidente em entrevista à agência epbr.

Eólica offshore começa mais cara no Brasil: Em entrevista à epbr, José Partida, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Ocean Winds Brasil, avalia que o país precisará de escala para desenvolver cadeia fornecedora local e, assim, baratear projetos.

Uma mensagem do Programa PotencializEE:

Veja como o PotencializEE vai ajudar mais de 5.000 indústrias brasileiras a realizarem mais de mil diagnósticos energéticos e apoiar na implementação de 425 projetos, até 2024. Saiba mais