Energia

Agência de crédito britânica mira hidrogênio e eólica offshore no Brasil

Ukef, agência de crédito à exportação, tem histórico de atuação em óleo e gás no país, mas agora mira renováveis

Agência de crédito britânica, Ukef, mira hidrogênio e eólica offshore no Brasil. Na imagem, usina de hidrogenio verde (H2V)
No Brasil, a britânica Shell é uma das gigantes do setor de óleo e gás que miram seus investimentos para projetos de eólicas offshore -- e, futuramente, para a produção de hidrogênio verde

RIO — A UK Export Finance (Ukef), agência de crédito à exportação do Reino Unido, busca oportunidades de negócios nos setores de geração de energia offshore e hidrogênio verde no Brasil.

A instituição financeira britânica está em missão comercial no Rio de Janeiro, esta semana. Se no passado chegou a assinar contratos com a Petrobras, no setor de óleo e gás, agora veio oferecer linhas de financiamento para compra de equipamentos de fornecedores do Reino Unido nos segmentos de novas energias.

“Existem muitas oportunidades no Brasil, onshore e offshore, no futuro”, disse o gerente de negócios da Ukef, Charles Hickson. “Já trabalhamos com a Petrobras e agora estamos muito felizes de olhar para o futuro com as eólicas offshore e o hidrogênio (…) Há três anos eu estava aqui para financiar projetos na área de óleo e gás, e hoje estamos aqui olhando projetos em renováveis”, completou o executivo, ao participar de evento da Embaixada do Reino Unido com empresários e representantes do governo britânico, na terça-feira (7/6), para discutir parcerias no setor de energia.

Em 2018, a Petrobras utilizou uma Linha de Crédito da Ukef para financiar equipamentos de exploração e produção de óleo e gás nas Bacias de Campos, Santos e do Espírito Santo. A mesma fonte de financiamento foi acionada em 2011 e 2015 pela petroleira.

Marco Longhi, enviado comercial do Reino Unido e membro do parlamento inglês, pelo Partido Conservador, afirmou que o Brasil deverá ser um líder na produção e exportação de hidrogênio renovável no futuro.

Longhi, contudo, ressaltou que a transição energética deve ser encarada como um processo, e não como uma ruptura..

“Queremos estratégias para um ambiente mais verde, mas temos que aceitar que é um período de transição”, disse.

A estratégia britânica para transição

O Reino Unido tem como meta atingir 5 GW de capacidade de produção de hidrogênio de baixo carbono até 2030 para uso em toda a economia.

Parte desse hidrogênio deve vir do gás natural, com captura e armazenagem de carbono (o hidrogênio azul); e outra parte deve ser produzido a partir da eletrólise com energia renovável (o hidrogênio verde).

Segundo estimativas do governo britânico, os 5 GW devem ser capazes de substituir a quantidade de gás consumida por mais de 3 milhões de residências no Reino Unido, a cada ano. O número ainda é pequeno perto dos mais de 27 milhões de lares no total.

Apesar disso, o Reino Unido não trata da necessidade de importação do hidrogênio renovável.

Para aprofundar:

De mãos dadas com a indústria de hidrogênio está o desenvolvimento de projetos de eólicas offshore.

O Reino Unido é um dos maiores mercados mundiais de energia eólica offshore, com mais de 10 GW de capacidade instalada. A Estratégia Britânica de Segurança Energética (Bess), publicada em abril de 2022, visa atingir até 50 GW de energia eólica offshore até 2030.

Alguns desses parques eólicos offshore irão alimentar instalações de petróleo e gás e ajudar a descarbonizar o setor.

No Brasil, a britânica Shell é uma das gigantes do setor de óleo e gás que miram seus investimentos para projetos de eólicas offshore — e, futuramente, para a produção de hidrogênio verde.

Recentemente a companhia apresentou um projeto piloto de produção de hidrogênio verde no porto do Açu (RJ). A empresa também iniciou o licenciamento de 17 GW em projetos de eólicas offshore na costa brasileira.

Ao todo, os projetos offshore com pedidos de licenciamento junto ao Ibama somam mais de 133 GW. Já os projetos em estudo para produção de hidrogênio verde se acumulam no nordeste do país, com destaque para o Ceará.

Para a gerente de desenvolvimento de energias renováveis da Shell no Brasil, Gabriela Oliveira, os projetos deverão olhar a exportação de energia.

“Será que o Brasil terá demanda suficiente para acomodar todos esses projetos? A resposta é não”, avaliou.

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, também acredita no potencial brasileiro em atender a demanda energética internacional.

“Brasil precisa pensar na demanda global de energia”, afirmou.

Segundo ela, 60% das associadas possuem projetos de eólicas offshore, e dessas, pelo menos 40% estão interessadas na produção de hidrogênio e amônia verdes para exportação.