Gás Natural

Mitsui ameaça exercer direito de preferência pela aquisição da Gaspetro

Japonesa abriu mão de seu direito, mas entende que a Compass mudou o negócio ao vender parte das distribuidoras

Na imagem, sede do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
Sede do Tribunal Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

RIO — A Mitsui vem manifestando preocupações junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a forma como a Compass conduz a aquisição da fatia de 51% da Petrobras na Gaspetro e ameaça exercer o seu direito de preferência, como acionista, na compra do ativo.

A companhia japonesa é dona de 49% do ativo e abriu mão, inicialmente, do direito de preferência, como acionista, na compra do controle da Gaspetro.

A multinacional entende, contudo, que a Compass mudou os termos do negócio, ao ter anunciado a assinatura de dois contratos para venda de participações minoritárias em 12 das 18 distribuidoras estaduais de gás canalizado que fazem parte da Gaspetro. As operações aguardam o desfecho do negócio entre o grupo Cosan e a Petrobras.

Nas reuniões realizadas com os conselheiros do Cade nas últimas semanas, representantes da Mitsui têm se queixado por não terem sido procurados pela Compass para explicar os contratos para venda das fatias minoritárias nas distribuidoras, assinados há quase três meses. Até hoje, segundo fontes, a japonesa não foi informada sobre que distribuidoras serão vendidas e sobre quem serão os seus novos sócios.

Além da participação indireta que detém nas 18 distribuidoras da Gaspetro, por meio de sua fatia de 49% na holding, a Mitsui também tem participação acionária direta em oito distribuidoras: Algás (Alagoas), Bahiagás (Bahia), Cegás (Ceará), SCGás (Santa Catarina), Copergás (Pernambuco), PBGás (Paraíba) e Sergás (Sergipe).

Procurada para comentar as críticas, a Compass preferiu não se manifestar sobre o assunto.

Compass quer foco em seis distribuidoras

A Compass assinou contrato para compra dos 51% da Petrobras na Gaspetro em julho de 2021, por R$ 2 bilhões.

Em abril, o relator do caso no Cade, Luiz Hoffman, prorrogou o prazo para diligências e análises  da operação por 90 dias, por considerá-la uma operação complexa. O negócio chegou a contar com parecer da Superintendência-Geral (SG) do Cade, favorável à aprovação da transação sem restrições, mas a conselheira Lenisa Prado decidiu encaminhar o caso ao Tribunal do órgão antitruste.

O CEO da Compass, Nelson Gomes, reforçou, há duas semanas, que a intenção da companhia é se desfazer de 12 das 18 distribuidoras incluídas no pacote de aquisição da Gaspetro. A empresa do grupo Cosan firmou, em março, dois contratos diferentes, para alienação de um conjunto de cinco concessionárias para um comprador e de sete outras concessionárias para um segundo agente.

“Nós gostamos de ter foco e de termos a opção de alocar o nosso capital onde enxergamos os retornos mais atrativos”, comentou o executivo, ao participar de encontro com investidores no dia 26 de maio.

Segundo ele, os contratos vinculantes assinados para alienação das concessionárias estão sujeitos a uma série de condições precedentes — como a própria aprovação da compra da Gaspetro pela Compass, no Cade, e o direito de preferência dos estados pela aquisição das distribuidoras que não fazem parte dos planos da Cosan..

“Dependendo [do direito de preferência exercido ou não pelos estados], boa parte desses desinvestimentos deixam de existir”, disse.

Na ocasião, Gomes disse, ainda, que vê com bons olhos o convívio com a Mitsui, como sócia, na Gaspetro e que acredita “num casamento absolutamente complementar” com a a japonesa, ao citar o “estilo de agressividade operacional e comercial” dos dois futuros sócios na holding de gás.