Combustíveis e Bioenergia

Governo Bolsonaro demite Coelho da presidência da Petrobras

Caio Mário Paes de Andrade, da equipe econômica do ministro Paulo Guedes, será o substituto

Governo Bolsonaro demite José Mauro da presidência da Petrobras. Na imagem, José Mauro Coelho em seu discurso de posse, Cerimônia de posse, no dia 14 de abril de 2022
Ao tomar posse, no dia 14 de abril, José Mauro afirmou que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado (Foto: MME)

RIO — Quarenta dias após a posse de José Mauro Coelho na presidência da Petrobras, o governo de Jair Bolsonaro decidiu trocar novamente o comando da estatal, informou o Ministério de Minas e Energia. Caio Mário Paes de Andrade, da equipe econômica do ministro Paulo Guedes, foi indicado para o cargo.

O Brasil vive atualmente um momento desafiador, decorrente dos efeitos da extrema volatilidade dos hidrocarbonetos nos mercados internacionais. Adicionalmente, diversos fatores geopolíticos conhecidos por todos resultam em impactos não apenas sobre o preço da gasolina e do diesel, mas sobre todos os componentes energéticos. Dessa maneira, para que sejam mantidas as condições necessárias para o crescimento do emprego e renda dos brasileiros, é preciso fortalecer a capacidade de investimento do setor privado como um todo. Trabalhar e contribuir para um cenário equilibrado na área energética é fundamental para a geração de valor da Empresa, gerando benefícios para toda a sociedade”, cita o MME, no comunicado sobre a mudança.

Andrade é secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital e foi um dos nomes cogitados após Adriano Pires desistir de assumir a presidência da petroleira, em abril. Na ocasião, o governo acabou optando por Coelho, indicado pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Com a exoneração de Albuquerque do MME, a permanência de José Mauro Coelho na presidência da Petrobras se tornou incerta. Ele caiu em desgraça no Planalto após o reajuste de 8,8% dos preços do diesel promovido pela estatal no dia 10 de maio — dias após Jair Bolsonaro (PL) apelar para que a petroleira mantivesse os preços do diesel congelados até o fim da crise internacional que provocou uma disparada dos preços dos combustíveis.

“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação, levando-se em conta o lucro abusivo que vocês [Petrobras] têm. Vocês não podem quebrar o Brasil”, disse Bolsonaro, no dia 5.

Guedes amplia influência sobre Petrobras

Desde a exoneração de Bento Albuquerque, a troca no comando da Petrobras vinha sendo defendida por integrantes do alto escalão do governo, sob o argumento de que a cúpula da estatal precisa estar mais alinhada ao novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida.

Segundo interlocutores de Guedes, o ministro tem defendido que a Petrobras aumente o intervalo de tempo entre os reajustes dos combustíveis, para amortecer a alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional. Se vingar a ideia de Guedes, esse intervalo pode aumentar para 100 dias ou mais.

Nas últimas semanas, Coelho estava “sob fritura” dentro do governo.

Pesquisa divulgada na sexta-feira (20/5) pelo Ipespe indica que a Petrobras está levando a culpa, ante a opinião pública, pelo aumento dos preços dos combustíveis. Dentre os mil entrevistados, 88% veem a estatal como responsável pela inflação dos derivados — sendo que 64% das pessoas indicaram que a estatal tem “muita responsabilidade” pelo encarecimento dos combustíveis.

Apontado no início de abril como principal responsável pela inflação dos combustíveis, segundo pesquisa da Genial/Quaest, Bolsonaro intensificou as críticas contra a administração da Petrobras nas últimas semanas. Mesmo assim, a pesquisa do Ipespe revela que o presidente da República também leva culpa pela inflação: 70% dos entrevistados responsabilizam Bolsonaro pela crise dos preços: 45% acreditam que o presidente tem “muita responsabilidade” no caso.

Petrobras terá 4º CEO em pouco mais de um ano

Coelho é o terceiro presidente da Petrobras demitido no governo Bolsonaro. Antes dele, o economista Roberto Castello Branco (2019-2021) e o general Joaquim Silva e Luna (2021-2022) saíram, após crises envolvendo reajustes dos combustíveis. Andrade será, portanto, o quarto presidente a assumir a estatal em pouco mais de um ano, desde abril de 2021.

A demissão de Coelho forçará uma nova eleição para o conselho de administração da Petrobras. A atual composição do colegiado foi definida em assembleia de acionistas, em abril.

Pelas regras, a saída de qualquer membro eleito por voto múltiplo, como ocorreu na ocasião, implica na destituição de todos os demais conselheiros eleitos pelo mesmo mecanismo: Márcio Weber (o presidente do conselho), Murilo Marroquim, Sônia Villalobos, Luiz Henrique Caroli, Ruy Schneider, Marcelo Gasparino e Juca Abdalla.

Uma nova assembleia de acionistas, portanto, terá que ser convocada.

Os 40 dias de José Mauro Coelho

Coelho assumiu a presidência da Petrobras no dia 14 de abril, com um discurso de continuidade. Logo na posse, defendeu que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado.

E se comprometeu a manter as diretrizes do atual plano de negócios da empresa, “maximizando valor do portfólio” com foco no pré-sal e venda de campos maduros e ativos no refino e gás natural.

Menos de um mês depois, entrou em desgraça junto ao governo, ao anunciar o lucro líquido de R$ 44,5 bilhões, referentes ao primeiro trimestre — período em que a estatal foi comandada por Silva e Luna, e não Coelho.

Bolsonaro começou, ali, a aumentar o tom das críticas à petroleira. Classificou o lucro da companhia de abusivo e clamou para que empresa não reajustasse os preços dos combustíveis — o que a estatal, sob a gestão de Coelho, fez dias depois.

A troca no comando da petroleira já vinha sendo trabalhada nos bastidores de Brasília. Nesta segunda-feira (23/5), horas antes do anúncio da demissão, Bolsonaro manifestou o seu descontentamento com a gestão da Petrobras em relação ao corte de 30% das importações de gás da Bolívia ao Brasil, conforme antecipado pela agência epbr.

“A Bolívia cortou 30% do nosso gás. para entregar para a Argentina… Como agiu a Petrobras nessa questão também? Parece que é tudo orquestrado. O gás, se quiser comprar de outro local, é cinco vezes mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável?”, comentou, com apoiadores.