RIO — Quarenta dias após a posse de José Mauro Coelho na presidência da Petrobras, o governo de Jair Bolsonaro decidiu trocar novamente o comando da estatal, informou o Ministério de Minas e Energia. Caio Mário Paes de Andrade, da equipe econômica do ministro Paulo Guedes, foi indicado para o cargo.
O Brasil vive atualmente um momento desafiador, decorrente dos efeitos da extrema volatilidade dos hidrocarbonetos nos mercados internacionais. Adicionalmente, diversos fatores geopolíticos conhecidos por todos resultam em impactos não apenas sobre o preço da gasolina e do diesel, mas sobre todos os componentes energéticos. Dessa maneira, para que sejam mantidas as condições necessárias para o crescimento do emprego e renda dos brasileiros, é preciso fortalecer a capacidade de investimento do setor privado como um todo. Trabalhar e contribuir para um cenário equilibrado na área energética é fundamental para a geração de valor da Empresa, gerando benefícios para toda a sociedade”, cita o MME, no comunicado sobre a mudança.
Andrade é secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital e foi um dos nomes cogitados após Adriano Pires desistir de assumir a presidência da petroleira, em abril. Na ocasião, o governo acabou optando por Coelho, indicado pelo ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Com a exoneração de Albuquerque do MME, a permanência de José Mauro Coelho na presidência da Petrobras se tornou incerta. Ele caiu em desgraça no Planalto após o reajuste de 8,8% dos preços do diesel promovido pela estatal no dia 10 de maio — dias após Jair Bolsonaro (PL) apelar para que a petroleira mantivesse os preços do diesel congelados até o fim da crise internacional que provocou uma disparada dos preços dos combustíveis.
“Vocês não podem, ministro Bento Albuquerque e senhor José Mauro, da Petrobras, não podem aumentar o preço do diesel. Não estou apelando, estou fazendo uma constatação, levando-se em conta o lucro abusivo que vocês [Petrobras] têm. Vocês não podem quebrar o Brasil”, disse Bolsonaro, no dia 5.
Guedes amplia influência sobre Petrobras
Desde a exoneração de Bento Albuquerque, a troca no comando da Petrobras vinha sendo defendida por integrantes do alto escalão do governo, sob o argumento de que a cúpula da estatal precisa estar mais alinhada ao novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida.
Segundo interlocutores de Guedes, o ministro tem defendido que a Petrobras aumente o intervalo de tempo entre os reajustes dos combustíveis, para amortecer a alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional. Se vingar a ideia de Guedes, esse intervalo pode aumentar para 100 dias ou mais.
Nas últimas semanas, Coelho estava “sob fritura” dentro do governo.
Pesquisa divulgada na sexta-feira (20/5) pelo Ipespe indica que a Petrobras está levando a culpa, ante a opinião pública, pelo aumento dos preços dos combustíveis. Dentre os mil entrevistados, 88% veem a estatal como responsável pela inflação dos derivados — sendo que 64% das pessoas indicaram que a estatal tem “muita responsabilidade” pelo encarecimento dos combustíveis.
Apontado no início de abril como principal responsável pela inflação dos combustíveis, segundo pesquisa da Genial/Quaest, Bolsonaro intensificou as críticas contra a administração da Petrobras nas últimas semanas. Mesmo assim, a pesquisa do Ipespe revela que o presidente da República também leva culpa pela inflação: 70% dos entrevistados responsabilizam Bolsonaro pela crise dos preços: 45% acreditam que o presidente tem “muita responsabilidade” no caso.
Petrobras terá 4º CEO em pouco mais de um ano
Coelho é o terceiro presidente da Petrobras demitido no governo Bolsonaro. Antes dele, o economista Roberto Castello Branco (2019-2021) e o general Joaquim Silva e Luna (2021-2022) saíram, após crises envolvendo reajustes dos combustíveis. Andrade será, portanto, o quarto presidente a assumir a estatal em pouco mais de um ano, desde abril de 2021.
A demissão de Coelho forçará uma nova eleição para o conselho de administração da Petrobras. A atual composição do colegiado foi definida em assembleia de acionistas, em abril.
Pelas regras, a saída de qualquer membro eleito por voto múltiplo, como ocorreu na ocasião, implica na destituição de todos os demais conselheiros eleitos pelo mesmo mecanismo: Márcio Weber (o presidente do conselho), Murilo Marroquim, Sônia Villalobos, Luiz Henrique Caroli, Ruy Schneider, Marcelo Gasparino e Juca Abdalla.
Uma nova assembleia de acionistas, portanto, terá que ser convocada.
Os 40 dias de José Mauro Coelho
Coelho assumiu a presidência da Petrobras no dia 14 de abril, com um discurso de continuidade. Logo na posse, defendeu que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado.
E se comprometeu a manter as diretrizes do atual plano de negócios da empresa, “maximizando valor do portfólio” com foco no pré-sal e venda de campos maduros e ativos no refino e gás natural.
Menos de um mês depois, entrou em desgraça junto ao governo, ao anunciar o lucro líquido de R$ 44,5 bilhões, referentes ao primeiro trimestre — período em que a estatal foi comandada por Silva e Luna, e não Coelho.
Bolsonaro começou, ali, a aumentar o tom das críticas à petroleira. Classificou o lucro da companhia de abusivo e clamou para que empresa não reajustasse os preços dos combustíveis — o que a estatal, sob a gestão de Coelho, fez dias depois.
A troca no comando da petroleira já vinha sendo trabalhada nos bastidores de Brasília. Nesta segunda-feira (23/5), horas antes do anúncio da demissão, Bolsonaro manifestou o seu descontentamento com a gestão da Petrobras em relação ao corte de 30% das importações de gás da Bolívia ao Brasil, conforme antecipado pela agência epbr.
“A Bolívia cortou 30% do nosso gás. para entregar para a Argentina… Como agiu a Petrobras nessa questão também? Parece que é tudo orquestrado. O gás, se quiser comprar de outro local, é cinco vezes mais caro. Quem vai pagar a conta? E quem vai ser o responsável?”, comentou, com apoiadores.