Energia

Repsol vê Brasil como exportador de tecnologia para transição energética

Empresa prevê investir R$ 200 milhões em P&D no país nos próximos dois anos

José Salinero, Gerente de P&D da Repsol Sinopec Brasil. Repsol vê Brasil como exportador de tecnologia para transição energética, como CCUS e hidrogênio
José Salinero, Gerente de P&D da Repsol Sinopec Brasil (Foto: Divulgação)

RIO — A Repsol Sinopec Brasil pretende migrar os investimentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no país, até então focados em exploração e produção de óleo e gás, para estudos em captura de carbono e renováveis — como solar, eólicas offshore e, possivelmente, hidrogênio verde.

A empresa prevê investir, nos próximos dois anos, cerca de R$ 200 milhões em P&D no Brasil — mais do que os R$ 185 milhões investidos nos últimos cinco anos. A previsão é que 25% do orçamento seja aplicado numa nova linha de pesquisa relacionada à transição energética e renováveis.

Na epbr

Os investimentos previstos fazem parte da cláusula de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) presente nos contratos de concessão desde 1998. A regra determina o aporte, na área de PD&I, de até 1% da receita bruta gerada por campos de grande rentabilidade ou com grande volume de produção — aqueles nos quais incidem a cobrança de participação especial (PE).

“Estamos mudando de portfólio puro de óleo e gás para um portfólio mais focado na transição”, disse o gerente de P&D da Repsol Sinopec Brasil, José Salinero, em entrevista à agência epbr. “A estratégia aprovada no conselho é [investir] na transição energética, e não em exploração e produção”, completou

Segundo ele, os compromissos em P&D devem ser vistos como “uma oportunidade, não uma obrigação”. Salinero acredita que o Brasil pode se tornar um grande exportador de tecnologias para o grupo Repsol, na sua estratégia de descarbonização.

A companhia espanhola tem como meta global reduzir a intensidade de carbono de suas atividades em 28% na próxima década; e em 55% até 2040. A empresa quer se tornar uma empresa de zero emissões líquidas em 2050.

“Vários produtos em desenvolvimento no Brasil estão sendo aplicados em outros artigos da Repsol pelo mundo e vamos fazer o mesmo com os produtos tecnológicos associados à transição energética”, pontua. “P&D é a ponta de lança para o processo de descarbonização da Repsol”, disse Salinero, que coordenou, até o ano passado, a equipe de inovação da Repsol na Espanha.

A Repsol Sinopec Brasil é uma sociedade entre a espanhola Repsol e a chinesa Sinopec.

Novas linhas de pesquisa

Uma das linhas de pesquisa que vêm sendo conduzidas pela companhia no Brasil é o desenvolvimento de tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS, na sigla em inglês).

“O Brasil vai ser a peça fundamental para os projetos pilotos que Repsol vai fazer em nível mundial (…) A ideia é que sejamos o hub de inovação de CCUS no mundo, aqui no Brasil”, comentou.

O projeto CO2CHEM, por exemplo, estuda a fabricação de diesel e gasolina a partir de CO2 capturado. Já o o projeto COIN investiga a otimização dos ciclos de injeção do CO2 em reservatórios, com o objetivo de aumentar o volume de CO2 permanentemente armazenado nessas formações geológicas.

Ele explica que, depois da matriz, o Brasil é o país com maior investimento em tecnologia da companhia no mundo.

Entre as novas linhas de pesquisa para transição energética no Brasil, o executivo cita que uma área em avaliação é o potencial para desenvolver novas soluções de energia solar fotovoltaica para o agronegócio.

“No Brasil, há uma oportunidade espetacular de desenvolver tecnologia fotovoltaica associada a uma agricultura mais sustentável dando acesso a grandes produções uma energia mais eficiente, mais barata e limpa”, pontua o gerente de P&D da Repsol Sinopec.

Em relação às eólicas offshore, Salinero explica que a empresa avalia o mercado e possíveis parcerias com outras companhias que já demonstraram interesse em projetos do tipo no Brasil, para estudo de novas tecnologias. Atualmente, o país discute a regulação e todos os projetos ainda estão em fase inicial de licenciamento ambiental.

“Estaremos analisando possibilidades de desenvolvimento tecnológico de eólicas offshore no Brasil, utilizando ativos do Brasil, da Repsol ou não. Mas é possível que façamos parcerias com [empresas como] Equinor e empresas que já possuem investimentos aqui”, disse.

Hidrogênio verde na estratégia de descarbonização

Diretor de Hidrogênio da Repsol, Tomás Malango: hidrogênio renovável é um dos pilares da estratégia de descarbonização (Repsol)
Diretor de Hidrogênio da Repsol, Tomás Malango: hidrogênio renovável é um dos pilares da estratégia de descarbonização (Repsol)

Na Espanha, a Repsol anunciou no ano passado investimentos de 2,5 bilhões de euros em projetos de hidrogênio verde — que devem alcançar 1,9 GW até 2030.

A companhia também lidera o consórcio SHYNE (Spanish Hydrogen Network), ao lado de 33 empresas espanholas, que prevê aportes de 2,2 bilhões de euros para desenvolver a tecnologia no país.

“O hidrogênio renovável é um dos pilares da empresa em sua estratégia de descarbonização. A Repsol implementará um conjunto de projetos e iniciativas em toda a cadeia de valor do hidrogênio renovável”, afirmou o diretor de Hidrogênio da Repsol, Tomás Malango, à agência epbr.

“A companhia está impulsionando importantes iniciativas regionais para promover a criação de clusters de hidrogênio, onde o objetivo é adequar a capacidade de produção às necessidades da indústria do entorno”, completa.

Malango explica que a Repsol utilizará diferentes tecnologias para produção do hidrogênio renovável, como eletrolisadores, reforma de biogás e fotoeletrocatálise — esta última é uma tecnologia exclusiva da companhia que permite a quebra da molécula de água em hidrogênio e oxigênio renováveis ​​em uma única etapa, diretamente da radiação solar e sem a necessidade de conectar os dispositivos a uma fonte de energia elétrica.

“Desta forma, é possível reduzir significativamente o custo do processo ao não depender do preço da energia elétrica e, ao mesmo tempo, aumentar sua competitividade”, conta o diretor.

Na via da eletrólise, principal rota entre investidores mundiais para produção de hidrogênio verde, a energia elétrica pode representar até 70% do custo do produto final.

No Brasil, a companhia ainda está focada na exploração e produção de gás.  Apesar de não confirmar as intenções da Repsol Sinopec Brasil em produzir hidrogênio verde nacional, Salinero não descarta que o país entre no radar da Repsol.

“Se Brasil é o país que mais investimos em tecnologia, depois da Espanha, tem um sistema potente de pesquisa, e também um país onde se está desenvolvendo a tecnologia do hidrogênio como driver de construção de um mix energético novo, tudo aponta que será um dos [países] que vai estar certamente na carteira da Repsol”, avalia o executivo.

Salinero destacou a importância do setor de óleo e gás no financiamento da transição energética.

“Os recursos gerados pelo óleo e gás vão permitir os investimentos em hidrogênio. A possibilidade de desenvolver o hidrogênio passa primeiro pela capacidade que o Brasil tenha de valorizar sua reserva de gás”, afirmou o gerente de P&D da Repsol Sinopec.

Atualização: texto alterado para refletir que novas linhas de atuação da companhia em solar fotovoltaica e eólicas offshore são áreas ainda em estudo, sem decisão final para investimento futuro.