Gás Natural

Crise dos preços do GNL não prejudica terminal de São Paulo, diz Cosan

Projeto de regaseificação da Compass, no entanto, vive impasse regulatório com a ANP

CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães. Homem branco, de cabelos curtos e grisalhos, óculos terno escuro e gravata lilás está assentado com as mãos sobre mesa de madeira (Foto: Cortesia)
CEO da Cosan, Luis Henrique Guimarães (Foto: Cortesia)

RIO — O diretor-presidente da Cosan, Luís Henrique Guimarães, afirmou nesta segunda-feira (16/5) que o pico de preços do gás natural liquefeito (GNL) no mercado internacional não prejudicará a execução do projeto do terminal de regaseificação de São Paulo (TRSP) e que o ativo será entregue dentro do prazo, no primeiro semestre de 2023.

O empreendimento faz parte dos planos de expansão da Compass – empresa do grupo para as áreas de distribuição, infraestrutura, comercialização e geração a gás.

Segundo o executivo, a companhia não olha para o terminal como uma oportunidade de comercialização de gás somente numa janela de curto prazo, e sim como um projeto estruturante que permitirá à empresa, numa perspectiva de longo prazo, fazer “contestação de preço no mercado local” e diversificar as fontes de suprimento da distribuidora Comgás, controlada pelo grupo.

Além disso, Guimarães comentou que os contratos de aluguel da FSRU (unidade flutuante de regaseificação e armazenamento) e contratação da molécula do gás foram assinados antes da crise de preços do GNL no mercado internacional, em condições comerciais mais vantajosas que as atuais.

O TRSP está sendo construído no Porto de Santos e tem uma capacidade de regaseificação licenciada de 14 milhões de m³/dia. A Compass tem acordos com a Höegh LNG para afretamento da FSRU e com a Total Gas and Power para o potencial suprimento de 10 milhões de m³/dia de GNL, ambos por dez anos.

“Temos custos mais competitivos de construção do terminal do que se tivéssemos começado agora [o projeto]. Nossa visão é maximizar retorno no ciclo de vários anos. Não prevemos nenhuma dificuldade [com o avanço do projeto], foi uma posição construída antes da crise”, disse Guimarães, durante teleconferência com analistas e investidores.

Impasse com a ANP

O terminal de GNL de São Paulo está, de acordo com a análise da equipe técnica da ANP, associado ao gasoduto Subida da Serra, da Comgás.

Responsável pelo processo de autorização de operação do terminal, a agência classificou o gasoduto da concessionária paulista como de transporte, e não de distribuição — o que inviabilizaria os planos da distribuidora de incorporá-lo a sua base de ativos, se efetivado o entendimento do órgão regulador.

Para a agência reguladora de São Paulo, a Arsesp, no entanto, a decisão da ANP é ilegal e ignora que o chamado Reforço Metropolitano está plenamente circunscrito na área de concessão estadual, sem prejuízos à infraestrutura de transporte sob regulação federal.

A ATGÁS, associação que representa as transportadoras de gás natural, por sua vez, pede a paralisação das obras do gasoduto Subida da Serra.

A ANP não acatou a solicitação até o momento, mas decidiu acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar o decreto de João Dória (PSDB), que criou regras locais de classificação de gasodutos, em julho de 2021.

Sem mencionar o impasse, o CEO da Cosan informou que as obras de construção do terminal seguem normalmente.

Aprovação da Gaspetro até julho

Guimarães comentou também sobre a aquisição da Gaspetro. A expectativa do executivo é que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) conclua a análise sobre o negócio até julho.

A Superintendência Geral (SG) do órgão antitruste já deu sinalização a favor da aprovação do negócio, sem restrições. O relator do caso no Cade, o conselheiro Luiz Hoffmann. prorrogou o prazo para diligências e análises da operação até julho por considerá-la uma operação complexa.

A Gaspetro é uma holding com participação societária em 18 distribuidoras de gás natural. A intenção da Compass, no entanto, é se desfazer de parte dos ativos após a conclusão da compra.

A empresa informou ao mercado, em março, que assinou dois contratos, com companhias diferentes, para vender a participação que a empresa do grupo Cosan deterá, se aprovada a operação, em até 13 distribuidoras nas quais a Gaspetro detém fatias minoritárias.

“Achamos saudável a existência de outros players. É um mercado subdesenvolvido. Um player sozinho não é capaz de fazer o desenvolvimento”, disse.

Sem especificar que distribuidoras serão vendidas, o executivo se limitou a dizer que a Compass ficará com os ativos nos quais enxerga “maior sinergia” e “capacidade de absorver o modelo [da Comgás]”.

“Continuamos bastante otimistas [com a negociação da Gaspetro]”, afirmou.

O risco eleitoral

O braço de comercialização de gás da Compass, por outro lado, tem evoluído aquém do esperado, segundo Guimarães.

Ele disse que não se trata, contudo, de dificuldades impostas pela volatilidade do mercado internacional, e sim devido à falta de disponibilidade de ofertantes.

“Mas estaremos prontos para quando o mercado oferecer as oportunidades”, afirmou.

Ele também comentou sobre os riscos associados a uma eventual troca de governo.

Ao se referir indiretamente à disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o executivo disse que os dois oponentes se tratam “de certa forma de conhecidos do ponto de vista da direção e pensamento”.

Ele mencionou ainda que a Cosan não atua na produção de gás e derivados de petróleo, o que põe a empresa numa posição menos exposta a intervenções.