RIO — O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, afirmou, nesta sexta-feira (6/5), que o lucro de R$ 44,8 bilhões registrado pela companhia no primeiro trimestre não está relacionado aos reajustes praticados nos preços dos combustíveis. Ele defendeu ainda que o resultado financeiro sólido da empresa se reflete numa maior arrecadação dos cofres públicos e é um vetor econômico importante para a economia do país.
O executivo rebateu as críticas de Jair Bolsonaro — que apelou, na quinta-feira (5/5), para que a Petrobras reduza a “voracidade do lucro” e segure os reajustes, para evitar uma “convulsão social”. O presidente da República disse que a empresa está “abusando do povo brasileiro” e que a inflação dos combustíveis pode “quebrar e levar o Brasil para uma situação bastante complicada”.
“Não há uma relação significante entre o resultado da Petrobras e os reajustes dos preços dos combustíveis. Cerca de 80% dos ganhos do período [do primeiro trimestre] foram provenientes das atividades de exploração e produção do petróleo”, comentou Coelho, durante coletiva de imprensa.
Ele citou que o lucro obtido pela companhia foi reflexo, sobretudo, do aumento dos preços do petróleo no mercado internacional. E destacou que “um bom resultado da Petrobras repercute para a sociedade como um todo”, contribuindo para a arrecadação de estados, municípios, União e cerca de 700 mil acionistas brasileiros.
Ao comentar os resultados da companhia no primeiro trimestre, Coelho afirmou que o lucro registrado no período permitiu à Petrobras distribuir R$ 48 bilhões em dividendos aos acionistas, incluindo a União; e repassar cerca de R$ 70 bilhões aos estados, municípios e Tesouro Nacional em tributos e participações governamentais (como royalties).
O novo presidente da Petrobras afirmou, ainda, que a prática de preços de mercado é uma diretriz estratégica definida pelo conselho de administração da companhia e deve, portanto, ser executada como um dever pelo comando da estatal.
“Acho legítima a preocupação do presidente da República em relação aos preços mais elevados dos combustíveis. Isso está acontecendo em todo o mundo e é uma preocupação de todos os líderes governamentais. Mas por dever de diligência os administradores da Petrobras — e de todas as empresas de capital aberto — devem atuar, no caso da Petrobras, de acordo com a política de preços da companhia”, disse.
Ele mencionou ainda, que a Petrobras não é insensível à sociedade brasileira e que, mesmo acompanhando as tendências dos preços internacionais, a companhia evita repassar as volatilidades de imediato para o mercado doméstico.
Coelho passa por primeiro teste de pressão
As críticas de Bolsonaro a José Mauro e ao comando da Petrobras acontecem menos de um mês após o presidente da República trocar o comando da estatal, por insatisfação com a política de preços da petroleira.
A Petrobras está há 56 dias sem reajustar os preços nas refinarias, mas o valor do litro da gasolina bateu novo recorde nos postos brasileiros na semana passada, de acordo com dados da ANP. Em paralelo, no mercado global, os preços do diesel continuam em alta e a Petrobras vem praticando preços abaixo da paridade internacional — com defasagens de 17% da gasolina e 21% no diesel, segundo a Abicom, representante dos importadores privados, concorrentes da estatal no abastecimento do mercado doméstico.
Há menos de um mês no cargo, Coelho sente a pressão política de Bolsonaro e do Congresso logo no início de sua administração. Na quarta-feira (4/5), o presidente da Petrobras foi convidado a ir à Câmara dos Deputados prestar esclarecimentos sobre a política de preços da empresa.
O novo presidente da Petrobras repete a retórica das gestões passadas da empresa, ao afirmar que o foco numa administração baseada na geração de valor permite à Petrobras retornar mais renda à sociedade na forma de impostos, royalties e tributos aos governos federal, estaduais e municipais.
José Mauro Coelho é o terceiro presidente da Petrobras no governo de Jair Bolsonaro (PL), que demitiu Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna em meio a crises desencadeadas por aumentos nos preços dos combustíveis.
A troca mais recente no comando da estatal teve como estopim o reajuste de 18,7% da gasolina e de 24,9% do diesel, válido desde 11 de março, enquanto Bolsonaro pressionava Silva e Luna a manter os preços temporariamente congelados, na expectativa de que a cotação do petróleo começasse a ceder após o pico registrado no início da guerra na Ucrânia.
Bolsonaro sente a pressão política da inflação dos derivados. O presidente da República foi apontado em pesquisa Genial/Quaest, de abril, como o principal responsável pela inflação dos derivados no país.