Diálogos da Transição

Estado precisa ser indutor da digitalização e eficiência energética, diz estudo

Governo precisa resolver regulação para atrair investimentos privados na adoção de tecnologias digitais

Estado precisa ser indutor da digitalização e eficiência energética, diz estudo. Na imagem, AQWA Corporate e São Paulo Corporate Towers: empreendimentos comerciais, em SP, com certificação LEED e uso de tecnologias digitais desde a concepção do projeto
AQWA Corporate e São Paulo Corporate Towers são empreendimentos comerciais, em SP, com certificação LEED e uso de tecnologias digitais desde a concepção do projeto (Foto: Alex Ramos/Pixabay)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 05/05/22
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Estudo lançado pelo governo brasileiro em parceria com a Alemanha indica que a digitalização acelerada nas edificações poderia evitar emissões da ordem de 815 mil toneladas CO2, com a eficiência energética atingindo níveis de 30% a 40% de um total de 161 TWh — o equivalente ao consumo anual de eletricidade de cerca de 3,3 milhões de domicílios.

Para isso, o Estado precisaria atuar como indutor e resolver questões regulatórias a fim de atrair investimentos privados na rápida adoção de tecnologias digitais.

A análise aponta os Ministérios de Minas e Energia (MME), Economia (ME) e Desenvolvimento Regional (MDR) como “os mais importantes atores” nesse movimento.

A digitalização permite a coleta, armazenamento, organização e processamento de dados para gerar informações úteis e otimizar a distribuição de energia, tornando também mais eficiente a integração de edifícios em sistemas urbanos.

Eficiência é a palavra-chave. “Edificações inteligentes podem usar o potencial de deslocamento de carga para uma integração eficiente de sistemas de energia renovável”, diz o estudo. Veja na íntegra (.pdf)

O segmento de edificações responde por cerca de 1/6 do consumo de energia e 50% do consumo de eletricidade no Brasil, o que traz desafios como escolhas mais eficientes entre geração local e centralizada, digitalização de redes de distribuição de eletricidade e expansão de redes de gás natural.

O documento identifica 22 condicionantes do futuro da digitalização — onze político-regulatórios — e traz 41 recomendações, a maior parte delas relacionadas a barreiras mercadológicas e financeiras (16) e institucionais (10).

“Hoje é ainda baixo o grau de digitalização no segmento de edificações no Brasil, especialmente em função dos altos custos de investimento e da dificuldade de se estimar os benefícios proporcionados pelas tecnologias digitais neste segmento”, dizem os autores do relatório.

Além disso, falta sinergia entre as políticas habitacionais, de digitalização e de eficiência. E os processos de normalização e regulamentação não acompanham o ritmo de evolução das tecnologias digitais.

Não à toa, a primeira recomendação é “revisar o marco institucional relativo à eficiência energética”.

Três cenários. Resultado de uma parceria entre MME, MDR e o Ministério Federal da Economia e Ação Climática da Alemanha (BMWK), o estudo desenha três cenários para o Brasil.

No primeiro, a digitalização ocorre em ritmo lento, com indução pelo Estado limitada a edificações públicas, com ênfase nas habitações de interesse social, e a adoção de soluções ocorre de forma autônoma seguindo a evolução natural do mercado nacional.

Como consequência, o potencial de eficiência energética é baixo, ficando em níveis inferiores a 10% do total de 161 TWh até 2050.

No cenário de digitalização moderada, instrumentos regulatórios de digitalização e eficiência energética miram edificações públicas, comerciais e de serviços. Políticas públicas habitacionais incluem mecanismos voltados para o aumento de eficiência e da digitalização em habitações de interesse social, com ênfase em tecnologias de aplicação transversal.

Isso levaria a uma participação crescente de investimentos privados, elevando o potencial de eficiência energética a patamares de 20% a 30% dos 161 TWh até 2050.

Já na última projeção, na qual a digitalização ocorre em ritmo rápido, o Estado funciona como um forte indutor, atraindo ampla participação de investimentos privados.

Todos os tipos de edificações são abrangidos pela integração entre os diversos mecanismos institucionais e regulatórios voltados para digitalização, eficiência energética e habitação. A eficiência atinge níveis de 30% a 40%.

Cobrimos por aqui:

Janela para equipamentos menos eficientes. O MME publicou na terça (3/4) o novo programa de metas para condicionadores de ar, com novos índices mínimos de eficiência energética para os aparelhos do Brasil.

O documento também define datas limites para fabricação, importação e comercialização dos equipamentos com os índices antigos.

Na primeira fase, mantém os Índices de Desempenho de Resfriamento Sazonal (IDRS) entre 2,75 e 3,14 (os valores variam de acordo com modelos) com prazos até 2024 para que as lojas vendam equipamentos dentro dessa norma.

Na fase 2, quando realmente acontece a mudança, o IDRS sobe para os mínimos de 3,15 a 4,5 dependendo do modelo. Os fabricantes e importadores têm até 31 de dezembro de 2025 para começar a fabricar e até o final de 2026 para vender. Atacadistas e varejistas terão até 31 de dezembro de 2027 para se enquadrar.

“Essa portaria deixa um prazo de cinco anos para que a indústria se adeque e retire do mercado equipamentos menos eficientes. Com isso, apenas em 2026 os aparelhos que tenham velocidades fixas definidas — com menor eficiência — devem deixar de ser produzidos”, comenta Rodolfo Dourado, coordenador da Rede Kigali, em entrevista à epbr.

Debêntures para eólica. A Casa dos Ventos emitiu nesta quarta (4/5) seus primeiros títulos verdes para investir em projetos com benefícios ambientais. As debêntures verdes somam R$ 430 milhões e vão financiar parte da expansão do Complexo Eólico Rio do Vento — um dos maiores parques onshore do mundo.

A oferta foi coordenada pelos bancos BTG Pactual (coordenador líder), Itaú BBA e BNDES. Esta é a primeira participação do banco público na coordenação de emissão de debêntures. Os títulos terão remuneração semestral e prazo total de 16 anos.

Faculdades com fotovoltaica. O grupo Ser Educacional espera alcançar uma economia de 88% na conta de energia com a instalação de uma usina solar fotovoltaica no Agreste de Pernambuco, para abastecer 12 de suas unidades universitárias.

Instalada em Caruaru, a usina já gerou, desde o dia 15 de fevereiro, mais de 318,6 MWh — o volume de energia também evitou a emissão de 34,6 ton de CO2, o equivalente a plantar 148 árvores, informa o grupo. A longo prazo, a redução de emissões é calculada em 207,81 toneladas por ano.

Armazenamento gravitacional. A Energy Vault Brasil se juntou ao grupo de empresas interessadas no hub de hidrogênio verde do Porto de Pecém, no Ceará. A companhia aposta em uma solução de armazenamento gravitacional de energia e levantou US$ 235 milhões em sua estreia na Bolsa de Nova Iorque (Nymex), este ano.

A ideia é entrar no hub de Pecém como fornecedora da tecnologia. O negócio da Energy Vault se baseia uma nova forma de armazenamento de energia, utilizando um sistema de geração baseado na elevação de blocos, em substituição à água, por exemplo, como fonte de energia cinética para movimentação de turbina — as hidrelétricas reversíveis, já conhecidas do mercado.

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