RIO — A Petrobras vai aumentar em 19%, na média, o preço do gás natural vendido às distribuidoras, como parte dos reajustes trimestrais previstos nos contratos de suprimento com as concessionárias.
Os novos valores começam a valer a partir de domingo (1/5), com vigência, portanto, até 31 de julho.
As informações foram publicadas por O Globo e confirmadas pela agência epbr.
O repasse do aumento do gás da Petrobras para o consumidor final, contudo, depende do efeito de liminares e dos reajustes regulares, feitos caso a caso, nos estados — entenda como os consumidores são afetados.
No Rio de Janeiro, por exemplo, as tarifas da CEG, controlada pela Naturgy, serão reajustadas em 6,8% no segmento residencial; 7,05% no comercial; 18,52% no industrial; e 19,58% no automotivo.
O reajuste foi aprovado pela Agenersa ontem (28/4) e toma como base a indexação prevista no contrato entre Petrobras e Naturgy que se encerrou em dezembro, mas que continua valendo no Rio por força de liminar.
É um dos casos em que a relação das distribuidoras com a Petrobras foi parar na Justiça durante as negociações dos novos contratos em 2021.
A Naturgy conseguiu manter, na Justiça do Rio, as condições dos contratos que venceram no fim de 2021 e, assim, impedir um aumento ainda maior no preço do gás comprado da petroleira estatal.
As distribuidoras de Sergipe, Ceará, Alagoas, Espírito Santo, Santa Catarina e Minas Gerais também conseguiram liminares impedindo o aumento.
A estatal alega a necessidade de cobrir o aumento dos custos com a importação de gás, enquanto as distribuidoras veem abuso de poder de mercado da Petrobras.
A Abegás, entidade que representa as distribuidoras estaduais, ressaltou, em nota, que “o aumento que será aplicado pela Petrobras será repassado para o consumidor sem que as distribuidoras tenham qualquer ganho decorrente desse aumento”.
E voltou a cobrar medidas regulatórias da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para promover a concorrência no suprimento do gás.
- Entenda o que está na agenda regulatória da ANP e o que foi alcançado no primeiro ano da nova Lei do Gás, quando os primeiros gasodutos começam a sair do papel
“As distribuidoras, em busca de condições melhores de preço da molécula para seus consumidores, realizaram chamadas públicas para contratação de gás natural. Contudo, por falta das condições regulatórias — que deveriam ter sido estabelecidas pela ANP — o acesso a determinadas infraestruturas ficou prejudicado e inviabilizou a oferta de outros produtores, importadores e comercializadores”, diz a Abegás, em nota.
Inflação de dois dígitos
Jair Bolsonaro, que já demitiu dois presidentes da Petrobras em razão da alta nos preços dos combustíveis, enfrenta uma inflação de dois dígitos na reta final nesse ano em que disputa a reeleição.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, ficou em 1,73% em abril deste ano. É a maior variação mensal desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior para um mês de abril desde 1995 (1,95%).
Com o resultado, o IPCA-15 acumula taxa de 4,31% no ano. Em 12 meses, a taxa acumulada chega a 12,03%, acima dos 10,79% acumulados no IPCA-15 de março. Os dados foram divulgados hoje (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Oito dos nove grupos de despesa tiveram alta de preços em abril. O maior impacto veio dos transportes, que registraram inflação de 3,43% na prévia do mês.
Entre os itens que se destacaram no período estão os combustíveis, que registraram alta de 7,54%, devido ao aumento nos preços da gasolina (7,51%), óleo diesel (13,11%), etanol (6,60%) e gás veicular (2,28%).
As informações são da Agência Brasil.
Crise internacional do gás natural
Enquanto a União Europeia promete zerar as importações de óleo e gás da Rússia, Moscou anunciou esta semana a interrupção no fornecimento de gás natural à Polônia e Bulgária a partir desta quarta-feira (27/4).
Os novos contornos do conflito no Leste Europeu se refletiram na alta dos preços do petróleo ontem (26/4). A guerra pressiona os preços da energia na Europa, de uma forma geral, e já faz países como a Itália defenderem medidas como teto para os preços do gás natural na Europa.
No Brasil, o preço gasolina bateu novo recorde nas bombas.
A Gazprom notificou autoridades da Polônia e Bulgária sobre a interrupção no fornecimento de gás, em reação à recusa de ambas as nações europeias em pagar pelo produto em rublos. Essa é uma exigência da Rússia, em resposta às sanções implementadas pelo Ocidente devido à invasão da Ucrânia, segundo informações do Valor Econômico.
Os europeus buscam alternativas ao gás russo: a Polônia aposta em um terminal de gás natural liquefeito (GNL) no Mar Báltico e em um gasoduto que ligará o país à Noruega, outro grande exportador de gás.
A Bulgária, por sua vez, informou que está tomando medidas para encontrar fontes alternativas e lidar com a situação. Cerca de 90% das importações de gás do país vêm da Rússia.
A demanda mundial por gás natural deve sofrer ligeira queda de 50 bilhões de metros cúbicos (bcm) em 2022 como resultado de preços mais altos e interrupções de mercado causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, mostra a última atualização trimestral da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
A previsão anterior, publicada em janeiro, era de crescimento de 1%. Agora, caiu para pouco abaixo de zero.
A revisão equivale a cerca de metade das exportações de gás natural liquefeito dos EUA no ano passado. O consumo global de gás natural cresceu 4,5% em 2021.
Os preços do gás spot subiram para recordes, uma vez que a pressão da Europa por uma oferta mais diversificada de gás natural intensificou a demanda por cargas de GNL, com algumas sendo desviadas da Ásia.
Os preços médios de GNL spot na Ásia durante a temporada de aquecimento de 2021-22 foram mais de quatro vezes a média de cinco anos. Na Europa, os preços spot de GNL foram cinco vezes maiores que a média de cinco anos, apesar do inverno ameno.
Novo presidente da Petrobras defende preços de mercado
O novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, sinaliza para a manutenção da política de preços dos combustíveis e já reverbera entre os caminhoneiros. A categoria começa a se mobilizar em protesto contra o alinhamento da estatal aos preços internacionais.
José Mauro Coelho tomou posse na semana passada com discurso de continuidade. Afirmou que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado.
A crise mais recente, que levou à demissão de Joaquim Silva e Luna, envolve os preços da gasolina e do diesel. Mas ano passado, Bolsonaro já fazia duras críticas aos reajuste do gás natural.
Há exatamente um ano, na posse de Silva e Luna, Bolsonaro afirmou que os reajustes no preço do gás eram “inadmissíveis”.
Na época, a alta era de 39% na média e, em razão do desgaste político, Bolsonaro havia acabado de demitir Roberto Castello Branco e nomear Silva e Luna, por influência do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Castello Branco havia sido uma escolha de Paulo Guedes.
“Podemos mudar essa política de preço lá”, afirmou Bolsonaro, que ainda não conseguiu ter total controle sobre a gestão da Petrobras.