Diálogos da Transição

Guerra deve estagnar demanda por gás natural em acirrada disputa por GNL

REPowerEU — o plano de independência energética da UE — visa um aumento de 50 bcm/ano no fornecimento de GNL

Guerra deve estagnar demanda por gás natural em acirrada disputa por GNL. Na imagem, Pacific Breeze, navio transportador de GNL do tipo MOSS, construído na Kawasaki Heavy Industries, no Japão (Foto: Kawasaki Kisen Kaisha/Divulgação)
Pacific Breeze, navio transportador de GNL do tipo MOSS, construído na Kawasaki Heavy Industries, no Japão (Foto: Divulgação)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 20/04/22

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Editada por Nayara Machado
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A demanda mundial por gás natural deve sofrer ligeira queda de 50 bilhões de metros cúbicos (bcm) em 2022 como resultado de preços mais altos e interrupções de mercado causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, mostra a última atualização trimestral da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

A previsão anterior, publicada em janeiro, era de crescimento de 1%. Agora, caiu para pouco abaixo de zero.

A revisão equivale a cerca de metade das exportações de gás natural liquefeito dos EUA no ano passado. O consumo global de gás natural cresceu 4,5% em 2021.

Os preços do gás spot subiram para recordes, uma vez que a pressão da Europa por uma oferta mais diversificada de gás natural intensificou a demanda por cargas de GNL, com algumas sendo desviadas da Ásia.

Os preços médios de GNL spot na Ásia durante a temporada de aquecimento de 2021-22 foram mais de quatro vezes a média de cinco anos. Na Europa, os preços spot de GNL foram cinco vezes maiores que a média de cinco anos, apesar do inverno ameno.

Pelas estimativas da IEA, o consumo de gás natural este ano deverá cair cerca de 6% na Europa. Na Ásia, espera-se um crescimento de 3% em 2022 — uma desaceleração acentuada em relação ao crescimento de 7% em 2021.

Regiões como as Américas, África e Oriente Médio devem ser menos afetadas pela volatilidade, uma vez que dependem principalmente da produção doméstica.

“Embora a concorrência mais acirrada pelo fornecimento de GNL seja inevitável à medida que a Europa reduz sua dependência do gás russo, a melhor e mais duradoura solução para os desafios energéticos atuais seria acelerar as melhorias na eficiência energética em nossas economias e a transição dos combustíveis fósseis”, disse Keisuke Sadamori, diretor de Mercados de Energia e Segurança da IEA.

Relatório da S&P Global Commodity Insights também chama a atenção para o papel do GNL como substituto dos suprimentos russos no médio prazo.

O REPowerEU — o plano de independência energética da União Europeia — visa um aumento de 50 bcm/ano no fornecimento de GNL para a Europa.

Segundo os analistas, apesar da “forte vontade dos governos europeus” de se tornarem independentes do gás russo, a maioria das metas da UE declaradas no REPowerEU são “tão agressivas” que devem ser vistas como aspiracionais.

“No entanto, à luz de mudanças monumentais na Europa, como o aumento de € 50 bilhões da Alemanha em gastos com defesa para o próximo ano, também esperamos mudanças sísmicas no cenário energético europeu. O GNL pode equilibrar as deficiências no cumprimento das metas de energia renovável e gás. Mas isso terá um custo alto”.

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O principal desafio será garantir um fornecimento suficiente de GNL.

“Para o período até meados de 2024, a única fonte de fornecimento incremental será através da reorientação do fornecimento já esperado na água, alcançado principalmente pela competição com o spot de compradores asiáticos”, diz o relatório da S&P Global.

A UE declarou que tem conversado com fornecedores dos EUA, Qatar e África, bem como detentores de contratos japoneses e coreanos, para garantir mais GNL para a Europa, mas não há detalhes específicos.

A análise da S&P Global sugere que novos contratos são necessários para garantir o fornecimento de GNL a médio prazo para a Europa a preços aceitáveis ​​para a economia, “mas as concessionárias estarão relutantes em assinar tais contratos por causa do risco de demanda de longo prazo”.

Demanda por combustíveis fósseis aumenta

No discurso, a crise energética desencadeada pela guerra da Rússia aumenta a motivação para acelerar projetos de energia limpa. Na prática, começou uma corrida de curto prazo por combustíveis fósseis — o que deve gerar bilhões de dólares em novos investimentos.

Estados Unidos e países europeus estão planejando terminais de GNL que ficarão ativos por décadas, enquanto a demanda por carvão aumenta em todo o mundo e os fornecedores de shale dos EUA serão pressionados a preencher uma lacuna potencial de oferta, para as nações que estão se afastando do gás natural russo. BloombergNEF

Net quase Zero. Reclaim Finance e outras três ONGs divulgaram hoje (20/4) um indicador de desempenho que classifica os 30 principais gestores de ativos em seus compromissos climáticos, com foco na abordagem para combustíveis fósseis.

Dos 30 gestores de ativos avaliados, 25 são membros da Net Zero Asset Manager Initiative (NZAM), mas nenhum deles estabeleceu critérios para que as empresas de seus portfólios parem de desenvolver novos projetos de carvão, petróleo ou gás alinhados à ciência do clima.

Segundo a análise, os 30 gestores de ativos detêm mais de US$ 82 bilhões em empresas que desenvolvem novos projetos de carvão.

Na indústria de petróleo e gás, juntos, os 30 gestores detêm US$ 468 bilhões em 12 grandes empresas de petróleo e gás com planos de expansão massivos.

O estudo conclui que políticas e diretrizes de investimento são falhas demais para alinhar as carteiras com uma meta de emissões líquidas zero, devido a critérios vagos que deixam a porta aberta para poluidores.

Dez dos gestores de ativos divulgaram metas de descarbonização para 2030, no entanto, as metas cobrem apenas uma pequena parte de suas carteiras. 17 têm agora uma política de carvão e 12 têm uma política de petróleo e gás.

A Vanguard, a State Street Global Advisors e a filial de gestão de ativos da Allianz, PIMCO, estão entre as maiores empresas sem nenhuma política de combustíveis fósseis.

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