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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 19/04/22
Editada por Nayara Machado
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A diretoria da norueguesa Equinor vai propor na próxima assembleia geral a substituição de petróleo por energia como atividade principal no seu estatuto. A reunião de acionistas está marcada para 11 de maio.
A proposta é alterar o artigo 1, que descreve como objeto da Equinor o envolvimento “na exploração, produção, transporte, refino e comercialização de petróleo e produtos derivados de petróleo e outras formas de energia, bem como outros negócios”.
Com o novo texto, o objeto passaria a ser “desenvolver, produzir e comercializar várias formas de energia e produtos e serviços derivados, bem como outros negócios”.
Segundo a Equinor, a nova redação se alinha à estratégia atual de fornecer energia com emissões menores, e eventualmente líquidas zero.
A proposta atende parcialmente a um apelo de acionistas ativistas que querem que a companhia abandone os negócios em petróleo — o que não deve acontecer.
O que diz o plano da Equinor
A Equinor também publicou nesta terça (19/4) seu primeiro plano de transição energética com a visão de como pretende alcançar emissões líquidas zero até 2050.
A estratégia tem três pilares: “produção de petróleo e gás focada e eficiente em carbono”, “expansão acelerada e orientada por valor em energias renováveis” e “liderança na construção de novas tecnologias e cadeias de valor de baixo carbono”:
- Reduzir pela metade as emissões operadas de gases de efeito estufa até 2030 em relação aos níveis de 2015, com 90% dos cortes provenientes de reduções absolutas;
- Melhorar a eficiência de carbono e metano no upstream;
- Alocação de mais da metade do investimento bruto anual de capital para soluções renováveis e de baixo carbono até 2030;
- Implantação de capacidade lucrativa de energia renovável e soluções CCS e hidrogênio;
- Reduzir a intensidade líquida de carbono, incluindo as emissões do uso de produtos vendidos (Escopo 3), em 20% até 2030 e 40% até 2035, abordando o desafio sistêmico de fornecer energia com emissões menores — e eventualmente líquidas zero — aos usuários finais.
“Para descarbonizar a sociedade, precisamos ser agentes efetivos de mudança na transição energética. Estabelecemos uma direção clara para aplicar nossa experiência, competência e força financeira de petróleo e gás a novos setores de criação de valor do sistema energético”, diz Jon Erik Reinhardsen, presidente do Conselho de Administração da Equinor.
Em fevereiro, a empresa incluiu a redução líquida de emissões de escopo 1 e 2 operadas em todo o grupo em 50% até 2030, e espera atingir 90% dessa ambição por meio de reduções absolutas, o que, segundo a Equinor, estaria de acordo com uma trajetória consistente com as metas do Acordo de Paris e um caminho de 1,5°C.
“Nosso plano de transição energética é baseado em ações. Acreditamos que isso demonstra que temos a estratégia, o nível de ambição, as capacidades e o histórico certos para ser uma empresa líder na transição energética, garantindo a criação de valor para os acionistas e a competitividade a longo prazo”, acrescenta Anders Opedal, CEO e Presidente da Equinor.
O plano traz informações sobre alocação de capital, engajamento de políticas, estruturas de risco e desempenho para cumprir as ambições da empresa.
Ainda segundo a Equinor, a estratégia se baseia nas estruturas de grupos de investidores, incluindo o Climate Action 100+ Net Zero Company Benchmark, e cenários da Agência Internacional de Energia (IEA) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Em março, a Climate Action 100+, iniciativa global de engajamento de investidores sobre mudanças climáticas, divulgou uma avaliação sobre o progresso de 166 empresas no alinhamento dos negócios com as metas de Paris.
A descoberta é que apenas 17% delas possuem estratégias robustas e quantificadas para reduzir emissões de gases de efeito estufa em linha com o limite de aquecimento do planeta em 1,5°C.
Entre as empresas de petróleo e gás, quase dois terços ainda estão sancionando projetos inconsistentes com a meta de 2°C.
Vale lembrar que as petroleiras passam por um período de pressão pública, com seus planos climáticos questionados por acionistas e por tribunais de justiça.
Na última semana, três empresas do setor de petróleo do Reino Unido — Navigator Thames, ExxonMobil e Valero — obtiveram liminares para impedir protestos de ativistas climáticos.
Grupos ambientalistas como Extinction Rebellion e Just Stop Oil vêm realizando protestos diários em Londres e em todo o país, focados principalmente em instalações de petróleo. Reuters
Cobrimos por aqui:
- Shell pode enfrentar novo litígio climático na Europa
- Acionistas ativistas e corte europeia impõem derrotas a petroleiras por estratégias climáticas
Também nesta terça, a produtora brasileira de biocombustíveis BSBIOS lançou a sexta edição do seu Relatório de Sustentabilidade. Segundo a companhia, o ano de 2021 foi marcado por eventos importantes de governança.
A empresa passou a ser controlada 100% pela ECB Group Holding, e passou a controlar a BSBIOS Paraguay, BSBIOS São Paulo e BSBIOS Switzerland, atingindo uma receita líquida de R$ 8,8 bilhões, com lucro líquido de R$ 83,5 milhões e EBITDA de R$ 316,3 milhões em 2021.
Com uma produção de biodiesel de 895.463 m³ (18,5% superior a 2020), a BSBIOS atingiu um market share no Brasil de 13,2%, se mantendo na posição de maior produtora de biodiesel do país pelo quarto ano consecutivo.
As unidades de produção de biodiesel em Passo Fundo (RS) e em Marialva (PR), receberam incremento de 13% em suas capacidades produtivas, chegando a 936 milhões de litros de biodiesel/ano.
Na Europa, pressão contra os fósseis; no Brasil, contra o bio. Um grupo de dez distribuidoras regionais de combustíveis enviou nesta segunda (18/4) um ofício ao Ministério de Minas e Energia com sete pedidos de mudanças no funcionamento do mercado de créditos de descarbonização do programa RenovaBio (CBIOs).
O documento aponta para o que as empresas entendem ser uma série de “deficiências estruturais” no programa e que ajudam a encarecer em até dez centavos o preço dos combustíveis no Brasil e podem levar as distribuidoras regionais à falência.
O pedido ocorre em meio às discussões no MME sobre a criação de um mercado de derivativos para os CBIOs e da alta dos preços dos créditos no mercado brasileiro. No início de março, os CBIOs chegaram a R$ 101,50 por título, maior cotação nominal desde o início das negociações, em junho de 2020.
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