Combustíveis e Bioenergia

Questões para o próximo presidente da Petrobras, por Marcus D´Elia

Política de preço, fundo de compensação e investimento em refino não solucionam a alta da gasolina e do diesel

Questões para o próximo presidente da Petrobras, por Marcus D´Elia
Edifício sede da Petrobras no Centro do Rio (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Independentemente de quem vai assumir a direção da Petrobras, a pergunta ao próximo presidente da petroleira é: como tornar transparente o impacto do câmbio na redução do preço dos combustíveis?

O fortalecimento da moeda brasileira é a única medida válida e efetiva para conter o aumento da gasolina e do diesel no país.

Alterar a política de preço de paridade internacional em um mercado de commodity, como o de petróleo, gera desequilíbrio financeiro para a Petrobras, limita capacidade de investimento da empresa e coloca em risco o suprimento da demanda no país.

Resultados conhecidos da influência (ou má influência) do Estado sobre a Petrobras. Por outro lado, o fundo de compensação proposto no PL 1472/2021 não tem capacidade de absorver grandes oscilações no preço do petróleo e sua atuação ficará restrita a pequenas flutuações do preço final, o que não representa uma solução suficiente para a questão atual.

Nos últimos dias houve notícias de estudos sugerindo a ampliação do refino no país. Uma solução inteligente se oferecida há 30 anos atrás. No cenário futuro de substituição energética, investimentos em refinarias de 200.000 barris por dia no Brasil parecem distantes.

Dado que o máximo volume esperado para a demanda de gasolina no país deve ocorrer entre 2035 e 2038, um período demasiadamente curto para uma nova refinaria, e o gap esperado de diesel não justificaria o investimento.

Por outro lado, não se deve descartar a atualização das refinarias existentes com melhorias nos cortes de produto e ampliações pontuais, principalmente se for possível continuar com o programa de desinvestimento proposto pela Petrobras.

A valorização da moeda nacional, mantendo os fundamentos econômicos — inflação sob controle, política fiscal responsável e câmbio flutuante — terá como efeito direto a redução do preço dos combustíveis na bomba, assim como a garantia da abertura do mercado de refino levará ao aumento da produção nacional. Estas, sim, são ações que deveriam estar na pauta das discussões no país.

Marcus D’Elia é sócio-diretor da Leggio Consultoria, especializada em O&G e Infraestrutura. A consultoria tem como cliente empresas do setor de petróleo e energia.