RIO — A Agência de Fomento Paulista (Desenvolve SP), instituição financeira do governo do estado de São Paulo, captou este ano mais de R$ 1,9 bilhão junto a bancos internacionais de desenvolvimento para financiar a substituição de combustíveis fósseis, entre outras iniciativas para transição energética e combate às mudanças climáticas.
São Paulo é um dos signatários da Race to Zero, iniciativa global que pretende zerar emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.
O valor captado pela agência é maior que o total de desembolsos feito pela instituição desde o início da pandemia, de R$ 1,7 bilhão — somando os anos de 2020 e 2021.
“Nosso papel é ajudar nessa transição por meio de financiamento de projetos sustentáveis que ajudem a reduzir as emissões”, afirma o CEO do Desenvolve SP, Sergio Gusmão Suchodolski, à agência epbr.
Este ano, a estimativa é liberar pelo menos R$ 500 milhões para financiamento de projetos temáticos, por meio da Linha ESG, que considera aspectos sociais, ambientais e de sustentabilidade. A linha deve representar 50% do desembolso total que a instituição realizará em 2022.
“Queremos incentivar e ajudar a escalar o uso de atividades ligadas ao ESG, para que possamos ter uma transição de verdade e em grande escala no estado”, explica Suchodolski.
Soluções de transição energética e biogás
Entre as atividades, o CEO destaca a compra e instalação de equipamentos para geração de energia renovável, como placas solares, aerogeradores, caldeiras a biomassa, e equipamentos para pequenas centrais hidrelétricas e para produção de biogás.
Suchodolski também chama a atenção para projetos de aumento de eficiência energética, na redução de perdas na produção e transmissão de energia, e modernização da iluminação pública em municípios do interior de São Paulo.
“Além da possibilidade de financiamento de ônibus a combustível renovável e veículos híbridos”, completa.
Estratégia inclui parcerias multilaterais
A maior captação de recursos realizada da Desenvolve SP veio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que irá destinar cerca de R$ 1 bilhão (US$ 195 milhões) para ajudar micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) na adoção de tecnologias orientadas para sustentabilidade ambiental e mudança climática.
A entidade também fechou a captação de recursos de US$ 90 milhões, equivalente a R$ 441, milhões junto ao New Development Bank (NDB), o Banco dos Brics, e uma segunda captação com o BID, de US$ 110 milhões (R$ 511 milhões).
Ambos recursos serão destinados para projetos sustentáveis, como geração de energia renovável, aumento de eficiência energética e mobilidade alternativa, além de projetos para gestão de recursos hídricos e resíduos sólidos.
“Todas as nossas captações operacionais novas tem um componente temático, com uso obrigatório nos temas da infraestrutura sustentável, da sustentabilidade, ou da inovação atrelada à sustentabilidade”, diz Suchodolski.
Também está em negociação a captação de US$ 50 milhões, cerca de R$ 240 milhões, com o Banco Europeu de Investimento (BEI) para aplicação em projetos sustentáveis e de financiamento climático.
Financiamento climático
Além das parcerias multilaterais, a Desenvolve SP também espera captar recursos através da emissão de títulos de dívida atrelados à sustentabilidade. Para isso, entretanto, a agência aguarda mudanças na regulamentação por parte do Congresso Nacional e do Banco Central.
Hoje, ao contrário de bancos de desenvolvimento, as instituições classificadas como agências de fomento não podem realizar este tipo de operação.
“Há uma discussão no Congresso Nacional e também esperamos a liberação do Banco Central, para que as agências de fomento maiores possam emitir seja domesticamente ou numa bolsa internacional esse tipo de captação temática, mobilizar recursos para o desenvolvimento sustentável do nosso país”.
Antes de assumir a direção da Desenvolve SP, Suchodolski era presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, quando em 2020 a instituição mineira fez a primeira emissão da história de títulos sustentáveis realizada por um banco público brasileiro.
A operação ocorreu na Bolsa de Nova Iorque, no valor de US$ 50 milhões — equivalente a cerca de R$ 260 milhões na época.