RIO — O diretor geral da Siemens Energy no Brasil, André Clark, acredita que as primeiras unidades de produção em larga escala de hidrogênio verde no Brasil comecem a operar até 2024.
“Nossos cálculos mostram que até 2024, 2025, veremos as primeiras grandes instalações de hidrogênio verde entrando em operação nas costas do Brasil”, disse Clark, na segunda (28/03), durante webinar da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Clark disse que a companhia está envolvida em seis grandes projetos de hidrogênio verde, mas não revelou se algum deles será no Brasil.
“Estamos extremamente envolvidos com seis projetos realmente de grande porte, são projetos que consideram quatro [tipos de] players juntos”, explicou.
Esses players seriam um produtor de energia renovável para exportação do hidrogênio; um offtaker — que pode ser uma indústria de fertilizantes, de biocombustíveis avançados, como o HVO, ou siderurgia —; um player do setor de gás; e finalmente a Siemens Energy como provedora de tecnologia.
“É incrível como todos esses projetos estão progredindo, alguns deles com a ajuda da comunidade diplomática alemã. São bastantes promissores”, afirmou.
- epbr entrevista | André Clark, diretor geral da Siemens Energy Brasil
Projetos pelo mundo
Oficialmente, a companhia possui apenas um projeto piloto no Brasil. No ano passado, a Eletrobras, a Siemens Energy e o Cepel concluíram a assinatura de um memorando para realização conjunta de estudos sobre o ciclo tecnológico completo do hidrogênio verde, desde sua produção até o consumo.
Na América Latina, o projeto mais avançado da empresa está no Chile. Ao lado da ExxonMobil, Enel e Porsche e das companhias de gás e petróleo chilenas, Gasco e Enap, a Siemens vai construir uma planta industrial para produção de combustível sintético a partir de hidrogênio verde.
O anúncio mais recente foi na Europa, onde será implantado na Dinamarca o primeiro projeto comercial para produção de e-Metanol em grande escala, com hidrogênio fornecido por uma planta eletrolisadora de 50 megawatts (MW) da Siemens Energy.
Um dos consumidores finais do e-Metanol será a companhia de navegação dinamarquesa Maersk, que possui uma ambiciosa meta de descarbonizar sua frota até 2040.
Relação Brasil-Alemanha
A relação Brasil e Alemanha promete ganhar destaque no desenvolvimento desse novo mercado de hidrogênio verde, tendo o primeiro como grande exportador e o segundo como grande consumidor, avalia o executivo da Siemens.
No final do ano passado, o país europeu anunciou 34 milhões de euros para desenvolver o mercado de hidrogênio verde no Brasil.
Boa parte do projeto de descarbonização da Alemanha passa pela adoção do hidrogênio verde como principal fonte energética, entretanto o país dependerá de importações do produto para atender à demanda.
“Pense o quanto isso é importante para a relação entre a Alemanha e o Brasil e, por que não dizer, para o acordo comercial do Mercosul e da União Europeia. Imagine que começamos a comercializar energia em escala nessa parceria”, concluiu.
Para Maike Schmidt, chefe no Centro alemão de pesquisa em Energia Solar e Hidrogênio Baden-Württemberg (ZSW), o Brasil pode ser uma dos grandes players no leilão organizado pela Alemanha para compra de hidrogênio verde, que será realizado ainda este ano.
“O Brasil poderia se firmar como pioneiro. Os primeiros leilões acontecerão este ano de 2022, e a primeira entrega está prevista para 2024. Talvez os projetos que o André [Clark] já mencionou tenham a possibilidade de participar e se tornar os primeiros a entregar hidrogênio verde do Brasil para a Alemanha”, disse Schmidt.
Ela também ressaltou que a guerra na Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia, tornaram o gás natural como uma solução inviável para a transição energética na Europa.
A União Europeia (UE) importa quase 90% do gás natural utilizado para aquecimento e geração de eletricidade na região, sendo 45% proveniente da Rússia.
Recentemente a Comissão Europeia apresentou um plano chamado RePowerEU (em inglês), que espera reduzir a demanda da UE por gás russo em dois terços antes do final do ano.
“Na minha visão, isso abre uma oportunidade para o Brasil (…) O Brasil pode rapidamente desenvolver uma capacidade de geração de energia a partir de hidrogênio limpo”, ressaltou Schmidt.