RIO — “O gás é importante para a Europa”, afirmou Patrick Pouyanné, CEO da francesa TotalEnergies, nesta quarta (23/3).
O executivo no comando de uma das maiores produtoras de óleo e gás natural do mundo justificou que, ao contrário do petróleo que pode ser comprado de outros países como a Arábia Saudita, no caso do gás natural, romper contratos equivaleria a pagar “bilhões aos russos”.
“Não sabemos como interromper contratos de longo prazo, a menos que os governos decidam sobre sanções que me permitam exercer o que se chama ‘força maior’, e aí sou obrigado a parar os contratos”, afirmou Patrick Pouyanné à rádio francesa RTL.
“Se eu interromper os contratos de gás natural russos, sabe o que acontece? Pago bilhões imediatamente aos russos”, disse
A TotalEnergies afirma que deixará de comprar petróleo e derivados do país a partir de 2022, suspendeu o desenvolvimento de novos negócios e não fará aportes de capital na Rússia.
Outras petroleiras, como Shell, bp e Equinor, anunciaram que pretendem deixar negócios em território russo, logo após o início da invasão do exército de Vladimir Putin à Ucrânia.
Entregar ativos contradiz as sanções
A TotalEnergies afirma que não vai “inverter o propósito das sanções contra a Rússia”, o que ocorreria caso transferisse “injustificadamente o património para os interesses russos, abandonando os ativos [no país]”.
A companhia deixou claro, contudo, que simplesmente deixar suas operações no país significaria ‘transferir valor’ para seus sócios na Rússia.
A afirmação consta nos “princípios” anunciados nesta quinta (24/3) em apresentação para investidores, que vão nortear a forma como a empresa lida com a crise.
Nessa apresentação consta a foto de trabalhadores ucranianos que atuavam em projetos da TotalEnergies, mas agora estão lutando contra os invasores russos.
A companhia garante que vai cumprir imediatamente com quaisquer sanções atuais e futuras impostas por autoridades europeias, independente dos impactos de seus ativos na Rússia.
E seguirá contribuindo “para assegurar a segurança no suprimento de energia para o continente europeu, honrando contratos de longo prazo enquanto os governos da Europa considerarem que o gás da Rússia é necessário”.
“Uma ‘saída’ não interromperia quaisquer operações dessas companhias em que a TotalEnergies é sócia minoritária e iria transferir valor sem contrapartidas para interesses russos, em contradição com as sanções”.
Atualmente, a TotalEnergies possui 19% de participação em uma das maiores produtoras russas de gás natural, a Novatek.
Além disso, a empresa participa de dois projetos de gás natural liquefeito na Rússia, o Yamal LNG, que iniciou a produção em 2020, e o Artic LNG, que deve fornecer gás a partir de 2023.
É sócia em campos que rendem uma produção de 500 mil barris por dia de petróleo e gás natural (boe), 17% do total da empresa.
São US$ 13,7 bilhões em capital alocado na Rússia até 31 de dezembro de 2021.
Zelensky cobra sanções empresariais
A declaração do executivo da gigante francesa aconteceu no mesmo dia em que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, falou virtualmente ao parlamento francês e pediu para que empresas do país parem de abastecer a “máquina de guerra” da Rússia.
“As companhias francesas devem abandonar o mercado russo. Renault, Auchan, Leroy Merlin e outras, elas devem deixar de ser patrocinadores da máquina de guerra russa”, disse o líder ucraniano.
Após o discurso, o conselho administrativo do Grupo Renault, que tem o governo da França como acionista, decidiu apenas suspender as atividades de sua montadora em Moscou.
Já a Leroy Merlin e Auchan, ambas do Grupo Mulliez, continuarão com suas operações.