A Petrobras tem atualmente 12 refinarias em operação no Brasil, produzindo diariamente gasolina, diesel, querosene de aviação (QAV), óleo combustível, entre outros derivados de petróleo. São produzidos em média 1,8 milhão de barris destes produtos por dia.
A pergunta que muitos fazem é: a Petrobras poderia produzir mais combustíveis? Atualmente não. As refinarias da empresa já estão operando em sua capacidade máxima, considerando as condições adequadas de produção, segurança, rentabilidade e logística.
Portanto, é falso dizer que existe ociosidade do refino ou que a Petrobras está reduzindo deliberadamente sua produção de derivados. A empresa está, na verdade, produzindo o máximo possível dentro de condições seguras, sustentáveis e econômicas e investindo para ampliar sua capacidade de refino nos próximos anos.
- Em epbr: Verdade inconveniente: ociosidade do refino como instrumento para aumentar preços da gasolina
Como funciona uma refinaria
Em primeiro lugar, precisamos entender como funciona uma refinaria. O petróleo passa por três tipos principais de unidades de produção: as de destilação, as de conversão e as de tratamento.
Nessas unidades são produzidas frações de derivados, com rendimentos e rentabilidades diferentes. Não é possível, por exemplo, produzir diesel sem produzir, no mesmo processo, GLP (gás de cozinha), óleo combustível, entre outros.
Quanto mais complexa a refinaria, maior sua capacidade de produzir combustíveis com maior valor agregado.
Por exemplo, as unidades de coqueamento geram maior rendimento de diesel, enquanto as unidades de craqueamento catalítico geram maior volume de gasolina. Essas unidades também geram frações mais pesadas (resíduos), mas aumentam significativamente o rendimento de diesel e gasolina da refinaria.
Por fim, os produtos das unidades de destilação e conversão passam pelas unidades de tratamento, para garantir a qualidade e a adequação ao uso final, removendo químicos indesejáveis, como o enxofre.
O tipo de petróleo a ser processado também impacta o perfil da produção da refinaria. Há petróleos leves com maior rendimento em compostos como a nafta, os médios com maior rendimento em QAV e diesel, e os pesados com maiores rendimentos em óleos combustíveis, asfaltos e resíduos.
Além da configuração da refinaria e do tipo de petróleo, o planejamento do refino também precisa considerar as características especificas requeridas pelo mercado consumidor, ou seja, quais produtos estão sendo mais demandados neste momento conforme sua disponibilidade no comércio local e global.
FUT — capacidade e processamento
Dito isso, podemos analisar os dados de capacidade e processamento para entender o planejamento de operação das refinarias.
Existe um percentual que mede o processamento das refinarias. É o chamado FUT — Fator de Utilização total do parque de refino.
São considerados o volume de carga efetivamente processada e a carga de referência, ou seja, a capacidade máxima de operar, respeitando os limites de projeto dos equipamentos e os requisitos de segurança, meio ambiente e qualidade dos produtos.
Evolução do FUT
Em 2021, o FUT médio da Petrobras foi de 83%, o maior índice dos últimos cinco anos, mesmo tendo sido necessário realizar paradas programadas de manutenção, garantindo desta forma uma operação segura.
A companhia destinou R$ 2,3 bilhões em paradas programadas de unidades de suas refinarias ano passado, com inspeção em mais de 4 mil equipamentos.
Com a conclusão das paradas, o FUT vem crescendo nos últimos meses e já está em 88% na primeira quinzena de março.
Convém destacar que as unidades de conversão e hidrotratamento operam na sua capacidade máxima, exceto nos períodos em que estão passando pelas paradas de manutenção.
Capacidade autorizada versus condições operacionais
De vez em quando encontramos análises equivocadas que apontam um percentual menor de FUT, porque consideram a capacidade máxima autorizada pelo órgão regulador (ANP) e pelo órgão ambiental para operação de uma unidade.
Para o cálculo correto do Fator de Utilização, devemos utilizar a carga processada dividida pela carga de referência, que explicamos mais acima, pois esta é a capacidade adequada para as condições operacionais estabelecidas.
A definição do nível de utilização é uma decisão estritamente técnica, em função:
- das demandas dos clientes — se precisa fazer mais diesel ou mais gasolina, entre outros;
- das alternativas globais de suprimento e preços de petróleo e derivados;
- das diferentes configurações e limites de operação de cada unidade;
- da necessidade de paradas de manutenção;
- e da situação de estoque e escoamento dos produtos.
Estratégia de produção da Petrobras
Para alocar os diferentes petróleos nas refinarias, a Petrobras conta com modelos econômicos de alta complexidade, que conseguem processar milhares de variáveis ao mesmo tempo e, desta forma, indicar os melhores tipos de petróleo a serem processados em cada unidade.
Esse racional econômico-operacional não é uma particularidade da Petrobras. Pelo contrário, é adotado mundialmente pela indústria e resulta na oferta de produtos derivados de petróleo da maneira mais eficiente e, portanto, aos melhores preços para cada mercado.
O fato é que mesmo a Petrobras produzindo em sua capacidade máxima, o Brasil precisa do complemento de importações e de outros fornecedores para manter o mercado abastecido.
A produção exclusiva da Petrobras nunca atendeu ao mercado de combustíveis do país, impondo importações.
O monopólio no fornecimento de combustível no Brasil acabou em 1997. Desde então, o mercado é aberto à concorrência.
Importações e alinhamento ao mercado
No caso do ciclo diesel — considerando os desinvestimentos nas refinarias RLAM, Reman e Lubnor — a produção da Petrobras representa 62% do mercado. Sendo 27% de importações da Petrobras e de terceiros mais produção de outras empresas e 11% de biodiesel.
No caso do ciclo Otto (veículos leves) — também considerando os desinvestimentos da RLAM, Reman e Lubnor — a Petrobras representa 43% do mercado. Sendo 10% de importações da Petrobras e de terceiros e produção de outras empresas, 42% de etanol e 5% de GNV.
A partir disso, concluímos que o nível de utilização das refinarias da Petrobras não define o preço dos combustíveis no Brasil.
Preços de combustíveis desalinhados ao valor de mercado impactam no curto prazo as importações necessárias para atendimento integral da demanda e comprometem, no longo prazo, a capacidade de investimento da indústria, o que pode levar à obsolescência e ao desabastecimento.
Devemos lembrar que o Brasil é uma economia emergente e a tendência é ter uma demanda crescente por combustíveis nas próximas décadas. Para garantir que o mercado siga sendo suprido de forma adequada, sem risco de faltar produto, as empresas fornecedoras precisam ter condições para continuar investindo neste segmento.
Investimentos em refino
A Petrobras, por exemplo, investirá US$ 6,1 bilhões no refino nos próximos cinco anos, incluindo projetos para ampliar a capacidade de produção, especialmente de derivados de alta qualidade, como o diesel S-10, de baixo teor de enxofre.
Está em andamento a conclusão da segunda unidade (trem) da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), que vai elevar a capacidade de produção de diesel S-10 em 95 mil barris por dia (bpd).
Também avança a integração entre a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e o GasLub Itaboraí, com capacidade adicional de 93 mil bpd de diesel S-10 e QAV e 12 mil bpd de lubrificantes de maior qualidade.
Além de uma nova unidade na Replan e de adaptações na Reduc e na Revap, com capacidade adicional de 132 mil bpd de diesel S-10 nas três refinarias.
Outros refinadores também poderão investir no Brasil e no seu parque de refino para atender à crescente demanda por combustíveis. Um mercado competitivo, com mais investidores e pluralidade de produtores oferecendo opções para os consumidores, é a escolha mais saudável para o futuro do país.
Rodrigo Costa Lima e Silva é Diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras.