Análise da BloombergNEF aponta que a guerra na Ucrânia elevou os preços do gás natural ao ponto de tornar o hidrogênio verde mais barato que o cinza na Europa, Oriente Médio e África (Emea) e China.
O hidrogênio cinza, produzido a partir de gás fóssil, agora está custando US$ 6,71/kg na região da Emea, em comparação com US$ 4,84-6,68/kg para o verde (usando eletrolisadores ocidentais).
Na China, o custo do hidrogênio verde é de US$ 3,22/kg (usando eletrolisadores chineses), comparado a US$ 5,28/kg do cinza.
“O preço dos produtos derivados do gás natural, como a amônia, é até três vezes maior agora do que há um ano. Isso abriu as portas para que hidrogênio e amônia ‘verdes’, produzidos a partir de eletricidade renovável, possam competir com processos inabaláveis baseados em gás natural”, diz Meredith Annex, chefe de aquecimento e hidrogênio da BloombergNEF.
O levantamento mostra que os preços do gás no hub TTF da Holanda foram mais de seis vezes maiores do que há um ano, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro.
Preços do GNL com guerra na Europa
Os preços do gás natural liquefeito (GNL) na Ásia foram cinco vezes mais altos nos mesmos períodos, de acordo com o índice Japan-Korea Marker da Platts.
Esses preços podem subir ainda mais à medida que o conflito na Ucrânia continua, acrescenta Annex.
“Embora a história econômica possa mudar em alguns anos, as empresas ainda podem ver o hidrogênio verde como uma opção mais viável do que antes — especialmente porque procuram se livrar do gás por razões sociais, ambientais e de segurança de fornecimento”.
EPE: preço e emissões retiram competitividade de hidrogênio cinza
Usar o hidrogênio cinza, produzido a partir do gás natural, para substituir o gás como fonte de energia será desvantajoso economicamente e com benefícios ambientais limitados, mostra um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Já a adoção de tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS, na sigla em inglês) ou a produção a partir de fontes renováveis (biomassa ou eletrólise) podem tornar sua utilização interessante para abastecimento através da malha de distribuição.
As conclusões fazem parte de duas notas técnicas produzidas pela EPE para avaliar aspectos técnicos, econômicos e logísticos, entre outros, da produção de hidrogênio cinza e azul (gás natural + CCUS) no Brasil.
As notas também trazem estudos de caso para as duas rotas e são subsídios para o Plano Nacional de Hidrogênio (PNH2) anunciado pelo governo federal.
No caso do hidrogênio cinza, o estudo de caso indica que não faz sentido trocar o gás natural pelo hidrogênio como fonte de energia.
Rota azul demanda precificação de carbono
Do ponto de vista econômico, o hidrogênio tem maior custo e menor densidade energética que o gás natural. E um eventual benefício ambiental seria limitado, uma vez que são liberadas grandes quantidades de CO2 durante a etapa de reforma do gás.
Por outro lado, a rota azul, que faz a reforma a vapor de metano com CCUS, poderia resultar em emissões muito menores e o custo mais elevado do processo poderia ser remunerado pela precificação do carbono.
“Economicamente, ao se precificar o carbono mitigado e/ou retirado da atmosfera, a receita do projeto de H2 poderia ser aumentada, reduzindo o preço final ao consumidor”, diz a EPE.