RIO — O novo ministro de Energia do Chile, Claudio Huepe, confirmou, na última terça (22/2) a possibilidade de criar uma empresa pública para a produção de hidrogênio verde no país ou utilizar a petrolífera estatal Enap (Empresa Nacional del Petróleo) para desenvolver esse novo mercado.
Huepe assumirá o cargo dia 11 de março juntamente com o novo presidente eleito, Gabriel Boric — do partido de esquerda Convergência Social. A criação de uma estatal para o hidrogênio, aliás, era promessa de campanha de Boric.
“Não se trata aqui que a Enap ou uma empresa pública em geral substitua o que faz uma empresa privada. Mas que tenha um papel significativo na articulação de um processo de desenvolvimento de uma indústria”, explicou o futuro ministro, durante webinar da Fundação Chilena do Pacífico.
“Se isso significa criar uma empresa específica, é uma questão bastante pequena. Hoje temos uma empresa que pode fazer muito disso. Mais tarde, se a necessidade o indicar, terá de ser tomada uma decisão deste tipo. Se não, não é necessário”, completou.
Indução de investimentos
A estatal atuaria no modelo conhecido como crowding in, em que o aumento de investimento público em determinados segmentos estimula mais investimentos privados.
O modelo é defendido pela economista Stephany Griffith-Jones, que foi assessora econômica do presidente eleito e que agora deve assumir uma vaga no conselho do Banco Central do país.
Além de uma estatal para o hidrogênio, o novo governo ainda prevê a criação de uma empresa pública para o lítio e de um novo banco de desenvolvimento, que financiará energias renováveis.
Hidrogênio verde é chave para desenvolvimento nacional
O novo ministro Claudio Huepe vai ocupar a cadeira deixada por Juan Carlos Jobet, responsável por lançar no ano passado uma ambiciosa estratégia chilena para o hidrogênio verde.
Entre as metas do plano estava descarbonizar a mineração — umas das principais atividades do país —, e produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo até 2030, afirmou Jobet em entrevista à epbr.
Apesar disso, Claudio Huepe considera que a estratégia chilena deve ir além da viabilização de projetos específicos.
“Temos que dar um passo além”, disse.
“Entendemos que o hidrogênio verde deve ser um elemento chave do desenvolvimento nacional (…) “O novo modelo de desenvolvimento que nós queremos é olhar além da lógica de desenvolvimento de negócios individuais para uma lógica de desenvolvimento do país”.
Para ele, a construção de um mercado de hidrogênio verde deve incluir fatores de impacto social e desenvolvimento de comunidades.
“A infraestrutura é muito mais que só uma infraestrutura específica, é toda infraestrutura cultural, educacional, social, esportiva, de transporte, que faz com que o desenvolvimento de uma iniciativa como essa reflita em um desenvolvimento para o país”, defendeu.
Estratégia no Brasil vai em outra direção
Diferentemente do Chile, a política brasileira vigente faz uma aposta na flexibilidade de rotas e que o mercado vai encontrar o melhor caminho para desenvolver alternativas de suprimento.
Já no Brasil, além de não prever ações específicas para inserção do hidrogênio verde na matriz, o Plano Nacional do Hidrogênio (PNH2) apresentado pelo MME, indica a abertura de múltiplas rotas para produção H2, incluindo fonte fósseis, como o gás natural.
Ainda assim, projetos vem sendo anunciados em diversos estados brasileiros — todos em fase inicial.
Para o gerente de inovação e sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio), Ansgar Pinkowski, o Brasil se beneficiaria de um maior foco no planejamento de hidrogênio verde (H2V) no país.
“O mais importante é colocar um projeto para rodar que mostre a viabilidade (…) Estão todos esperando alguém dar o primeiro passo”, disse à epbr.