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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 15/02/22
Editada por Nayara Machado
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Um levantamento do NewClimate Institute descobriu que as promessas climáticas de 25 das maiores empresas do mundo vão reduzir, em média, apenas 40% de suas emissões, e não 100%, como sugerido pelos compromissos “zero líquido” e “neutro de carbono” até 2050.
Lançado na última semana, o Monitor de Responsabilidade Climática Corporativa avalia 25 grandes empresas — operando em diferentes setores e países — para determinar a transparência e integridade de seus principais compromissos climáticos.
Apenas o compromisso zero líquido de uma empresa foi avaliado com “integridade razoável”; três com “moderado”, dez com “baixo” e os 12 restantes foram classificados com integridade “muito baixa”.
“À medida que aumenta a pressão sobre as empresas para agir sobre as mudanças climáticas, suas manchetes ambiciosas muitas vezes carecem de substância real, o que pode enganar tanto os consumidores quanto os reguladores”, comenta Thomas Day, do NewClimate Institute, um dos autores do estudo.
Segundo o especialista, mesmo as empresas que estão indo relativamente bem exageram suas ações.
Na classificação, a Maersk é a única com integridade razoável, seguida pela Apple, Sony e Vodafone com integridade moderada.
Já as principais promessas da Amazon, Deutsche Telekom, Enel, GlaxoSmithKline, Google, Hitachi, IKEA, Vale, Volkswagen e Walmart têm baixa integridade.
As da Accenture, BMW Group, Carrefour, CVS Health, Deutsche Post DHL, E.ON SE, JBS, Nestlé, Novartis, Saint-Gobain e Unilever têm integridade muito baixa.
“Muitas promessas são prejudicadas por planos contenciosos para reduzir emissões em outros lugares, informações críticas ocultas e truques contábeis”, diz o documento.
As 13 empresas que apoiaram suas promessas líquidas zero com compromissos explícitos se comprometem, em média, a reduzir em apenas 40% as emissões de sua cadeia de valor total, a partir de 2019.
Os outros 12 não têm compromissos específicos de redução de emissões para o ano de meta zero líquido.
Maersk, Vodafone e Deutsche Telekom comprometem-se claramente com a descarbonização profunda de mais de 90% de suas emissões da cadeia de valor total.
Enquanto pelo menos cinco, entre as 25 empresas, reduziriam efetivamente suas emissões em menos de 15%, muitas vezes excluindo as emissões a jusante ou a montante em sua cadeia de valor, mostra o estudo. Veja em inglês (.pdf)
A seleção das companhias seguiu três critérios:
- empresas com compromissos de mitigação de mudanças climáticas de alto perfil;
- máximo de cinco empresas por país (de sua sede) e dois por setor econômico;
- excluídas empresas na área de gestão de investimentos, devido às características e desafios excepcionais.
Sybrig Smit, outra autora do monitor, explica que a proposta era obter uma visão ampla das diferentes abordagens adotadas por diferentes setores.
“Queríamos obter insights de grandes empresas com compromissos climáticos, abrangendo uma ampla gama de setores. A seleção não pretendia ser uma amostra estatisticamente representativa”.
Um dos problemas em comum é a exclusão de fontes de emissão ou segmentos de mercado.
Oito empresas excluem as emissões upstream ou downstream em sua cadeia de valor, que geralmente representam mais de 90% das emissões sob seu controle.
“A E.ON pode excluir segmentos de mercado que representem mais de 40% de suas vendas de energia. O Carrefour parece excluir locais que representam mais de 80% das lojas da marca Carrefour”, revela o relatório.
Greenwashing Os pesquisadores também alertam que as abordagens de compensação — o famoso offset — estão minando a integridade: 24 das 25 empresas provavelmente contarão com créditos de compensação, de qualidade variável.
Pelo menos dois terços das empresas dependem de remoções de florestas e outras atividades biológicas, que podem ser facilmente revertidas, por exemplo, por um incêndio florestal.
“A Nestlé e a Unilever se distanciam da prática de compensação no nível da empresa-mãe, mas permitem e incentivam suas marcas individuais a buscar a compensação para vender produtos rotulados como neutros em carbono”, exemplifica.
“Sem mais regulamentação, isso vai continuar. Precisamos que governos e órgãos reguladores intensifiquem e acabem com essa tendência de greenwashing”, diz Gilles Dufrasne da Carbon Market Watch.
Há esperança. O relatório identifica alguns exemplos promissores de liderança climática. Um deles é o Google, que está desenvolvendo ferramentas para aquisição de energia renovável em tempo real — e já tem outras empresas de olho na tecnologia.
A Maersk e a Deutsche Post estão fazendo grandes investimentos para transição energética no transporte e logística — em setores difíceis de descarbonizar.
Em janeiro, a dinamarquesa A.P. Moller – Maersk — segunda maior empresa do setor de transporte marítimo — anunciou que pretende zerar suas emissões até 2040, uma década à frente de sua ambição.
A nova meta também supera os esforços anteriores de reduzir as emissões relacionadas apenas à frota oceânica, e agora abrange todas as emissões diretas e indiretas da companhia.
A companhia relata que sofre pressão dos próprios clientes, que também necessitam reduzir a pegada de carbono em suas cadeias de suprimento.
Para dar conta da meta, encomendou oito navios capazes de operar com metanol verde, e prometeu encomendar apenas novas embarcações que utilizem o combustível neutro em carbono.
Também está nos planos chegar a 2030 com um quarto de todo o seu frete marítimo transportado por combustíveis verdes. Isso representaria emissões pelo menos 65% menores do que os atuais fósseis, incluindo o gás natural liquefeito.
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