Agendas da COP

Diários da COP26: Florestas, metano e mercado brasileiro de carbono

L-R MC, Joan Carling, Indigenous Peoples' Major Group, Darren Walker of the Ford Foundation, Carlos Alvarado Quesada, president of Costa Rica, Patrick Saida Hemedi (DPGA) and Tuntiak Katan, Indigenous Organisations of the Amazon River Basin (COICA), Global Alliance of Territorial Communites (GATC), speaking at the Forest event at the SEC, Glasgow. 02/11/2021. Photograph: Karwai Tang/ UK Government
L-R MC, Joan Carling, Indigenous Peoples' Major Group, Darren Walker of the Ford Foundation, Carlos Alvarado Quesada, president of Costa Rica, Patrick Saida Hemedi (DPGA) and Tuntiak Katan, Indigenous Organisations of the Amazon River Basin (COICA), Global Alliance of Territorial Communites (GATC), speaking at the Forest event at the SEC, Glasgow. 02/11/2021. Photograph: Karwai Tang/ UK Government

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 02/11/21

Editada por Nayara Machado
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Mais de 100 líderes se comprometeram nesta terça (2) a deter e reverter a perda florestal e a degradação até 2030 durante a COP26.

A promessa é apoiada por quase US$ 19,2 bilhões em financiamento público e privado e 30 instituições financeiras com mais de US$ 8,7 trilhões de ativos globais comprometendo-se a eliminar o investimento em atividades ligadas ao desmatamento.

Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, principais países florestais, assinam o acordo, que traz como novidades:

  • Foco nas finanças públicas para os Povos Indígenas (US$ 1,7 bi)
  • Eliminar investimentos ligados ao desmatamento (US$ 8,7 tri)
  • Reunir os maiores países consumidores e produtores para forjar ações comuns em cadeias de fornecimento sustentáveis de commodities-chave

“Eu vejo como as pessoas falam sobre ‘mudança climática’ e ‘aquecimento global’, mas continuam a comprar soja, carne, madeira ilegal e ouro ilegal de terras indígenas, que vem do desmatamento. Eles não sabem que somos nós que mantemos a floresta de pé?”, comenta Alessandra Korap Munduruku, líder e ativista ambiental brasileira da etnia Munduruku.

Apesar de ter assinado o acordo, o Brasil não se comprometeu com aportes de recursos e, internamente, nem com o fim do desmatamento de fato.

Ontem (1º), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou como meta brasileira zerar o desmatamento ilegal até 2028, o que, na visão de ambientalistas, não conta.

“Me parece um equívoco político o Brasil chegar na COP26 falando só em desmatamento ilegal. Uma coisa é combater o crime, outra coisa é produzir com base na natureza protegida”, diz Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente. Leia aqui

Já o Observatório do Clima alerta que, no mesmo documento em que fala do desmatamento ilegal, o governo brasileiro também oficializa a meta de chegar a 2022 com o desmatamento na Amazônia 16% superior ao de 2018. Veja na íntegra (.pdf)

Pagina 12 do Anexo: PLANO NACIONAL PARA CONTROLE DO DESMATAMENTO ILEGAL E RECUPERAÇÃO DA VEGETAÇÃO NATIVA 2020 – 2023

Deputados correm para aprovar marco do mercado de carbono

O deputado federal Marcelo Ramos (PL/AM), autor do PL 528/21, que cria um mercado brasileiro de créditos de carbono, confia que será possível chegar a um acordo para aprovar o projeto na quarta (3).

Vice-presidente da Câmara, Ramos reconhece que a agenda é difícil, com a pauta dos precatórios, mas defende a urgência do tema como uma ação efetiva do Brasil durante a COP26.

“As primeiras manifestações do Brasil são absolutamente frustrantes e incompatíveis com as ambições que foram geradas em relação ao país a partir do Acordo de Paris e da perspectiva de aprovação do Artigo 6”, afirma.

Ele participou da live Estratégia ESG – De olho na COP26, promovida pela agência epbr e pela Alter Conteúdo.

A versão mais recente do PL 528/21 propõe a criação de um sistema de comércio de emissões, análogo ao que é praticado no exterior, a exemplo do ETS europeu. O texto final, contudo, ainda é negociado.

“O problema é que o governo quer já estabelecer a modelagem desse mercado regulado. E entendemos que a modelagem apresentada por eles é muito ruim”, diz.

Compromisso Global do Metano

Também nesta terça (2), um grupo de 103 países aderiu ao esforço liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030.

O metano é o principal gás de efeito estufa depois do dióxido de carbono.

Brasil, China, Rússia e Índia estão entre os cinco maiores emissores de metano, mas não assinaram o compromisso. Os países foram incluídos em uma lista identificada como “alvos” para adesão.

No caso do Brasil, onde a principal fonte de emissão do gás é a pecuária, o Itamaraty disse que o país vai apoiar a iniciativa, mas ainda não foi apresentado nenhum detalhamento.

Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, avalia que, mesmo aderindo ao compromisso, dificilmente a atual gestão implementará medidas nesse sentido.

“O país tem tecnologias disponíveis para reduzir as emissões de metano com ganho de eficiência. Só que isso exigirá um grau de priorização e investimentos que é incompatível com o atual governo federal. Cumprir o compromisso global de Glasgow será uma tarefa para o governo eleito em 2022”, diz.

Anunciado em setembro pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o Compromisso Global do Metano agora inclui metade dos 30 principais emissores de metano.

Ainda sobre a COP26…

Margem para reduzir renováveis. Para o setor de energia, o governo brasileiro anunciou na COP26 objetivo de alcançar participação entre 45% e 50% de energias renováveis na matriz energética em 2030.

Segundo a projeção do Plano Decenal de Energia (PDE) 2030, aprovado em 25 de fevereiro, a participação das renováveis na matriz pode variar de 48% a 50% entre 2021 e 2030.

A meta inclui o aumento da participação de biocombustíveis sustentáveis, incluindo o uso de biomassa na cogeração de energia e a expansão do consumo de biocombustíveis via RenovaBio. A expansão da oferta de etanol também é citada como uma diretriz brasileira.

Sem detalhes específicos de crescimento, o governo anunciou também a intenção de incentivar a fabricação e o uso de veículos elétricos e híbridos, incluindo-se veículos de carga.

‘COP poderia ser melhor aproveitada’. O coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo nesta terça (2), ainda no início das negociações da COP26. Ele foi nomeado para a função ainda em maio de 2019 por Jair Bolsonaro (sem partido).

“Aqui na COP eu sou politicamente neutro. Não vou fazer nenhuma crítica ao governo, ou a ninguém, não vou fazer. Mas a COP poderia ser melhor aproveitada. Eu tentei, mas eu não consegui”, disse ao G1

First Movers Coalition. Uma parceria entre o Fórum Econômico Mundial e o governo dos Estados Unidos será oficialmente lançada na COP26 na próxima quinta (4).

As empresas participantes se comprometerão a comprar produtos de baixo carbono até 2030 para ajudar a desenvolver cadeias de suprimentos verdes e cumprir as metas climáticas mundiais.

Os compromissos visam quatro setores difíceis de descarbonizar: transporte marítimo, aviação, aço e transporte rodoviário.

Financiando a transição. Relatório Financing the Transition to a Net-Zero Future calcula que para alcançar as metas de neutralização de emissões será necessário investir globalmente pelo menos US$ 500 bilhões até 2030 em tecnologias de descarbonização.

Os valores são dez vezes superiores aos US$ 16 bilhões que já foram aportados mundialmente de 2016 a 2020.

Os investimentos estimados para até o fim desta década precisam ser direcionados para descobertas tecnológicas de descarbonização que incluem captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS) e geração de energia limpa com hidrogênio, bioenergia, combustíveis sustentáveis para aviação (SAF) e amônia verde, por exemplo.

O documento foi produzido pela consultoria Oliver Wyman em parceria com o Fórum Econômico Mundial. Veja na íntegra

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