Agendas da COP

Organizações expõem debilidade de políticas brasileiras para o clima, às vésperas da COP26

Brasil chegará na COP26 com alto índice de desmatamento
Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Porto Velho, Rondônia - Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 28/10/21
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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As emissões brasileiras de dióxido de carbono cresceram 9,5% em 2020 e chegaram a 2,1 bilhões de toneladas de CO2 equivalente — maior valor desde 2006. O país é o 5º maior emissor global de gases de efeito estufa.

Se continuar neste ritmo, não vai conseguir cumprir as metas do Acordo de Paris e contribuir com os esforços para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até o fim do século.

Os dados foram apresentados nesta quinta (28), durante seminário do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), promovido pelo Observatório do Clima. Veja o relatório na íntegra (.pdf)

“As emissões brasileiras cresceram nos últimos três anos, indo na contramão do que aconteceu no mundo. No ano da pandemia, estima-se que as emissões globais tenham reduzido entre 6 e 7%”, alerta Tasso Azevedo, coordenador do SEEG.

Segundo o Observatório do Clima, que reúne mais de 70 organizações não governamentais de perfil sócio ambientalista, a alta no desmatamento no ano passado, em especial na Amazônia, deixa o país em desvantagem no acordo climático de Paris.

“As únicas coisas que diminuem no Brasil são a proteção a florestas, o uso de recursos de fiscalização, as políticas ambientais e a ambição depositada na COP. Os números do SEEG expõem que tudo que o governo plantou como destruição ambiental, está colhendo agora em forma aumento de emissões”, critica Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Quase metade das emissões brasileiras, 46% veio de mudanças no uso da terra, onde o desmatamento é a principal fonte (93%). O segmento também foi o que teve maior aumento de emissões em relação a 2019 (23,7%).

Em seguida, vem a agropecuária, com 27% das emissões. O crescimento em relação ao ano passado foi de 2,5%.

Já o grupo energia, terceira maior fonte de emissão (18%), conseguiu reduzir em 4,5% o volume de CO2 lançado da atmosfera.

Felipe Barcellos, pesquisador do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), explica que o resultado no setor de energia é um reflexo das mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19, quando foi necessário que as pessoas evitassem se deslocar.

“Destaca-se a diminuição de emissões nos transportes de passageiros. O consumo de combustível na aviação caiu pela metade. A demanda por gasolina e etanol também diminuiu de maneira relevante”, comenta.

Pedalada climática. Na terça (26), a ONU alertou que o Brasil é o único país do G20 que recuou em sua promessa de corte de emissão de CO2.

Segundo o Emissions Gap Report 2021, a atualização da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) pelo Brasil em dezembro de 2020 “leva a um aumento absoluto” nas emissões, adicionando cerca de 300 milhões de toneladas de CO2 por ano.

A manobra utilizada pelo governo de Jair Bolsonaro é chamada por especialistas de pedalada climática, isto é, o governo alterou retroativamente a estimativa de emissões do país.

Menos 30 anos em 3. Também esta semana, o Sinal de Fumaça – Monitor Socioambiental preparou uma linha do tempo com destaques do desmonte da governança socioambiental e das políticas de redução de desmatamento no Brasil.

De acordo com o levantamento, os impactos extrapolam em muito as reformas infralegais verbalizadas pelo ex-ministro Ricardo Salles na reunião ministerial de abril de 2020, tornando-se agenda prioritária nos acordos com o Centrão no Congresso Nacional.

Rebeca Lerer, coordenadora do Sinal de Fumaça, avalia que as medidas adotadas pelo governo Bolsonaro – somadas ao pacote de maldades legislativas na área socioambiental dos últimos três anos – se configuram como um retrocesso de 30 anos na governança socioambiental brasileira. Linha do tempo na íntegra (.pdf)

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Estados da Amazônia Legal não estão preparados para eventos climáticos extremos. Relatório lançado na terça (26) revela que nenhum deles possui sistemas de alerta e planos de contingência permanentes para eventos extremos, como inundações, secas, incêndios florestais e ondas de calor.

O estudo é de autoria do Achados e Perdidos, iniciativa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e da Transparência Brasil, realizada em parceria com a Fiquem Sabendo e com financiamento da Fundação Ford.

Embora os Estados da região tenham desenvolvido políticas e estratégias voltadas para as emergências climáticas, diz o relatório, elas se encontram em diferentes estágios de implementação e, com isso, poderiam não ser eficazes no controle de eventuais cenários complexos de meteorologia e hidrologia.

A Amazônia Legal corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do estado do Maranhão.

Mais sobre o clima às vésperas da COP26

Acordo sobre florestas. Há quatro temas prioritários para o governo do Reino Unido na COP26 em Glasgow: carros, carvão, dinheiro e árvores. Sobre este último, um acordo sobre florestas é esperado na terça (2), durante a Cúpula Mundial de Líderes.

O acordo irá recomprometer os países a deter e reverter a perda e degradação das florestas até 2030. Promessa que já tinha sido feita na declaração de Nova York sobre florestas em 2014.

A novidade é o estabelecimento, pela primeira vez, de um pacote de medidas para ajudar a cumprir a meta, o que incluirá povos indígenas, finanças, sinais regulatórios e comércio internacional.

Mapas de estoque de carbono. O Ministério da Agricultura lançou na quarta (27) mapas de estoque de carbono orgânico dos solos brasileiros. Ferramenta será apresentada na COP26.

Segundo a pasta, objetivo é subsidiar políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas e à diminuição da emissão dos gases de efeito estufa.

Biocombustíveis tentam unir forças. Uma coalizão formada por seis frentes parlamentares em defesa dos biocombustíveis anunciou ontem (27) o envio de um documento oficial à COP26.

Iniciativa semelhante já havia sido lançada no ano passado, mas sem consenso dentro do setor de biodiesel. O relançamento da ‘Biocoalizão’ acontece em meio a ameaças da gestão de Jair Bolsonaro à mistura de etanol anidro na gasolina, a exemplo do que aconteceu com o biodiesel no diesel, como uma resposta à crise de preços dos combustíveis.

O setor tenta agora reforçar sua força política se unindo a outras frentes parlamentares, como a Agropecuária.

Fazem parte as frentes parlamentares da Agropecuária; Valorização do Setor Sucroenergético; do Biodiesel; em Defesa das Energias Renováveis; da Bioeconomia; e da Economia Verde.

Ontem, a coalizão enviou um ofício (.pdf) ao governo pedindo adiamento do fim dos leilões de biodiesel — programado para janeiro — ou manutenção da Petrobras como intermediária na compra do biodiesel.

O CNPE reiterou na semana passada que não vai ter adiamento.

Outra demanda é que seja retomado o cronograma do mandato de 13% de biodiesel no diesel comercial a partir de janeiro de 2022 e de 14% em março de 2022.

Mobilidade sustentável. Também na quarta (27), associações dos setores automotivo e de biocombustíveis lançaram um plano estratégico para promoção da Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono (MSBC) no Brasil.

O movimento pretende contribuir nas discussões sobre políticas públicas que envolvam tecnologias de baixo carbono, entre elas a hibridização e a célula a combustível. Uma estratégia para assegurar mercado para o etanol na transição para eletromobilidade.

A proposta é estimular a convergência entre programas governamentais, como Rota 2030, Proconve, RenovaBio e Combustível do Futuro.

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