Agendas da COP

Mineração brasileira defende precificação de carbono e mira políticas para offset

Mineração defende precificação de carbono e regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris
Foto: Freepik

O setor de mineração no Brasil defende a precificação e o desenvolvimento do mercado global de carbono, além do estabelecimento de iniciativas de financiamento climático. Estratégias fazem parte de posicionamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Mineração sobre a agenda que o Brasil deve levar à COP26, conferência climática que reunirá líderes mundiais em novembro, em Glasgow, Escócia.

“As mudanças climáticas estão na agenda do setor mineral”, afirmou Wilson Brumer, presidente da entidade, durante seminário na Câmara dos Deputados na terça (19). 

O instituto, que representa 85% dos agentes do setor mineral no país, defende um comprometimento do setor na condução de pautas socioambientais como maneira de reaproximação com a sociedade.

“Após as tragédias que enfrentamos há cerca de dois anos atrás, a reputação do setor mineral caiu enormemente”, avalia.

  • Quais agendas setoriais serão levadas para a Cúpula do Clima? Acompanhe a cobertura em Agendas da COP26.

Em 2015, a barragem da Samarco, empresa da Vale e BHP Billiton, no município de Mariana (MG), se rompeu despejando um mar de lama com rejeitos tóxicos, devastando o Rio Doce, no que foi considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil.

Quatro anos depois, em 2019, outra barragem da Vale se rompeu, dessa vez em Brumadinho (MG), causando a morte de 270 pessoas. Nove corpos ainda seguem desaparecidos, mesmo após dois anos de busca.

O setor vê na precificação de carbono, por meio da regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris — especialmente o Artigo 6.4 sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Sustentável (MDS) e o Mercado de Carbono Global — um instrumento para viabilizar a transição para uma economia de baixo carbono.

“Somos favoráveis a precificação de carbono, como mecanismo econômico viabilizador dessa agenda”, destaca Rinaldo César Mancin, diretor de relações institucionais do instituto.

A entidade também apoia a adoção de marcos regulatórios no Brasil, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e um mercado voluntário de carbono integrado ao mercado compulsório — o programa Floresta +, do governo federal.

Além disso, acredita que o financiamento climático pode trazer um incremento de recursos para implementação de novas tecnologias de baixo carbono e adaptação climática, reduzindo os riscos e impactos ao setor mineral.

Entre os principais riscos para o setor mineral, o documento cita a escassez de recursos sensíveis ao clima, como água e energia, a interrupção de atividades de portos, ferrovias e estradas, implicando no encarecimento do preço da matéria-prima e o aumento do custo da energia e da produção de biocombustíveis.

O instituto também cobrou do governo investimentos em infraestrutura e logística com maior resiliência às mudanças climáticas, e a facilitação e ampliação do acesso da indústria a recursos financeiros para fomento do investimento em baixo carbono.

Transição energética e minerais críticos

Matéria-prima para equipamentos de produção, armazenamento e transporte da energia renovável, os minerais e metais terão papel fundamental na transição para um futuro de economia de baixo carbono.

Um dos exemplos é o crescimento exponencial da demanda mundial por lítio, impulsionado essencialmente pela produção de baterias de veículos elétricos, assim como minerais críticos, como níquel, cobalto e terras raras, essenciais para construção de equipamentos para plantas de energia eólica e solar.

“A indústria de mineração se tornará ainda mais importante para a luta global da mudança do clima, uma vez que metais e minérios são cruciais para as tecnologias de descarbonização como veículos elétricos e energia renovável”, explica Rohitesh Dhawan, CEO da International Council on Mining & Metals (ICMM).

A entidade, que representa empresas responsáveis por um terço da produção metalúrgica no mundo, coordena as discussões do setor sobre a agenda climática no âmbito internacional.

“Sabemos que os carros elétricos levam seis vezes mais metais que carros convencionais, turbinas eólicas levam nove vezes mais metais do que uma planta de geração de gás”, comenta Dhawan.

O Ibram estima que uma turbina eólica necessita de 335 toneladas de aço, 4,7 toneladas de cobre, três toneladas de alumínio, duas toneladas de terras raras, entre outros minerais.

“Ainda temos minerais pouco explorados no Brasil, como terras raras (…) É preciso que a gente amplie a capacidade geológica e desenvolvimento de vários mineiras no Brasil”, defende Wilson Brumer, presidente do Ibram.

Segundo ele, estão previstos US$ 41 bilhões em investimentos em mineração no país para os próximos cinco anos. Sendo US$ 19 bilhões em projetos já em execução.

“Muitos desses investimentos novos estão ligados a minerais focados nessa nova agenda [de transição energética], níquel cobre, lítio, nióbio, cobalto, terras aras e quartzo”, explica Brumer.

Redução das emissões

Responsável por 5 a 7% das emissões de gases do efeito estufa, a mineração vem investindo em maneiras de reduzir a pegada de carbono das suas operações. O maior desafio é a substituição de combustíveis fósseis utilizados nos grandes caminhões, que são responsáveis por quase 50% das emissões diretas de CO2 das companhias.

“Precisamos substituir por fontes renováveis toda a nossa matriz fóssil. Usamos ainda carvão nos nossos fornos de redução de ferro níquel, usamos diesel nos nossos caminhões e óleo peado para lubrificação”, conta Wilfred Bruijn, presidente da Anglo American no Brasil.

“Já estamos estudando alternativas, do grupo AngloAmerican como um todo, mas que queremos introduzir aqui no Brasil, a substituição de diesel por hidrogênio verde”.

A companhia produziu a primeira célula a hidrogênio verde (H2V) em agosto desse ano, em uma planta piloto no Chile. A ideia é utilizar o H2V em todos os veículos da empresa no país vizinho.

No Brasil, o grupo tem uma parceria com a Casa dos Ventos para construção de um parque eólico.

“Nos tornamos acionistas dessa empresa para que pudéssemos ter autoprodução de energia renovável, através do parque eólico no Rio Grande do Norte”.

Vice-presidente de relações institucionais e comunicação da Vale, Luiz Eduardo Osório, destaca que a companhia também está apostando na descarbonização da sua frota e uso de energia renovável.

“Temos em operação uma planta piloto no Canadá com trinta veículos elétricos em operação e uma locomotiva elétrica em Tubarão, no sudeste do Brasil, e outra que nós vamos botar no Norte no próximo ano, uma locomotiva a bateria”.

Também prevê investimentos de cerca de US$ 500 milhões para geração de energia solar, em Minas Gerais. O projeto tem o início da operação previsto para o quarto trimestre de 2022.

Contudo, Osório revela que o maior desafio da companhia não são as emissões diretas (escopo 1) ou de consumo de energia (escopo 2), mas as indiretas (escopo 3), realizadas principalmente pela siderurgia.

“Nosso maior desafio está na cadeia siderúrgica, ou seja, nos nossos clientes (…) A Vale emite nas suas operações 14 milhões de toneladas. No escopo 3, siderurgia e navegação, são 586 milhões de toneladas de CO2 equivalente”, detalha o executivo.