Energia

Ceará estuda experiência espanhola para desenvolver mercado de hidrogênio

Comitiva do estado visitou planta de hidrogênio verde da Neoenergia na Espanha na última semana

Comitiva do Ceará visitou planta de hidrogênio verde da Neoenergia na Espanha na última semana
Comitiva do Ceará visita planta de hidrogênio verde da Neoenergia na Espanha na última semana - Foto: Divulgação

Uma comitiva formada por representantes do governo do Ceará foi à Espanha na semana passada visitar a planta de produção de hidrogênio verde (H2V) da Neoenergia, subsidiária da Iberdrola. Recentemente, a companhia assinou um memorando de entendimento com o estado para estudo da viabilidade do uso de H2V na mobilidade urbana.

A unidade visitada em Puertollano, Espanha, começará a operar no fim do ano, e terá na primeira etapa uma potência total de 20 MW em eletrolisadores e uma usina solar fotovoltaica 35 MW que vai suprir a produção de H2V.

A planta é uma parceria entre a Iberdrola e a empresa química de fertilizantes Fertiberia. Juntas, as companhias esperam investir 1,8 bilhão de euros até 2027 para o desenvolvimento de 830 MW de hidrogênio verde, colocando a Espanha na vanguarda do combustível na Europa.

“Esta sendo um momento muito rico. Uma excelente oportunidade de aprofundar os conhecimentos que serão de grande relevância na implantação do nosso Hub de H2V no Ceará”, ressaltou a secretária executiva da Indústria do estado, Roseane Medeiros, que integra a comitiva.

O Ceará vem sendo pioneiro no desenvolvimento do mercado de H2V no Brasil, com a implementação de um hub de hidrogênio no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).

Até agora, todos os projetos anunciados visam especialmente a exportação do H2V produzido, aproveitando a conexão existente entre o Pecém e o Porto de Roterdã, na Holanda — principal porta de entrada de combustíveis do continente europeu.

O hub já conta com cinco empresas oficialmente interessadas: Enegix, White Martins, Qair, Fortescue e EDP, e mais de uma dezena de companhias ainda na fila de negociação.

Além de Roseane, fazem parte da missão na Espanha representantes da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), do CIPP e da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Eles também visitaram o Centro Nacional do Hidrogênio — centro de pesquisas financiado pela União Europeia. Lá, puderam ver de perto um veículo movido a célula a combustível de H2V, com previsão de autonomia de 600km com uma carga de 5kg de combustível, com um tempo de recarga de apenas cinco minutos, bem inferior ao veículo elétrico.

“Foram vários momentos de exposição técnica, onde vimos que temos um desafio muito grande pela frente. Com toda certeza, esse é o combustível do futuro. Isso só nos motivou ainda mais a seguir com a parceria com o Governo do Estado, a FIEC e as empresas envolvidas, para transformar o Ceará na grande referência na produção sustentável de hidrogênio no Brasil”, disse o reitor da UFC, Cândido Albuquerque.

Além do projeto de mobilidade no Ceará, a Neoenergia também espera construir uma planta piloto de produção de hidrogênio verde no Porto de Suape, em Pernambuco, e outro no Rio Grande do Norte.

Repsol vai investir mais de US$ 1,5 bilhões em H2V

Também na corrida pelo desenvolvimento do mercado espanhol de H2V, a Repsol anunciou na semana passada que irá investir mais de US$ 1,5 bilhão na produção de hidrogênio verde até 2025.

Segundo apresentação do presidente-executivo Josu Jon Imaz a investidores, a gigante espanhola de energia pretende ter cerca de 550 megawatts de capacidade de geração de hidrogênio renovável nos próximos quatro anos, até alcançar 1,9 GW em 2030.

“Se o hidrogênio vai voar na Europa, a Espanha vai estar à frente e a Repsol tem tamanho, equipes e capacidade para fazer isso acontecer”, disse o executivo.

Nesta mesma semana, a companhia anunciou produção de dez toneladas de hidrogênio verde usando como matéria-prima o biometano, feito a partir de resíduos urbanos.

O H2V produzido no Complexo Industrial de Cartagena da Repsol foi usado para fabricar combustíveis com baixa pegada de carbono, como gasolina, diesel ou querosene para aviação.

A utilização do biometano, no lugar do gás natural, evitou a emissão de cerca de 90 toneladas de CO2, segundo a empresa.

Atualmente há duas rotas para produção de H2V. Uma via eletrolise, que utiliza eletricidade de fontes renováveis para separar as moléculas da água, e outra via reforma, que utiliza biomassa como matéria-prima.