NESTA EDIÇÃO. CBAM começa a valer em 1º de janeiro de 2026, para cimento, ferro, aço, alumínio, fertilizantes, eletricidade e hidrogênio importados pela UE.
Relatório do WEF mostra que grandes empresas estão se preparando para ganhar competitividade diante de novo mecanismo.
Um dos temas que entrou no pacote mutirão da COP30, mas ficou fora do texto final por falta de consenso, o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da União Europeia (CBAM) começa a valer em 1º de janeiro de 2026 sob fortes críticas de países emergentes, embora suas multinacionais já estejam se preparando para o novo modelo de comércio.
Relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês) sobre o imposto que tenta evitar a “fuga de carbono” para países com políticas climáticas mais brandas mostra que grandes empresas de países como Brasil, China, Índia e África do Sul estão se antecipando para garantir competitividade. A Petrobras é uma delas.
Mais do que cumprir a regra, companhias intensivas em emissões estão investindo em tecnologias para descarbonizar a produção, usando “preço-sombra do carbono” para orientar decisões de capital e reforçando a contabilidade digital de carbono.
Essa é uma das conclusões do estudo elaborado pelo WEF em parceria com a Climate Finance Asia.
“Multinacionais com cadeias de suprimentos globais estão implementando medidas de conformidade e posicionamento estratégico antes da onda de regras comerciais baseadas em carbono”, diz o relatório divulgado esta semana.
“A resposta corporativa já está em andamento: uma mudança tecnológica fundamental para a produção com menor emissão de carbono”, completa.
Mercados de carbono como aliados
Embora o mecanismo esteja cercado de críticas, sobretudo por parte de nações que enxergam na política europeia uma barreira protecionista que tende a encarecer e até inviabilizar seus produtos, ele chega em um momento em que mercados de carbono avançam em todo o mundo, o que pode ajudar a equilibrar a balança.
O documento cita dados do Banco Mundial de que há 80 impostos ou mercados regulados de carbono em operação em todo o mundo, cobrindo 28% das emissões globais.
Para setores intensivos em emissões como aço, cimento e mineração, quanto mais cedo o alinhamento com essas políticas para mitigar riscos, maior as chances de navegar por mercados “verdes”.
“Para exportadores de economias emergentes como China, Brasil, Índia e África do Sul, isso cria tanto pressão quanto oportunidade: cumprir as normas e manter a competitividade de custos nos mercados europeus ou correr o risco de exclusão de mercados de alto valor agregado. O CBAM da UE pode influenciar os padrões comerciais, mas também pode impulsionar mudanças sistêmicas em direção a uma produção mais limpa”, defende o relatório.
O Brasil, por exemplo, que trabalha para implementar seu sistema de comércio de emissões (SBCE) entre 2030 e 2031, é um exemplo de economia que pode se beneficiar do CBAM no longo prazo.
O país inclusive espera conseguir fechar neste fim de semana, o acordo comercial Mercosul-UE com potencial de movimentar US$ 22 trilhões entre os dois blocos — com critérios ambientais e climáticos.
Preço do carbono na Petrobras
Maior produtora e refinadora de petróleo do Brasil, a Petrobras está entre as companhias intensivas expostas a políticas como CBAM e SBCE, e pode fornecer lições para outras empresas, segundo o relatório.
O documento classifica como positiva a iniciativa da companhia de adotar um preço de carbono interno para guiar as decisões de investimentos, além da criação de um fundo de US$ 1,3 bilhão para financiar redução de emissões entre 2025 e 2029.
Projetos de captura e armazenamento de CO2 (CCS), investimentos em biocombustíveis, renováveis e aquisição de créditos de carbono também são listados como ações que ajudam a petroleira a se antecipar às novas regulações.
Um passo para frente, apesar de outros para trás
O CBAM chega em um cenário desafiador para a União Europeia. Em meio a pressões internas e externas, o bloco recuou nos últimos dias de algumas de suas políticas climáticas e ambientais.
Na terça (16), a Comissão Europeia propôs suspender a proibição de veículos novos com motor a combustão prevista para começar a valer em 2035.
Parte do Pacto Verde, criado para ajudar a UE a atingir a neutralidade de carbono até 2050, a estratégia tem esbarrado na concorrência chinesa e nas tensões comerciais com os Estados Unidos.
No dia seguinte (17), o parlamento europeu aprovou, com 402 votos a favor, 250 contra e oito abstenções, o adiamento por 12 meses da implementação da lei antidesmatamento EUDR, para grandes empresas, com volume de negócios anual acima de 10 milhões de euros.
Cobrimos por aqui
Curtas
“Uma verdadeira termelétrica”. Uma perícia técnica do MPF lançou fortes questionamentos sobre o licenciamento ambiental do data center da ByteDance, controladora do TikTok, previsto para ser instalado na ZPE do Porto do Pecém (CE). Apesar de projeto se declarar “100% renovável”, laudo destaca previsão de 120 geradores a diesel, com capacidade de até 200 MW.
Biodiesel no mapa do caminho. Abiove, Aprobio e Ubrabio enviaram um ofício à Presidência da República pedindo a inclusão do Mapa e MCTI entre os órgãos do governo que deverão elaborar diretrizes para a transição justa do país. As associações querem integração do agronegócio no roteiro encomendado pelo presidente Lula (PT) no início do mês.
Intervenção na Enel. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos/PB), enviou um pedido ao MME para uma intervenção no contrato de concessão da Enel em São Paulo. O ministro Alexandre Silveira (PSD) já havia falado que iria acionar a Aneel para iniciar o processo de caducidade do contrato.
R$ 3,5 bi para etanol de milho. A Inpasa anunciou, nesta quinta-feira (18/12), o investimento de R$ 3,48 bilhões no Mato Grosso, para construção de uma nova biorrefinaria de etanol em Rondonópolis e ampliação da usina de Nova Mutum. O empreendimento em Rondonópolis será a décima unidade da companhia e a terceira no estado.
Biometano de aterro. Joint venture formada por Edge, do grupo Cosan, e Orizon VR, a Onebio recebeu aprovação de cerca de R$ 450 milhões em financiamento do BNDES para custear a construção de uma planta de purificação de biogás em Paulínia (SP). A maior parte dos recursos virá do Fundo Clima.
Na reserva. As chuvas do verão não serão suficientes para recompor os reservatórios de hidrelétricas, segundo previsão da Nottus. Ainda assim, o nível de precipitação para os próximos meses é considerado dentro da normalidade.
Quarto dia de greve. A paralisação dos trabalhadores da Petrobras entrou no quarto dia na quinta-feira (18/12) com a adesão de nove refinarias, ampliando o impacto da mobilização sobre o parque de refino da estatal.
Inova Cemig. Startups do mundo todo já podem se inscrever, a partir desta quinta-feira (18/12), no edital do 4º ciclo do Inova Cemig Lab. Nesta etapa, serão apresentados oito novos desafios estratégicos, e cada empresa selecionada poderá receber até R$ 1,6 milhão para desenvolver soluções para a companhia.
Capacitação para transição. A BYD lançou um programa educacional especializado em energia solar voltado às comunidades ribeirinhas fora da região metropolitana de Manaus em parceria com o Senai e com o apoio do Centro Internacional de Tecnologia de Software (CITS) e da SUFRAMA. A formação será realizada a bordo da embarcação Samaúma, barco-escola do Senai, que capacitará 320 alunos em 16 turmas de 20 estudantes.

