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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 10/08/21
Editada por Nayara Machado
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Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) lançado na segunda ataca as ambições firmadas por governos no Acordo de Paris por meio de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Dos cinco cenários possíveis, três são classificados como catastróficos e apenas um traz uma janela de possibilidades para manutenção da vida no planeta como conhecemos.
“As NDCs levam o mundo a um aquecimento de 3° Celsius. Ou seja, se tudo der certo, vai dar tudo errado”, diz Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em entrevista à epbr.
Para o especialista, as conclusões do relatório podem acrescentar uma pressão maior nas negociações que acontecerão em novembro durante a COP26.
“Precisamos principalmente dos países do G7 e do G20, que basicamente concentram as emissões, fazendo o que precisam”, destaca.
Ele cita o financiamento da transição em países emergentes como exemplo do que precisa ser feito com urgência.
“Desde de 2009 foi anunciado um fundo de US$ 100 bilhões para transição em países em desenvolvimento para uma economia de baixo carbono e até hoje, mais de uma década depois, ainda não está na mesa”.
Astrini também critica as estratégias de países como China e Brasil, que continuam anunciando investimentos em termelétricas a carvão e gás.
“No caso do Brasil, acabamos de aprovar a privatização da Eletrobras que obriga a contratação de térmicas a gás e aumenta a participação de poluentes na matriz energética brasileira”.
Na avaliação de Astrini, a cobrança por ações climáticas já entrou na área econômica e países como o Brasil ficarão sob uma pressão internacional maior.
Como exemplo, ele lembra o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que deixou de ser assinado por conta do desmatamento na Amazônia.
“Ontem, esse relatório do IPCC teve uma repercussão global infinitamente maior do que o relatório anterior, sete anos atrás. Essa repercussão vai ter efeito nos movimentos sociais e nos negócios”, diz.
O Brasil na contramão
Desde a Cúpula do Clima convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em abril, o governo brasileiro tem adotado um discurso em que destaca a matriz energética brasileira predominantemente renovável para tirar a atenção do desmatamento — principal fonte de emissão do país.
É verdade que a matriz brasileira é uma das mais renováveis do mundo.
Mas é verdade também que o governo Bolsonaro está sujando a matriz, sob um discurso de desenvolvimento econômico que precisa dos fósseis para acontecer.
Plano para carvão
Nesta segunda, enquanto o mundo repercutia a “sentença de morte para os combustíveis fósseis” do relatório do IPCC, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançava o Programa Para Uso Sustentável do Carvão Mineral Nacional (.pdf).
No diagnóstico, o MME reconhece que as usinas a carvão nacional não são competitivas do ponto de vista ambiental — eficiência climática, por CO2/kWh – e econômico.
E que subsídios via Conta de Desenvolvimento Energético até 2027 não são suficientes para construir novas usinas.
Este tipo de diagnóstico tem levado ao encerramento da atividade em países ricos: G7 se compromete com fim de subsídios para carvão ainda em 2021
Mas o Brasil está optando por um caminho diferente. O programa proposto pelo MME para o carvão traz estímulos para contratação de energia a carvão ao mesmo tempo em que busca direcionar recursos para financiamento do fóssil.
Térmicas a gás
Sancionada em julho, a MP da privatização da Eletrobras prevê a contratação dos 8 GW de térmica elétrica a gás, boa parte em regiões sem acesso ao combustível.
Exigência criticada por parte do mercado e ambientalistas.
Tanto no clima, quanto no preço, o argumento em favor das térmicas é o da substituição das fontes mais sujas e caras. Quando falta chuva, é preciso queimar óleo e gás mais caros para o consumidor, situação contornada pela térmica a gás natural, na base, como prevê a lei da privatização.
O problema é o efeito na expansão da matriz: a reserva de mercado desloca a demanda futura por energia e potência renováveis.
Um estudo (.pdf) do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), calcula um acréscimo de 13,1 MtCO2e, nas emissões de gases de efeito estufa — aumento de 24,6% em relação às emissões do setor elétrico.
Menos biodiesel e redução de metas do Renovabio
A política nacional de biocombustíveis também vem sofrendo retrocessos desde o ano passado.
A estimativa de queda no consumo de combustíveis fez o governo cortar pela metade as metas de descarbonização do Renovabio.
E o aumento no preço dos combustíveis e ameaças de greve por parte dos caminhoneiros levou a sucessivas reduções no percentual de biodiesel adicionado ao diesel fóssil.
Mesmo com a recuperação no consumo de combustíveis, as metas do Renovabio continuam reduzidas e o preço médio do CBio (crédito de descarbonização) vem caindo.
Em 5 de agosto, o preço médio em 2021 estava em R$ 29,87, segundo o MME.
As metas estão em consulta pública.
No caso do biodiesel, o percentual que deveria ser de 13% este ano, está em 12%.
Desmatamento em alta
Ponto de alerta no relatório do IPCC, a Amazônia pode virar uma floresta seca, com o aquecimento global superior a 1,5 graus em 2030.
Entre agosto de 2020 e julho de 2021, a Amazônia teve 8.712 km² de floresta desmatada, segundo dados divulgados na sexta (6) pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
É o segundo pior resultado da série que iniciou em 2015, ficando atrás somente do período anterior (2019-2020), quando mais de nove mil quilômetros de floresta foram derrubados.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento se pronunciou nesta terça (10) sobre o IPCC, dizendo que o aquecimento global gera um “prejuízo econômico incalculável” .
Em nota, a pasta comandada por Tereza Cristina diz que o documento traz cenários “preocupantes de mudanças do clima, evidenciando ainda mais a vulnerabilidade do setor. Ressaltamos que o setor agropecuário é um dos mais vulneráveis à mudança do clima”.
Curtas
No Senado, ambientalistas e empresários cobraram metas mais ambiciosas do governo brasileiro na COP26, citando o relatório do IPCC nesta segunda (9). Parte dessa estratégia passa por ações como mudanças no uso do solo e a regulamentação de um mercado de carbono no Brasil. epbr
O Porto do Açu, no Norte Fluminense, iniciou o licenciamento ambiental de parques eólicos offshore com 2.160 MW de capacidade instalada, e pretende atrair um ou mais sócios para desenvolver os quatro parques Ventos do Açu. epbr
No Dia Internacional do Biodiesel, especialistas discutem a qualidade do diesel brasileiro, em evento que reuniu ANP, Petrobras, IBP (associação de distribuidoras) e Ubrabio (associação de biodeisel). Fez parte da programação da Biodiesel Week.
Estudo (.pdf) da BCG encomendado pela Anfavea (associação da indústria automotiva) indica que veículos leves eletrificados responderão por 12% a 22% do mix de vendas em 2030 no Brasil. Veículos pesados com novas tecnologias serão de 10% a 26% em 2030.
A partir de 1° de setembro, todos os voos da GOL Linhas Aéreas para Fernando de Noronha (PE), partindo do Recife, terão emissão neutra de carbono. Parceria entre a GOL e a MOSS, que doará aos clientes a compensação da pegada de carbono de suas viagens à ilha. Folha
O governo russo aprovou o conceito de desenvolvimento de energia de hidrogênio, para produzir, exportar e usar o combustível em diferentes setores da economia doméstica. No início do ano, Moscou disse que quer uma participação de 20% no mercado global de hidrogênio. Argus
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