Transição europeia

UE lança terceiro leilão de hidrogênio, incluindo gás natural

Comissão anunciou três pacotes para descarbonização, somando € 5,2 bilhões; leilão de hidrogênio é um deles e irá considerar, pela primeira vez, rotas a partir de gás natural com CCS

Teresa Ribera Rodríguez, vice-presidente da Comissão Europeia para a Transição Limpa, Justa e Competitiva. Foto: Parlamento Europeu
Teresa Ribera Rodríguez, vice-presidente da Comissão Europeia para a Transição Limpa, Justa e Competitiva. Foto: Parlamento Europeu

RIO — A Comissão Europeia anunciou nesta quinta (4/12), a abertura de três pacotes de financiamento, somando €5,2 bilhões provenientes das receitas do mercado de carbono europeu (EU ETS), em mais um movimento para tentar acelerar a descarbonização da indústria do bloco.

O pacote inclui o terceiro leilão europeu de hidrogênio (€1,3 bilhão); uma chamada para tecnologias de emissão líquida zero em 2025; e o primeiro leilão europeu dedicado exclusivamente à descarbonização do calor industrial (€1 bilhão). 

“A Europa está não só preparando o terreno para um futuro mais ecológico e uma liderança tecnológica, mas também investindo no seu próprio futuro (…) Isso ajudará a indústria da UE liderar a inovação de amanhã”,  disse Teresa Ribera, vice-presidente da Comissão Europeia para Transição Limpa.

Ponto de inflexão

O leilão de hidrogênio da União Europeia irá considerar, pela primeira vez, projetos além da eletrólise (hidrogênio verde), contemplando também hidrogênio de baixo carbono, inclusive rotas a partir de gás natural associado à captura e armazenamento de carbono (CCS).

Além da recém aprovada regulamentação para o hidrogênio de baixa emissão, a decisão ocorre num contexto desconfortável para Bruxelas, em que a UE espera eliminar, de uma vez por todas, as importações de gás russo até novembro de 2027.

Soma-se a isso o fato de que investimentos vultosos em hidrogênio verde — peça central na estratégia climática europeia — não o fizeram avançar no ritmo esperado, enquanto projetos ao redor do mundo deixam de lado eletrolisadores europeus para apostar em tecnologia chinesa, mais barata.

A UE estabeleceu a meta de instalar 40 GW de eletrolisadores até 2030, mas, a poucos anos do prazo final, está muito distante do objetivo. 

A agência reguladora de energia do bloco, a ACER, alertou recentemente que o hidrogênio verde continua caro, mesmo após cerca de € 20 bilhões em subsídios. No balanço atual, apenas 300 MW foram efetivamente construídos, cerca de 5% da meta intermediária de 6 GW prevista para 2024. 

As três iniciativas têm como pano de fundo a necessidade urgente de dar previsibilidade e reduzir riscos aos consumidores industriais europeus, cuja adoção de tecnologias de descarbonização continua travada por custos altos e baixa maturidade de mercado. 

O hidrogênio, em particular, sofre com a falta de contratos firmes de compra que são essenciais para destravar financiamento privado e viabilizar projetos em escala. 

Inclusão do hidrogênio azul

É nesse cenário que foi lançado o terceiro leilão do European Hydrogen Bank, com orçamento de € 1,3 bilhão. 

Até aqui, esses leilões se concentravam exclusivamente na produção de hidrogênio renovável via eletrólise.

Agora, a inclusão do hidrogênio de baixo carbono, inclusive aquele produzido com gás natural associado com a captura de CO2 (hidrogênio azul), representa uma tentativa de reduzir custos e estimular a oferta. 

O leilão também inclui um novo tópico voltado especificamente a produtores que tenham setores marítimo ou de aviação como consumidores, dois segmentos com grandes desafios para substituir combustíveis fósseis. 

Os projetos selecionados receberão um prêmio fixo por quilo de hidrogênio validado e certificado, por um período máximo de dez anos.

Descarbonização da indústria

Em paralelo, a Comissão lançou a 2025 Net-Zero Technologies call, com um orçamento de € 2,9 bilhões, voltada a projetos inovadores com potencial significativo de redução de emissões. 

A chamada busca preencher lacunas de investimento e fortalecer a cadeia produtiva europeia de tecnologias limpas, abrangendo desde fabricação de equipamentos para energias renováveis e armazenamento até bombas de calor, baterias e tecnologias para produção de hidrogênio. 

A terceira iniciativa anunciada é o primeiro leilão europeu para descarbonizar o calor industrial, com € 1 bilhão.

O objetivo é fechar a diferença de custo entre alternativas sustentáveis, a exemplo do hidrogênio, e as tecnologias fósseis tradicionais por meio de um prêmio fixo ligado à quantidade de calor de processo efetivamente produzida de forma limpa. 

Podem participar projetos de diferentes portes e setores, incluindo bombas de calor industriais, caldeiras elétricas, sistemas de aquecimento por resistência ou indução, soluções solares térmicas, geotermia e combinações híbridas.

O prêmio poderá ser pago por até cinco anos aos vencedores cujas propostas entreguem o maior abatimento de CO2 ao menor custo. 

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