RIO — Nos preparativos para colocar Raia em operação em 2028, a Equinor traça seus planos para monetizar o gás natural do projeto – localizado no pré-sal da Bacia de Campos e a próxima grande fonte de gás novo do mercado brasileiro.
A companhia estreou este ano no mercado livre, com o gás de Roncador, na Bacia de Campos, enquanto avalia internamente sua estratégia de atuação no segmento de olho nos volumes que virão de Raia.
Em paralelo, a petroleira norueguesa tem planos de entrar no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de março de 2026 como fornecedora de gás flexível.
Parte da estratégia da empresa de compor uma carteira diversificada de clientes, com contratos de suprimento de curto, médio e longo prazos, tanto de perfil de suprimento firme quanto flexível.
O episódio desta semana do videocast gas week traz a visão de Cláudia Brun, vice-presidente de Estratégia e Desenvolvimento de Novos Negócios da Equinor. Assista na íntegra acima
A executiva vê Raia bem posicionada para “abocanhar market share na próxima década”, diante do declínio esperado dos atuais campos do pós e pré-sal e do gás boliviano.
Ao mesmo tempo usuária das infraestruturas existentes de escoamento e processamento da Petrobras e futura proprietária de um sistema próprio de escoamento para Raia, a Equinor prega respeito a princípio do acesso negociado na Lei do Gás de 2021 – mas vê espaço para redução das penalidades cobradas pela estatal.
Equinor avalia estratégia para mercado livre
O projeto de Raia terá capacidade para escoar 16 milhões de m³/dia. O ativo é operado pela Equinor (35%), em sociedade com a Repsol Sinopec (35%) e Petrobras (30%).
O primeiro grande contrato de comercialização de gás de Raia está assegurado com a Comgás, mas a Equinor mira oportunidades no mercado livre – onde a empresa foca, num primeiro movimento, em grandes clientes, enquanto avalia os passos para o futuro: se entrará no varejo ou se concentrará no atacado.
A Equinor estreou este ano no segmento, ao fechar seu primeiro contrato no mercado spot com a CSN. Enquanto Raia não entra em operação, a empresa faz do gás do campo de Roncador o seu “MBA no mercado brasileiro de gás”.
“Queira ou não queira, a gente tem que avaliar esse mercado [livre], porque mesmo os contratos com as distribuidoras eles já têm cláusulas de migração de clientes livres – que vão, por sua vez, reduzindo as quantidades contratadas. Então, a gente, queira ou não queira, a gente já está exposto a isso”
Na Europa, a Equinor já atuou na comercialização de gás no varejo – mas a companhia recuou, posteriormente, nessa estratégia, para se concentrar no atacado.
“Então, a gente está justamente nesse momento de tentar entender como que a gente vai atuar, mas sabendo que para os grandes clientes a gente, com certeza, vai estar buscando transações com eles”
Olho no LRCAP e data centers.
A empresa está de olho também no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2026 e trabalha na montagem de soluções de fornecimento de gás flexível para termelétricas – sem perder de vista o potencial de desenvolvimento de data centers no Brasil.
A Equinor mira oportunidades de entrar no leilão de março de 2026 como fornecedora de gás para térmicas.
“Então, a gente tem buscado encontrar soluções de venda de gás flexível”.
A Equinor, contudo, não descarta entrar no futuro em projetos de térmicas com participação no investimento – e, por isso, vem conversando com potenciais parceiros sobre cláusulas de opções de entrada futura no equity de projetos.
A companhia norueguesa também confia no gás como solução de mercado para data centers – mesmo que a fonte fique de fora do Redata.
“Mas eu acho que a razão vai prevalecer, porque, no final das contas, o próprio desenvolvedor do data center vai buscar um seguro. Então, assim, de alguma forma ou de outra, a gente vai encontrar uma solução de mercado para isso”
Outros destaques da entrevista
- Equinor vê espaço para melhorar as condições de acesso às infraestruturas existentes de escoamento e processamento, pelo canal da negociação direta;
- A companhia viu com preocupação a tentativa (frustrada) do governo de regular as tarifas via MP 1304/2025 e as ‘inovações’ da MP 1304/2025 – como a inclusão do dispositivo que atribui ao CNPE o poder de definir limites de reinjeção de gás nos projetos de produção em áreas que ainda serão leiloadas;
- Brun cita dificuldades para justificar rota de escoamento para Bacalhau;
- Executiva compartilha lições aprendidas com a desconcentração do gás no mercado europeu e prega cautela com a discussão sobre gas release no Brasil
- Agenda regulatória no mercado brasileiro já é extensa e é preciso definir prioridades, como a revisão tarifária do transporte e ajustes nas penalidades do acesso ao escoamento e processamento;
- Empresa definiu, como estratégia, o uso dos compromissos obrigatórios em P&D em tecnologias que possam aumentar a produção de biometano – além de áreas como Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BECS)