RIO — A Gasmig iniciou este mês uma nova modalidade de comercialização de gás natural para consumidores industriais no mercado spot.
O mecanismo, batizado como mercado secundário pela Gasmig, permite que a distribuidora mineira de gás canalizado revenda às indústrias volumes de gás de oportunidade adquiridos com descontos no mercado de curto prazo.
A primeira operação ocorreu na semana passada e movimentou mais de 200 mil m³/dia. O nome do consumidor é mantido sob sigilo, por questões de confidencialidade contratual.
Em entrevista à agência eixos, o gerente de Regulação e Aquisição de Gás da Gasmig, Lucas Gomes, conta que o principal atrativo da nova modalidade é destravar demanda adicional com base nos preços mais competitivos no mercado spot — e que tem experimentado este ano cenários de excesso de gás.
Ele cita como, desde o início dos anos 2010, quando a Petrobras inaugurou seus leilões de gás no mercado secundário, a Gasmig diagnosticou uma demanda pelo gás de oportunidade em Minas Gerais.
“A gente observou que a gente tinha um mercado muito grande de empresas que tinham equipamentos bicombustíveis já ligadas à nossa rede e que não consumiam gás natural por questões de preço”, comentou.
Como funciona
O novo modelo de fornecimento da Gasmig segue algumas regras, acordadas com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede), órgão regulador da Gasmig:
- o cliente deve ter um equipamento bicombustível;
- o gás de oportunidade deve substituir energéticos mais poluentes, como coque, óleo combustível, gás liquefeito de petróleo (GLP) etc;
- e só vale para volumes adicionais — ou seja, para volumes acima da quantidade firme contratada com a distribuidora;
- a capacidade de consumo adicional, nesse caso, é de mais de 20 mil m³/dia.
Além disso, as operações no mercado secundário estão sujeitas à disponibilidade de capacidade nos sistemas de transporte e de distribuição.
“O produtor tem que ter a molécula de gás no preço correto, o transportador tem que ter capacidade, a distribuição tem que ter capacidade e o cliente tem que ter o interesse. Então, quando os quatro elos da cadeia dizem ‘sim’ é que o mercado secundário é viabilizado”, resumiu.
Margem diferenciada
Gomes explica que a nova modalidade segue algumas condições diferenciadas.
A margem cobrada pela Gasmig, pela distribuição do gás de oportunidade, é menor que a margem homologada para os contratos de suprimento firme.
Além disso, o preço de aquisição do gás spot, com desconto, é repassado para o consumidor e não compõe o custo médio de compra de gás da concessionária — ou seja, não é levado em conta nos reajustes tarifários da Gasmig.
Convívio com o mercado livre
A criação do mercado secundário pela Gasmig segue o movimento encabeçado pela Bahiagás — que desenhou uma plataforma de comercialização de gás natural spot.
A iniciativa da concessionária baiana levantou questionamentos entre comercializadores e os próprios consumidores industriais, que receiam que o projeto mine o desenvolvimento do mercado livre na Bahia.
A Bahiagás nega que a intenção seja inibir o ambiente livre.
Gomes conta que a nova modalidade é oferecida de forma isonômica para clientes livres e cativos em Minas Gerais e que a novidade é saudável, porque ajuda a casar oferta e demanda.
“O cliente pega um energético mais barato, um energético menos poluente. O supridor ganha, porque aumenta a capacidade dele de escoar o gás produzido. E a Gasmig ganha, ao otimizar o nosso serviço de distribuição”.
