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Na COP, Lula reforça defesa de mapa para longe dos fósseis sem imposições

Ideia de consensos sem imposições expõe contradição do Brasil no debate

Lula durante conversa com a imprensa, no Parque da Cidade, em Belém (PA), em 19 de novembro de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)
Lula (PT) durante conversa com a imprensa, no Parque da Cidade, em Belém (PA), em 19 de novembro de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Lula retorna à COP30 e reforça posicionamento do Brasil do mapa para longe dos fósseis. 
 
Importação de biodiesel cria racha no governo. 
 
Quase um quarto da frota de novos veículos leves será eletrificada em 2035, estima EPE
 
CNI defende modelo de certificação flexível para hidrogênio de baixo carbono no Brasil


EDIÇÃO APRESENTADA POR

O presidente Lula (PT) retornou à COP30, em Belém (PA), na quarta (19/11) para os últimos dias de negociações e reforçou a defesa da definição de um mapa para longe dos combustíveis fósseis, mas sem imposições.

  • “É preciso mostrar pra sociedade o que nós queremos sem impor nada a ninguém, sem determinar o prazo, que cada país possa determinar o que quer fazer”, disse em discurso à imprensa na noite de ontem. 
  • “Se o combustível fóssil é uma coisa que emite muitos gases, nós temos que começar a pensar como viver sem combustível fóssil”, disse, ressaltando que o Brasil é um grande produtor de petróleo, mas também de biocombustíveis. 

 A ideia, no entanto, vai de encontro ao que vem sendo defendido por parte dos participantes da cúpula: a União Europeia quer sair de Belém com compromissos concretos de implementação das metas de Paris e avanços na eliminação gradual dos fósseis

  • O tema foi defendido pela líder da delegação do Parlamento Europeu, Lídia Pereira, em conversas com jornalistas.  

Não são apenas os países ricos que pedem por um mapa do caminho mais concreto. Na terça (18), 16 países lançaram o “Chamado do Mutirão por um Roteiro para os Combustíveis Fósseis”.

  • “O que nós necessitamos em termos de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis é algo explícito, uma rota clara, que tenha prazos e mecanismos”, disse a ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, Irene Vélez Torres. 

Mas ontem Lula disse mais de uma vez que a ideia da COP é chegar a consensos, não imposições

  • “Tudo tem que ser muito conversado. Respeitamos a soberania política, ideológica, territorial e cultural de cada país. Não queremos impor nada. Queremos dizer que é possível. E se é possível, vamos tentar construir juntos”, afirmou. 
  • O posicionamento expõe a contradição brasileira nas discussões sobre o mapa do caminho para longe dos fósseis, mas está em linha com os posicionamentos históricos da diplomacia brasileira em negociações internacionais, com a prioridade do respeito à soberania.

O discurso do presidente também foi marcado pela defesa de que países ricos, petroleiras e mineradoras ajudem a arcar com os custos das medidas para combater as mudanças climáticas. 

  • Lula chegou a citar a possibilidade de transformar parte da dívida de países pobres da África e América Latina em investimentos para avançar com a transição energética. Veja o discurso na íntegra.


Gás do Povo. O MME e o Ministério da Fazenda atualizaram os preços de referência do gás liquefeito de petróleo (GLP) a serem aplicados no programa. As pastas estabeleceram que os valores serão atualizados a cada 12 meses ou, extraordinariamente, a critério do comitê gestor. Também incluíram um gatilho para sinalizar a necessidade de novo reajuste dos preços de referência estaduais.

  • A primeira etapa do programa começará a ser implementada na segunda-feira (24).  

Ataque hacker. A Petrobras teve 90 GB de dados confidenciais roubados em um ataque hacker. O Grupo Everest anunciou o comprometimento dos sistemas da SA Exploration, que presta serviços à estatal. 

  • Parte do material ligado à Petrobras estaria relacionado a pesquisas sísmicas na Bacia de Campos (TecMundo

Preço do barril. O petróleo caiu na quarta (19/11), com a expectativa de um acordo para o fim do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. O mercado também avalia preocupações com a oferta, depois do anúncio de que os estoques de petróleo nos Estados Unidos caíram 3,426 milhões de barris na semana passada.

  • O Brent para janeiro recuou 2,12% (US$ 1,38), a US$ 63,51 o barril

Oferta russa. A Rússia não pretende anunciar novos cortes voluntários na produção de petróleo, segundo o vice-primeiro-ministro Alexander Novak. Segundo ele, o país pretende seguir os acordos da Opep+. 

  • Novak também afirmou que as sanções mais recentes contra o país não tiveram impacto sobre a extração

Importação de biodiesel. A proposta de consulta pública que proíbe a importação de biodiesel para o atendimento ao percentual obrigatório da mistura de diesel B rachou o governo

  • A ala mais voltada para o agronegócio e energia defende o modelo atual — que é o que está em consulta pública — enquanto o Ministério da Fazenda e a ANP querem a abertura total do mercado

Eletrificação da frota. Os veículos elétricos vão corresponder a 23% do total da frota leve licenciada em 2035, indica o Caderno de Eletromobilidade do PDE 2035 da EPE e do MME. A previsão é que a frota eletrificada para este segmento atingirá 3,7 milhões de veículos, com a manutenção da tecnologia flex fuel como predominante no país.

  • O crescimento deve aumentar a demanda de eletricidade de 627 GWh, em 2025, para 7,8 TWh em 2035. 

Cooperação com o Japão. A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) e o Japan Atomic Industrial Forum (Jaif) assinaram um memorando de entendimento. O objetivo é fortalecer a colaboração entre Brasil e Japão no avanço da energia nuclear civil.

Outros destaques da COP. Com uma necessidade estimada em US$ 310 bilhões por ano, até até 2035, para financiar a adaptação das cidades aos efeitos das mudanças do clima, países em desenvolvimento estão tentando destravar negociações para viabilizar mais recursos. Veja os detalhes na newsletter diálogos da transição

  • Ponto de inflexão. Para Elbia Gannoum, enviada especial de Energia da COP30, o Brasil chega a uma fase em que, mesmo com matriz renovável, terá de incorporar novas tecnologias — como baterias — para sustentar a expansão. E destaca o forte engajamento privado na Conferência, decisivo para acelerar metas climáticas.
  • Fósseis de saída. Donizete Tokarski, da Ubrabio, defende que a COP30 consolide uma curva de erradicação dos combustíveis fósseis e incentive a substituição por biocombustíveis, dando sinal claro aos investidores.
  • Mapa inédito. Para Ben Backwell, CEO do GWEC e presidente da GRA, o Brasil inaugurou na COP30 uma discussão prática até então ausente: um plano concreto para reduzir o uso de fósseis junto à expansão das renováveis. Para ele, a entrada dos ministros na fase final da cúpula deve acelerar as discussões.
  • Inspiração global. A Unica espera que a proposta brasileira para quadruplicar a produção e o consumo de combustíveis sustentáveis até 2035 inspire mais países, diz o presidente Evandro Gussi. Na COP30, o setor lançou a Carta de Belém (.pdf), que defende um esforço internacional conjunto.
  • ‘É uma maratona’. A diretora do IBP, Sylvie D’Apote, afirmou que a transição energética precisa avançar junto à segurança energética, justiça social e crescimento econômico. “A transição energética, na verdade, é uma evolução, não é uma simples troca”, disse ao estúdio eixos.
  • ‘Elefante na sala’. O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, afirmou que a indústria de petróleo e gás defende uma transição energética sem desequilíbrios que ampliem a pobreza energética. Ele argumenta que, por fornecer 80% da energia global, o setor precisa estar no centro das discussões.
  • Novas energias. Marina Rodrigues, VP de Novas Energias da Rystad Energy, avalia que a COP30 tem gerado sinais positivos para combustíveis sustentáveis, especialmente SAF. Ela destaca que os compromissos anunciados pelos países ajudam a criar demanda e dar previsibilidade para novos investimentos.
  • E novas regras. O CEO da ISA Energia, Rui Chammas, defende que mudanças climáticas exigem atualização da regulação para transmissão de energia. A empresa firmou acordo com EPE e FGV para estruturar propostas que minimizem impactos sociais em casos de eventos climáticos extremos.
  • CO2 biogênico. Heloísa Borges, diretora da EPE, explica que o carbono biogênico gerado na produção de biocombustíveis e biogás tende a ganhar peso na transição energética. O avanço da oferta deve elevar o volume capturado e criar oportunidades para combustíveis sintéticos e para a descarbonização industrial.

Duas vias. A CNI propõe que o Brasil adote um sistema de certificação dual para o hidrogênio de baixo carbono — com regras alinhadas a mercados externos e um modelo mais flexível para uso doméstico. 

  • Um estudo da entidade sugere que a adicionalidade seja opcional no mercado interno, enquanto a certificação para exportação seguiria critérios internacionais mais rígidos.

Minerais críticos. A MP Materials fechou parceria com o Departamento de Guerra dos EUA e a saudita Maaden para criar uma refinaria de terras raras no país árabe, dentro da nova agenda de cooperação Washington–Riad. 

  • A empresa diz que o projeto é “crucial” para reequilibrar cadeias de suprimento e prevê usar a base energética saudita para produzir óxidos destinados aos setores industrial e de defesa dos dois países.

Captura de carbono. O BNDES lançou um termo de referência para seleção e contratação da consultoria especializada que vai conduzir etapas necessárias à certificação de projeto de carbono do Manguezais do Brasil.

  • A iniciativa, em parceria com a Petrobras, apoia projetos de restauração ecológica de manguezais e restingas no litoral brasileiro.

Opinião: A transição energética só será sustentável se considerar a interdependência de água, energia e território, escreve Marília Brilhante, diretora Executiva da Energo.

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