BELÉM — Os investimentos globais na transição energética atingiram um novo recorde de US$ 2,4 trilhões em 2024 — um aumento de 20% em relação aos níveis médios anuais de 2022/23, mostra um relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês) divulgado nesta segunda (17/11).
O montante superou o investimento em combustíveis fósseis, embora os gastos em óleo, gás e carvão ainda estejam em ascensão.
Cerca de um terço do valor aplicado na transição foi direcionado para tecnologias de energia renovável, elevando o investimento nesse setor para US$ 807 bilhões.
Apesar desse marco, a Irena alerta que o crescimento anual das energias renováveis desacelerou significativamente, com os investimentos anuais aumentando 7,3% em 2024, em comparação com 32% no ano anterior.
A publicação do relatório (.pdf) em parceria com a Iniciativa de Política Climática (CPI) ocorre em meio às negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).
Há dois anos, na COP28, o mais de 190 países concordaram com a meta de triplicar a capacidade global de energias renováveis para 11 TW até 2030 e dobrar a eficiência energética.
A Irena calcula que em 2024, as adições globais de capacidade renovável atingiram recorde de 582 GW, mas faltaram 462 GW para ficar dentro da média anual de acréscimos.
Agora, serão necessários 1.122 GW de capacidade adicional a cada ano a partir de 2025, exigindo que o crescimento anual acelere para 16,6% ao longo da década — em um contexto de guerras violentas e tarifárias e disputas por suprimentos.
Se o ritmo de crescimento atual — na casa dos 15% — se mantiver, em 2030 a capacidade alcançará 10,3 GW.
De acordo com o relatório, 96% dos investimentos em energia renovável foram destinados ao setor elétrico, dando continuidade a uma tendência de longo prazo.
O investimento global em energia solar fotovoltaica aumentou 49% no ano passando, atingindo recorde de US$ 554 bilhões.
Investimentos concentrados
Os investimentos em tecnologias de transição energética estão em expansão, mas ainda concentrados: 90% ocorreu em países ricos e na China, deixando para trás os países emergentes e em desenvolvimento.
“OO financiamento para energias renováveis está disparando, mas permanece altamente concentrado nas economias mais avançadas. À medida que os países se reúnem na COP30 para avançar no ‘Roteiro Baku a Belém para 1,3 trilhão de dólares’, ampliar o financiamento para países emergentes e em desenvolvimento é essencial para tornar a transição verdadeiramente inclusiva e global”, comenta Francesco La Camera, diretor-geral da Irena.
O relatório mostra que países ricos podem recorrer a recursos financeiros internos para financiar a transição energética, enquanto os de baixa renda dependem de apoio externo devido a capacidade fiscal limitada, altos custos de capital e vulnerabilidades da dívida, entre outros fatores.
Globalmente, quase metade do investimento total em 2023 foi fornecida na forma de dívida, a maior parte a taxas de mercado. O restante foi investido por meio de capital próprio. As doações representaram menos de 1%.
“A Irena há muito defende uma utilização mais inteligente dos fundos públicos para desbloquear o investimento privado através de instrumentos de mitigação de riscos. No entanto, a forte dependência do capital com fins lucrativos está deixando os países em desenvolvimento para trás”, alerta La Camera.
“Onde o financiamento privado não flui, o setor público deve liderar, apoiado por uma cooperação multilateral e bilateral mais robusta e por um financiamento climático em maior escala”, completa.
O investimento nas cadeias de suprimentos e na manufatura da transição energética também segue altamente concentrado.
A China responde por 80% do investimento global em instalações para fabricação de tecnologias solares, eólicas, de baterias e de hidrogênio entre 2018 e 2024.
O ponto positivo, segundo o relatório, é que a China está expandindo o acesso à transição energética para outras economias em desenvolvimento.
No geral, o investimento global em fábricas que produzem equipamentos de energia solar, eólica, baterias e hidrogênio caiu 21%, para US$ 102 bilhões em 2024, impulsionado por uma queda significativa nos investimentos em fabricação de painéis solares fotovoltaicos.
Em contrapartida, o investimento em fábricas de baterias quase dobrou, chegando a US$ 74 bilhões, refletindo a crescente demanda por armazenamento em redes elétricas, veículos elétricos (VEs) e data centers.
