COP30

Transição energética é sobre poder econômico, avalia governador da Califórnia que quer competir com a China

Se fosse um país, a Califórnia seria a quarta maior economia do mundo. Estado vem conciliando crescimento econômico e redução de emissões

Conteúdo Especial

Governador da Califórnia, Gavin Newsom, marca oposição a Donald Trump na COP30, em Belém. Foto: Marina Sabioni/COP30
Governador da Califórnia, Gavin Newsom, marca oposição a Donald Trump na COP30, em Belém. Foto: Marina Sabioni/COP30

RIO — O governador da Califórnia, Gavin Newsom, afirmou na terça (11/11) durante a COP30, em Belém, que a transição energética não é apenas uma questão ambiental, mas uma disputa global por liderança econômica e tecnológica.

“Isto não é sobre energia elétrica, é sobre poder econômico”, declarou, durante uma coletiva de imprensa. 

O demoracta Newsom, que ocupa o posto desde 2019, é um dos principais opositores do presidente republicano Donald Trump — que decidiu não enviar representantes à conferência da ONU sobre o clima. 

Trump retirou novamente os Estados Unidos do Acordo de Paris e revisou diversos incentivos a energias renováveis, desde que retornou à Casa Branca, desmantelando boa parte da agenda de transição energética construída durante o governo de Joe Biden.

“Tenho plena consciência de que o governo Trump abandonou qualquer senso de dever, responsabilidade ou liderança em relação às questões que nos reúnem aqui. É uma abominação, uma vergonha. Mas, em vez de apenas reclamar, estamos tentando fazer algo a respeito”, disse Newsom.

Ele citou estimativas publicadas pelo New York Times segundo as quais as revisões de Trump às políticas verdes de Biden farão o consumidor médio pagar cerca de 10% a mais em suas contas de energia neste ano. 

“Isso é um tema que afeta diretamente as pessoas, é uma questão de custo de vida. É sobre pessoas, lugares, modos de vida, tradições”.

Competição com a China

Em tom provocativo, Newsom disse que a ausência do governo americano na COP é um “gol contra”.

“Um presidente dos Estados Unidos que simplesmente não entende o quanto o presidente Xi [Jinping] está entusiasmado pelo fato de o governo Trump não estar presente na COP30 hoje”. 

O governador californiano se referiu a existência de uma disputa tecnológica e industrial com a China, impulsionada pela transição energética.

“Não sou ingênuo em relação ao nosso maior competidor nos Estados Unidos. Respeito e admiro o que a China está fazendo em larga escala nas cadeias de suprimentos e na manufatura. E os Estados Unidos precisam acordar para isso”, afirmou.

Segundo o governador, a transição energética representa uma corrida por poder industrial

“Nossas montadoras tradicionais também precisam acordar. No estado da Califórnia, não vamos ceder essa corrida à China. Vamos competir nesse mercado”. 

“A pesquisa e o desenvolvimento são dominados por três potências: China, Alemanha e Califórnia, nessa ordem. Portanto, a transição verde é, acima de tudo, um imperativo econômico, e ela está dando resultados”, pontuou.

A Califórnia como potência verde

O governador destacou que a Califórnia hoje é a quarta maior economia do mundo e que o estado vem conciliando crescimento econômico e redução de emissões. 

“Reduzimos nossas emissões de gases de efeito estufa em 21% desde o ano 2000, enquanto nosso PIB cresceu 81%”, afirmou. 

“Em 2019, éramos a sexta maior economia do mundo e agora somos a quarta. A Tesla nasceu na Califórnia por um motivo, que são nossas políticas regulatórias”. 

Segundo ele, dois terços da energia consumida no estado vêm de fontes limpas, e em 2024 a Califórnia teve dias inteiros em que 100% da eletricidade consumida foi proveniente de energia renovável. 

“Isso é resultado de políticas intencionais e líderes em nível nacional, incluindo nosso programa Cap-and-Invest, que acabamos de estender até 2045”, ressaltou.

O programa é um dos pioneiros no mundo a estabelecer um mercado de carbono baseado em um sistema de limite e comércio de emissões de gases de efeito estufa.

Poder dos governos subnacionais

Apesar das reviravoltas políticas na Casa Branca, o governador argumentou que o avanço da transição energética nos EUA é irreversível. 

“Durante o primeiro mandato de Trump, em quatro anos, a produção de energia solar dobrou. O uso do carvão caiu, e as emissões de gases de efeito estufa foram reduzidas, apesar das políticas dele. O mercado está se movendo nessa direção. Os estados estão se movendo nessa direção”, disse.

Newsom destacou o papel das alianças estaduais, como a U.S. Climate Alliance, que reúne 24 governadores comprometidos com metas de descarbonização, e a Pacific Coast Collaborative, que integra estados da Costa Oeste em políticas climáticas conjuntas.

“É extremamente importante não olhar para os Estados Unidos apenas pela lente federal”, afirmou. 

“O federalismo reconhece que a implementação acontece em nível local.  E é nos governos locais e estaduais que coisas notáveis continuam a acontecer em todo o país”.

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