RIO — Programas como o Luz para Todos e o Gás do Povo são essenciais, mas o combate à pobreza energética no Brasil passa pela necessidade de mais esforços, seja na criação de novas políticas públicas, seja na integração das iniciativas.
A avaliação é da superintendente de Estudos Econômicos e Energéticos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Carla Achão, que participou nesta segunda-feira (10/11) do episódio final da temporada 2025 do energy talks, uma produção da agência eixos. Assista na íntegra acima!
“Sem dúvida nenhuma, o Gás do Povo e o Luz para Todos são políticas importantíssimas… são as políticas que, de fato, são um sucesso, mas talvez, nessa nova etapa que a gente esteja vivendo, a gente precise realmente de outras, outros complementos e, quer dizer, políticas adicionais, programas adicionais e a integração disso tudo”, comentou.
- O Luz para Todos é um programa criado em 2003 e voltado para a universalização do acesso e uso da energia elétrica;
- e o Gás do Povo, lançado este ano, é uma remodelagem do auxílio-gás que visa a ampliar o acesso ao gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha, no Brasil.
Achão também cita a importância do Programa de Eficiência Energética (PEE), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas que todas essas iniciativas resolvem “parte dos problemas”, mas não por completo, a questão da pobreza energética do país.
“Porque a gente está exatamente no momento de entender a profundidade, o tamanho do problema”, disse.
Obepe trabalha em novo indicador
Daí a importância, segundo ela, do Observatório Brasileiro de Erradicação da Pobreza Energética (Obepe), lançado este ano em parceria entre o Ministério de Minas e Energia (MME), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A iniciativa, explica Achão, funciona como uma plataforma de indicadores de pobreza energética que reúne bases públicas de dados e informações relacionadas ao tema, para ajudar no planejamento e formulação de políticas focalizadas; e também para o monitoramento da efetividade das políticas públicas.
A superintendente da EPE conta que uma das metas do Obepe é trabalhar na construção de um indicador multidimensional que permita identificar com mais precisão a situação de pobreza energética no Brasil.
O Obepe, segundo ela, já discute internamente algumas metodologias.
“A gente pretende fazer também de forma a dar mais publicidade no processo”
Veja outros destaques da entrevista
- Observatório Brasileiro de Pobreza Energética (Obepe): plataforma com 45 indicadores para um diagnóstico detalhado do problema.
- Conceito de pobreza energética: estabelecido pela Política Nacional de Transição Energética.
- Desafio da cocção: 25% do consumo residencial no país é de lenha e carvão, um problema crítico de saúde pública.
- Comprometimento de renda: famílias que gastam mais de 10% da renda com energia podem estar em situação de pobreza.
- Fontes de dados: cruzamento de bases públicas como Pnad, POF (IBGE), Aneel e Inmet.
- Políticas públicas como Luz para Todos, Gás do Povo e eficiência energética são insuficientes sozinhos.
- Pobreza oculta: conceito ligado à demanda reprimida e ao consumo aquém do necessário.
- Indicador multidimensional: objetivo de criar um indicador único, semelhante ao IDH, para medir o problema.
- Análises sociais: dados cruzados por gênero e raça mostram que 6,4% dos domicílios usam lenha como principal fonte para cocção.
- Carência de equipamentos: cerca de 30% dos domicílios não possuem máquina de lavar roupa.
- Justiça energética: transição deve incluir geração de emprego e capacitação para trabalhadores de setores fósseis.
- Integração de políticas: combate à pobreza energética exige ações transversais entre diversos ministérios.