diálogos da transição

Um pouco de óleo, um pouco de agro na agenda do Brasil para a COP30

Transição energética marcou pauta do segundo dia da cúpula de líderes da COP30; Brasil defende petróleo para financiar transição, e biocombustíveis para acelerar descarbonização

Belém PA - 07.11.2025 - COP30 Belém - Mesa Redonda de Líderes. Reunião de Transição Energética, na Cúpula do Clima, que reune liderenças mundiais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR
Belém PA - 07.11.2025 - COP30 Belém - Mesa Redonda de Líderes. Reunião de Transição Energética, na Cúpula do Clima, que reune liderenças mundiais para discutir os principais desafios e compromissos no enfrentamento da mudança do clima. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

NESTA EDIÇÃO. Com a COP30 em casa, Brasil propõe fundo verde com lucros fósseis.

País também vai brigar pelo espaço da bioenergia na transição global.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

segundo dia da Cúpula de Líderes da COP30 foi marcado por sessões temáticas sobre transição energética, as contribuições dos países ao Acordo de Paris (as famosas NDCs) e o financiamento de ações para combater a crise climática. 
 
O encontro de chefes de Estado, em Belém, antecede as negociações oficiais da cúpula climática das Nações Unidas, que vão de 10 a 21/11 em Belém — e o mundo está de olho nos discursos dos líderes, que darão o tom dos debates das próximas semanas.
 
A pauta brasileira é petróleo para financiar a transição e biocombustíveis como alternativa à eletrificação, dois temas reforçados no discurso do presidente Lula (PT) nesta sexta (7/11).
 
Depois de apoiar o início das pesquisas de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o presidente brasileiro defendeu direcionar parte dos lucros do O&G para a transição energética, sinalizando a criação de um fundo para isso. 
 
“Direcionar parte dos lucros com exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento”, discursou.
 
“O Brasil estabelecerá um Fundo dessa natureza para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática”, completou.
 
Como solução para substituir combustíveis fósseis, Lula defendeu o uso do etanol e biodiesel.
 
“Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição. Nosso diesel, conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção dos setores mais desafiadores, como indústria e transporte. É lamentável que pressões e ameaças tenham levado a adiar esse passo”.



Uma das iniciativas brasileiras para abrir caminhos aos biocombustíveis é um compromisso lançado na pré-COP, em outubro, para quadruplicar a produção e consumo de combustíveis sustentáveis.
 
Para alcançar o objetivo, o instrumento defende o desenvolvimento e certificação de novas matérias-primas sustentáveis.
 
No fundo, é um esforço para superar a resistência europeia, que enxerga sobreposição da produção de matéria-prima para combustível ao cultivo de alimentos.
 
E embora o Brasil tenha uma série de questões a resolver com o agro — desmatamento, trabalho escravo e conflitos fundiários são alguns exemplos listados pela ONG Repórter Brasil (.pdf) —, o país também se vê em condições de contribuir com o debate climático.
 
Setores como aviação e navegação já demonstram a urgência de encontrar alternativas com escala e custo acessível, ou a neutralidade climática será inviável.
 
Relatório recente do think tank Carbon Tracker alerta, por exemplo, que os combustíveis sustentáveis ​​para aviação (SAF, em inglês) provavelmente não conseguirão gerar reduções significativas de emissões antes de 2030. 
 
Mesmo que todos os projetos existentes, em desenvolvimento e anunciados operassem em plena capacidade, o estudo estima que eles supririam apenas cerca de 5% da demanda global da aviação e atenderiam a menos da metade do crescimento esperado no consumo total de combustível do setor. 
 
“Os altos custos, a escassez de matérias-primas sustentáveis ​​e a fraca viabilidade financeira ameaçam limitar a escala também para além de 2030”, avalia o think tank.
 
Ampliar a oferta e reduzir custos é justamente o escopo da proposta de quadruplicar os combustíveis sustentáveis. E o Brasil já conquistou alguns aliados importantes: Japão, Itália e Índia foram os primeiros a embarcar na iniciativa.


Marco para minerais críticos na semana da COP. O relator do PL 2780/2024, deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), afirmou que apresentará sua proposta na próxima semana ao Colégio de Líderes da Câmara dos Deputados. A data coincide com o início da COP30 em Belém. Segundo o deputado, a proposta é ter critérios e não uma lista de minerais que receberão incentivos.
 
Controle de terras raras. O governo chinês informou, nesta sexta (7/10), a suspensão até 10 de novembro de 2026 de uma série de medidas de controle de exportação sobre a cadeia de terras raras e de minerais e insumos críticos. As regras agora congeladas previam licença obrigatória para exportar equipamentos de separação, refino e sinterização usados no setor.
 
Comando Vermelho ameaça energia em Belém. O governo federal determinou que a PF investigue ameaças de ataques do Comando Vermelho contra a Subestação Belém-Marituba, no Pará, uma das principais infraestruturas elétricas da capital paraense. As ameaças ocorrem às vésperas da COP30, que vai reunir representantes de mais de 150 países em Belém.
 
Enquanto PCC adultera combustíveis. A Polícia Civil do Piauí identificou que uma rede de postos ligada ao PCC pode ter utilizado fórmulas químicas elaboradas para expandir a adulteração de combustíveis na região Norte e Nordeste. A descoberta ocorreu durante a Operação Carbono Oculto 86.
 
CCS na Bahia. A Petrobras fechou um Termo de Cooperação com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) para medição, monitoramento e verificação (MMV) no projeto piloto de captura e estocagem de CO2 (CCS) em ambiente marinho raso. O valor do repasse previsto no acordo é de R$ 113,2 milhões e a parceria terá duração de três anos, podendo ser prorrogada.
 
R$ 68 bi para o clima. Relatório do Climate Policy Initiative (CPI) estima que os investimentos em ações climáticas no Brasil mais do que dobraram desde 2019, alcançando US$ 67,8 bilhões em 2023. A alta foi impulsionada pelos setores de energia e de Agropecuária, Florestas e Outros Usos da Terra (AFOLU).
 
Solar em expansão. Dezenove usinas entraram em operação em outubro deste ano no Brasil, aumentando em 643,46 MW a potência de geração elétrica do país, segundo a Aneel. Do total, 13 são solares fotovoltaicas, somando 559,47 MW; três são eólicas, com 31,50 MW; duas são pequenas centrais hidrelétricas, com 27,49 MW; e uma é termelétrica, com 25,00 MW.
 
Piloto de hidrogênio em Macaé. A EDF power solutions anunciou nesta sexta (7/11) a inauguração da sua primeira planta piloto de hidrogênio verde no Brasil, na UTE Norte Fluminense. O projeto contou com investimento de R$ 4,5 milhões e vai produzir 18 m³ por dia, usando eletricidade de painéis solares.

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