BRASÍLIA — O setor de energia aumentou sua contribuição para as emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil para 20% em 2024, ante 16% em 2023, em meio a uma queda no desmatamento.
Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg) divulgados nesta segunda (3/11) mostram que as emissões brutas caíram 16,7% em 2024, atingindo 2,145 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), contra 2,576 GtCO2e em 2023.
É segunda maior queda nos índices de poluição climática do país já registrada desde o início das medições, em 1990, e a maior desde 2009, quando o recuo foi de 17,2%.
Já as chamadas emissões líquidas, calculadas após o desconto de remoções de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, tiveram uma queda ainda maior: 22%, perdendo apenas para 2009 em percentual de redução (24%).
No ano passado, o Brasil emitiu 1,489 GtCO2e líquidas, contra 1,920 GtCO2e em 2023.
As emissões líquidas são usadas pelo governo federal federal para reportar o cumprimento (ou não) de suas metas climáticas.
Mesmo com a queda registrada no ano passado, o Observatório do Clima avalia que o país não deve cumprir sua sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada ao Acordo de Paris) indicada para 2025, de limitar suas emissões em 1,32 bilhão de toneladas líquidas.
O relatório chega às vésperas da COP30 e demonstra o peso do controle do desmatamento sobre as emissões brasileiras, mas também os desafios de mitigação em outros setores — inclusive porque o Plano Clima deixa espaço para aumentar a participação de combustíveis fósseis na matriz.
Desmatamento em queda, fósseis em alta
De acordo com o Seeg, em 2024, a queda do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, na esteira de ações do Ibama, provocou a maior redução da história nas emissões por mudança de uso da terra: 32,5%.
As emissões brutas desse setor, que abarca sobretudo o desmatamento, caíram de 1,341 GtCO2e para 906 GtCO2e.
Em todos os outros setores da economia as emissões ficaram estáveis ou subiram: queda de 0,7% em agropecuária, alta de 0,8% em energia, 2,8% em processos industriais e 3,6% em resíduos.
Com isso, a contribuição da mudança de uso da terra para as emissões despencou para 42% em 2024, ante 52% em 2023.
Energia, por outro lado, passou a ter uma participação maior, de 20%.
Agropecuária também aumentou a contribuição, de 24% para 29%, assim como resíduos (de 4% para 5%). Processos industriais ficaram estáveis, com 4%.
Etanol segurou escalada de emissões
Os biocombustíveis impediram um aumento mais relevante nas emissões do setor, aponta o Instituto de Energia e Ambiente (Iema).
As emissões do setor de energia tiveram uma pequena oscilação para cima de quase 1%, variando de 420 MtCO2e em 2023 para 424 MtCO2e em 2024.
O consumo energético de etanol atingiu o recorde histórico no ano passado, com 36 bilhões de litros, o que fez com que o transporte de passageiros apresentasse uma queda de emissões de 3%, a mesmo tempo em que a quilometragem dos transportes cresceu.
Foi a primeira vez desde a pandemia que as emissões do transporte de passageiros tiveram redução no Brasil: de 106 MtCO2e em 2023 para 103 MtCO2e no ano passado.
“A boa safra de cana fez o preço do etanol ser mais competitivo em relação à gasolina. Além disso, o Brasil vive uma explosão na produção de etanol de milho, que já representa 20% do total”, comenta Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Iema.
No transporte de carga, que, juntamente com o de passageiros, é o maior consumidor de combustíveis fósseis do país, o aumento no uso de biodiesel manteve as emissões praticamente estáveis: 119 MtCO2e em 2024 contra 118 MtCO2e em 2023.
Eletricidade puxou aumento
Na geração de eletricidade, foram emitidas 44 MtCO2e, um aumento de 17% em relação ao ano anterior.
Esse valor absoluto, no entanto, ainda está longe dos 82 MtCO2e de 2014, ano de recorde histórico por conta da estiagem no Centro-Sul, destacam as organizações.
Energias renováveis têm entrado com força na matriz, que hoje é 50% renovável.
“A gente cresce o consumo de energia, mas as renováveis seguram isso sem aumentar a emissão. O uso de combustíveis fósseis estacionou no ano passado”, diz Silva.
O Iema alerta, no entanto, para o problema das emissões “ocultas” do petróleo que o Brasil exporta.
No ano passado, a exportação de óleo cru bateu mais um recorde histórico, de 83 milhões de toneladas para 85 milhões de toneladas.
“Não conta para a nossa emissão, mas esse carbono é emitido em algum lugar quando o petróleo brasileiro é queimado”, afirma o engenheiro do Iema.
					