NESTA EDIÇÃO. Síntese da UNFCCC mostra que 98% das novas NDCs focam em energia, mas menos da metade inclui metas de redução de fósseis.
Por enquanto, ambições levam a corte de 17% nas emissões, quando seriam necessários 60% até 2035.
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Relatório Síntese da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês) sobre as ambições dos países para cumprir o Acordo de Paris mostra que o foco de mitigação segue no fornecimento de energia, mas falha na transição para longe dos combustíveis fósseis.
Publicado nesta terça (28/10), ele examina 64 Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atualizadas, enviadas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025. Veja a íntegra (.pdf)
Grandes emissores, incluindo a China e a União Europeia, ainda não apresentaram suas novas metas, o que torna o cenário totalmente incerto.
O fornecimento de energia está incluído em 98% das NDCs, sendo que 44% das ambições dos países incluem um compromisso de triplicar a energia renovável até 2030.
Mas apenas 47% das partes (abrangendo 9% da energia fóssil global em 2023) têm metas quantitativas para reduzir a geração fóssil ininterrupta até 2030, enquanto 13% quantificam metas de redução gradual do carvão para 2030 e 16% o fazem para 2035.
Em contrapartida, 73% mencionam medidas de transição justa para comunidades dependentes de combustíveis fósseis.
Por enquanto, o quadro global é de que essas promessas são capazes de reduzir coletivamente as emissões de gases de efeito estufa em 17% abaixo dos níveis de 2019 até 2035.
É um começo. Mas, para limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100 — o objetivo do Acordo de Paris —, seria preciso um corte de cerca de 60% nos próximos dez anos.
Rumo à COP30
O documento foi preparado para subsidiar as discussões marcadas para novembro, em Belém (PA), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).
E traz uma dose de esperança — é possível reduzir emissões — temperada com sentido de urgência: não estamos perto do objetivo.
“Por meio da cooperação climática convocada pela ONU e dos esforços nacionais, a humanidade está, pela primeira vez, claramente achatando a curva da trajetória das emissões — embora ainda não com a velocidade necessária”, comenta Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC.
“Embora a direção esteja melhorando a cada ano, há uma necessidade urgente de mais velocidade e de ajudar mais países a adotar ações climáticas mais fortes”, completa.
No início de outubro, um relatório da Irena com a Global Renewables Alliance (GRA) mostrou que o mundo está entrando “em sua última milha” para alcançar a meta de triplicar renováveis até o final da década.
Uma das ações fundamentais para substituir combustíveis fósseis e reverter a curva de gases de efeito estufa. Mas os desafios são extensos. O setor elétrico brasileiro que o diga.
O 1,5ºC já passou
No mesmo dia do lançamento do relatório climático, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em entrevista ao Guardian que a humanidade falhou em limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
E alertou para “consequências devastadoras”.
O que aumenta a responsabilidade sobre as negociações marcadas para novembro em Belém.
Para Guterres, COP30 é uma oportunidade para mudar o rumo das emissões, promovendo uma “redução drástica o mais rápido possível”.
Financiamento é chave
O custo de fazer a transição da economia global para alternativas de baixo carbono é estimado em vários trilhões de dólares e esbarra em conflitos geopolíticos, disputas por recursos naturais e disposição de governos e setor privado.
De acordo com a UNFCCC, entre os países que apresentaram as novas NDCs, 75% incluíram a necessidade de soluções inovadoras e fortalecimento da cooperação internacional para desbloquear o financiamento climático. Especialmente para países em desenvolvimento.
Cobrimos por aqui
Curtas
Menos subsídio fóssil. Estudo do Inesc mostra uma redução de 42% nos incentivos e renúncias fiscais destinados ao setor de petróleo, gás natural e carvão no Brasil, que caiu para R$ 47 bilhões em 2024, ante R$ 81,7 bilhões em 2023. Ainda assim, para cada R$ 2,52 concedidos ao petróleo e gás, R$ 1 é destinado a fontes renováveis.
Óleo na COP30… A indústria de óleo e gás vai levar seu “caderno de tecnologias de descarbonização” a Belém, afirmou nesta terça-feira (28/10) o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. Em entrevista ao estúdio eixos durante a OTC Brasil 2025, ele defendeu que as petroleiras têm “muita coisa a mostrar”.
…e na transição. Também na OTC Brasil, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a petroleira espera ser líder na transição energética e está comprometida com a descarbonização, em meio à defesa da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas.
Petroleira de olho em baterias no Brasil. A TotalEnergies avalia entre as opções para crescimento no Brasil a entrada em ativos de geração hidrelétrica e de baterias, segundo o diretor-geral e country chair para o Brasil, Olivier Bahabanian. O leilão de baterias previsto para 2026 é uma das oportunidades em avaliação.
Biodiesel integrado. A 3tentos Agroindustrial informou, em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que firmou parceria com a Ipiranga para implantar uma base de distribuição de combustíveis integrada à sua usina de biodiesel em Vera (MT).
Tarifa de energia. A Itaipu Binacional foi cobrada por parlamentares e entidades do setor de energia nesta terça-feira (28/10) quanto à redução da tarifa, já que, desde 2023, a usina não tem mais despesas com a dívida de sua construção.

