diálogos da transição

Nova rodada de NDCs está falhando em cortar combustíveis fósseis

Menos da metade dos 64 países que entregaram suas metas atualizadas tem planos concretos para reduzir dependência fóssil

E&P e indústria têm trilhões a ganhar em cenários de transição. Na imagem: cavalos-de-pau para exploração onsore de petróleo e turbina eólica (Foto: Wiki Commons)
Cavalos-de-pau para exploração onsore de petróleo e turbina eólica (Foto: Wiki Commons)

NESTA EDIÇÃO. Síntese da UNFCCC mostra que 98% das novas NDCs focam em energia, mas menos da metade inclui metas de redução de fósseis. 

Por enquanto, ambições levam a corte de 17% nas emissões, quando seriam necessários 60% até 2035.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Relatório Síntese da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês) sobre as ambições dos países para cumprir o Acordo de Paris mostra que o foco de mitigação segue no fornecimento de energia, mas falha na transição para longe dos combustíveis fósseis.
 
Publicado nesta terça (28/10), ele examina 64 Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atualizadas, enviadas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025. Veja a íntegra (.pdf)
 
Grandes emissores, incluindo a China e a União Europeia, ainda não apresentaram suas novas metas, o que torna o cenário totalmente incerto.
 
O fornecimento de energia está incluído em 98% das NDCs, sendo que 44% das ambições dos países incluem um compromisso de triplicar a energia renovável até 2030.
 
Mas apenas 47% das partes (abrangendo 9% da energia fóssil global em 2023) têm metas quantitativas para reduzir a geração fóssil ininterrupta até 2030, enquanto 13% quantificam metas de redução gradual do carvão para 2030 e 16% o fazem para 2035.
 
Em contrapartida, 73% mencionam medidas de transição justa para comunidades dependentes de combustíveis fósseis.
 
Por enquanto, o quadro global é de que essas promessas são capazes de reduzir coletivamente as emissões de gases de efeito estufa em 17% abaixo dos níveis de 2019 até 2035.
 
É um começo. Mas, para limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100 — o objetivo do Acordo de Paris —, seria preciso um corte de cerca de 60% nos próximos dez anos.



O documento foi preparado para subsidiar as discussões marcadas para novembro, em Belém (PA), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas  sobre Mudanças Climáticas (COP30).
 
E traz uma dose de esperança — é possível reduzir emissões — temperada com sentido de urgência: não estamos perto do objetivo.
 
“Por meio da cooperação climática convocada pela ONU e dos esforços nacionais, a humanidade está, pela primeira vez, claramente achatando a curva da trajetória das emissões — embora ainda não com a velocidade necessária”, comenta Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC.
 
“Embora a direção esteja melhorando a cada ano, há uma necessidade urgente de mais velocidade e de ajudar mais países a adotar ações climáticas mais fortes”, completa.
 
No início de outubro, um relatório da Irena com a Global Renewables Alliance (GRA) mostrou que o mundo está entrando “em sua última milha” para alcançar a meta de triplicar renováveis até o final da década.
 
Uma das ações fundamentais para substituir combustíveis fósseis e reverter a curva de gases de efeito estufa. Mas os desafios são extensos. O setor elétrico brasileiro que o diga.

No mesmo dia do lançamento do relatório climático, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em entrevista ao Guardian que a humanidade falhou em limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
 
E alertou para “consequências devastadoras”.
 
O que aumenta a responsabilidade sobre as negociações marcadas para novembro em Belém.
 
Para Guterres, COP30 é uma oportunidade para mudar o rumo das emissões, promovendo uma “redução drástica o mais rápido possível”.

O custo de fazer a transição da economia global para alternativas de baixo carbono é estimado em vários trilhões de dólares e esbarra em conflitos geopolíticos, disputas por recursos naturais e disposição de governos e setor privado.
 
De acordo com a UNFCCC, entre os países que apresentaram as novas NDCs, 75% incluíram a necessidade de soluções inovadoras e fortalecimento da cooperação internacional para desbloquear o financiamento climático. Especialmente para países em desenvolvimento.


Menos subsídio fóssil. Estudo do Inesc mostra uma redução de 42% nos incentivos e renúncias fiscais destinados ao setor de petróleo, gás natural e carvão no Brasil, que caiu para R$ 47 bilhões em 2024, ante R$ 81,7 bilhões em 2023. Ainda assim, para cada R$ 2,52 concedidos ao petróleo e gás, R$ 1 é destinado a fontes renováveis.
 
Óleo na COP30… A indústria de óleo e gás vai levar seu “caderno de tecnologias de descarbonização” a Belém, afirmou nesta terça-feira (28/10) o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy. Em entrevista ao estúdio eixos durante a OTC Brasil 2025, ele defendeu que as petroleiras têm “muita coisa a mostrar”.
 
…e na transição. Também na OTC Brasil, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a petroleira espera ser líder na transição energética e está comprometida com a descarbonização, em meio à defesa da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas. 
 
Petroleira de olho em baterias no Brasil. A TotalEnergies avalia entre as opções para crescimento no Brasil a entrada em ativos de geração hidrelétrica e de baterias, segundo o diretor-geral e country chair para o Brasil, Olivier Bahabanian. O leilão de baterias previsto para 2026 é uma das oportunidades em avaliação.
 
Biodiesel integrado. A 3tentos Agroindustrial informou, em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que firmou parceria com a Ipiranga para implantar uma base de distribuição de combustíveis integrada à sua usina de biodiesel em Vera (MT).
 
Tarifa de energia. A Itaipu Binacional foi cobrada por parlamentares e entidades do setor de energia nesta terça-feira (28/10) quanto à redução da tarifa, já que, desde 2023, a usina não tem mais despesas com a dívida de sua construção.

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