NESTA EDIÇÃO. Análise do Instituto Talanoa identifica lacunas no mapa do caminho brasileiro para cortar emissões.
Aposta alta no combate ao desmatamento esbarra em resistências do agro.
E ainda: falta projeção de custos e indicativo de transição para longe dos fósseis.
EDIÇÃO APRESENTADA POR

Relatório Política Climática por Inteiro recém publicado pelo o Instituto Talanoa aponta que o Brasil irá à COP30, em novembro, com um caminho “quase” definido para mitigar suas emissões e um “enorme desafio de implementação”.
O documento analisa o Plano Clima, divulgado no final de julho pelo governo para um período de consulta pública.
Três áreas chamam a atenção: agricultura e uso da terra, energia e custos.
De acordo com o relatório, de 41 áreas de políticas públicas relacionadas ao clima, o país avançou no ano passado em 21, avançou pouco em 15, não avançou em 3, e retrocedeu em 2.
E o Plano Clima — um instrumento para nortear essas políticas — deixa algumas lacunas relevantes, especialmente quando o tema é transição para longe dos combustíveis fósseis.
“No conjunto de ações que tratam da produção e do consumo de energia, o Plano Clima projeta um aumento de até 14% das emissões de gases de efeito estufa até 2035”, alerta o relatório.
“Há pressão maior na continuidade ou aumento de queima de combustíveis fósseis na produção de energia, na indústria e nos transportes, com possibilidade de aumentarem suas emissões, respectivamente, em 44%, 34% e 16% até 2035”, observa.
Os autores também criticam a previsão de redução da renovabilidade da matriz elétrica: de 88% de participação de hidrelétricas, solar, eólica e biomassa hoje, para algo entre 82,7% e 86,1% em 2035.
Além de ignorar projeções de aumento da demanda de energia com a expansão do setor de data centers, incentivado pelo Redata.
Vale dizer que o setor elétrico hoje está enfrentando uma crise de cortes de geração em meio à instabilidades na rede — fator que serve de argumento para quem defende o papel das térmicas fósseis no mix.
Sem estimativas de custo
O mapa do caminho brasileiro é inédito e reconhecido internacionalmente por seu detalhamento. Faltou, no entanto, estimar o custo de implementação dos sete planos de mitigação.
A lacuna para adaptação às mudanças climáticas também é grande, e o Talanoa defende alinhamento dos investimentos públicos à resiliência climática.
Qualquer que seja o custo para implementar os planos setoriais, o instituto afirma que ele dificilmente superará o custo estimado para o país caso não enfrente a crise climática, que pode chegar a R$ 17 trilhões em 25 anos.
O valor considera perda do PIB se o aumento da temperatura ultrapassar 4°C em relação aos níveis pré-industriais.
“Vimos que tanto para reduzir as emissões como para promover a adaptação, não é preciso apenas reforçar investimentos na transição, é urgente alinhar o gasto público ao desafio climático”, afirma Marta Salomon, especialista sênior do Instituto Talanoa.
A grande questão do agro
Diferente de outros grandes países, no Brasil a maior parte das emissões vem do desmatamento e atividades agropecuárias, não da energia.
E é nessa área que reside a maior aposta do governo Lula (PT) para contribuir com a agenda climática global.
Plano contra o desmatamento espera reduzir e capturar 1.084 Gt CO2e na meta mais ambiciosa para 2035, sendo a maior parcela (581 milhões de toneladas de carbono) da preservação em imóveis rurais e assentamentos – tanto ilegal como o autorizado por lei.
O agro não gostou. E, sem isso, o relatório aponta que o desafio da descarbonização setorial fica ainda maior.
“A atividade agropecuária resiste em reduzir as emissões, mesmo dependendo enormemente da estabilidade do clima para produzir. A resistência em reduzir o desmatamento nos imóveis rurais, mesmo que mediante incentivos, poderá impor uma redução maior das emissões provocadas pela pecuária e pelo uso de fertilizantes”, comenta Marta.
Cobrimos por aqui
Curtas
Ofensiva contra Foz do Amazonas. Oito organizações de ambientalistas, indígenas, quilombolas e pescadores artesanais entraram na quarta-feira (22/10) com uma ação civil pública (ACP) na Justiça Federal do Pará contra o Ibama, a Petrobras e a União, pedindo anulação do licenciamento do Bloco FZAM-59, na Foz do Amazonas.
Sem impacto na COP. O presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, refutou eventual impacto da licença para explorar petróleo na Foz do Amazonas sobre as negociações climáticas em Belém. “Eu não acho que tenha que ser considerado como algo que mude coisas na COP”, disse a jornalistas nesta quinta (23/10).
Petrobras insiste em mandato para coprocessado. A presidente da petroleira, Magda Chambriard, disse em evento da CNT nesta quinta (23/10), que a companhia pretende retomar, no início do ano que vem, a discussão junto ao governo e Congresso sobre uma política pública para o seu diesel coprocessado com óleos vegetais.
Biocombustíveis rumo a Belém. Dois caminhões e dois ônibus vão percorrer um trajeto de aproximadamente 4 mil km entre Passo Fundo (RS) e Belém (PA) com o objetivo de demonstrar as vantagens ambientais de substituir o diesel fóssil por biocombustíveis. O projeto, chamado Rota Sustentável, foi idealizado por uma parceria entre a fabricante de biocombustíveis Be8 e a Mercedes-Benz.
EUA sondam terras raras brasileiras. Representantes do governo dos Estados Unidos vêm sondando governos estaduais em busca de oportunidades no setor de terras raras e minerais críticos, especialmente em Goiás, Minas Gerais e Bahia, segundo apuração da agência eixos.
- As tratativas começaram, pelo menos, desde abril e devem estar entre os temas da reunião entre Lula e Donald Trump, prevista para o próximo domingo, na Malásia, onde irão discutir a revisão da taxação.
Cooperação com a Indonésia. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), assinou, nesta quinta-feira (23/10), um memorando de entendimento com o governo da Indonésia para fortalecer a cooperação bilateral nos setores de energia e mineração. O acordo inclui petróleo e gás, energias renováveis, eficiência energética, modernização de redes elétricas e sustentabilidade mineral.
Estágio na Siemens Energy. A empresa de tecnologia está com inscrições abertas até 16 de novembro para os programas de Estágio e de Desenvolvimento de Talentos 2026. O processo de seleção é online e permite a participação de graduandos de todo o Brasil, principalmente na região de Jundiaí/SP. São mais de 90 vagas.

